Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 69<br />
fenómeno” 13 . Estas observações deveriam já chamar a nossa atenção<br />
<strong>para</strong> o facto de que, nos efeitos musicais sobre o sentimento, intervém<br />
um elemento estranho, não puramente estético. <strong>Um</strong> efeito apenas estético<br />
dirige-se à saúde plena <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> nervosa e não inclui um mais ou<br />
menos doentio dela mesma.<br />
A influência mais intensa <strong>da</strong> música sobre o sistema nervoso sadio<br />
e o seu efeito exclusivo sobre o sistema nervoso enfermo reivindicam<br />
<strong>para</strong> si, de facto, um excesso de poder em com<strong>para</strong>ção com as outras<br />
artes. Mas quando in<strong>da</strong>gamos a natureza deste excedente de poder,<br />
reconhecemos que é qualitativo, e que a quali<strong>da</strong>de peculiar se baseia<br />
em condições fisiológicas. O factor sensorial, que suporta em to<strong>da</strong> a<br />
fruição <strong>da</strong> beleza o factor espiritual, é na música maior do que nas demais<br />
artes. A música, a arte mais espiritual em virtude do seu material<br />
incorpóreo, é a mais sensorial, graças ao seu jogo de formas inobjectal,<br />
revela nesta união misteriosa de dois contrastes uma viva tendência<br />
de assimilação com os nervos, esses órgãos não menos enigmáticos do<br />
invisível serviço telegráfico entre o corpo e a alma.<br />
O efeito intensivo <strong>da</strong> música sobre a vi<strong>da</strong> nervosa é perfeitamente<br />
reconhecido como facto tanto pela psicologia como pela fisiologia. Infelizmente,<br />
não existe ain<strong>da</strong> a tal respeito uma explicação suficiente.<br />
A psicologia não consegue explorar o elemento magneticamente compulsivo<br />
<strong>da</strong> impressão que certos acordes, timbres e melodias exercem<br />
sobre todo o organismo do homem porque se trata, antes de mais, de<br />
uma excitação específica dos nervos. A ciência <strong>da</strong> fisiologia que progride<br />
triunfalmente também não trouxe nenhuma contribuição decisiva<br />
acerca do nosso problema e, na investigação <strong>da</strong> audição, costuma antes<br />
ter diante dos olhos o ruído e a ressonância em geral, e não o som<br />
utilizado na música em particular.<br />
No tocante às monografias musicais sobre este objecto híbrido, elas<br />
preferem, quase sem excepção e mediante exposições brilhantes, rodear<br />
a música de um nimbo imponente de prodigiosi<strong>da</strong>de, em vez de<br />
reduzir o nexo entre a música e nossa vi<strong>da</strong> nervosa, numa investigação<br />
13 Briefwechsel zwischen Goethe und Zelter, III tomo, p. 332<br />
www.lusosofia.net<br />
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