Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 95<br />
Os Gregos desconheciam a harmonia, mas cantavam na oitava ou<br />
em uníssono, como ain<strong>da</strong> hoje as populações asiáticas em que geralmente<br />
se não de<strong>para</strong> com o canto. O uso <strong>da</strong>s dissonâncias (a que pertenciam<br />
também a terceira e a sexta) começou, pouco a pouco, a partir<br />
do século XII e até ao século XV os desvios limitavam-se à oitava.<br />
Ca<strong>da</strong> um dos intervalos que agora estão ao serviço <strong>da</strong> nossa harmonia<br />
teve de se conseguir um a um, e muitas vezes não chegou um século<br />
<strong>para</strong> tão pequena conquista. O povo de maior cultura artística <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong>de<br />
e os compositores mais sábios do início <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média não<br />
sabiam o que sabem as nossas pastoras na montanha alpina mais remota:<br />
cantar em terceiras. Graças à harmonia, <strong>para</strong> a música não surgiu<br />
porventura uma nova luz mas, pela primeira vez, o dia. “To<strong>da</strong> a criação<br />
sonora nasceu apenas a partir dessa época.” (Nägeli).<br />
A harmonia e a melodia não existem, pois, na natureza. Só um terceiro<br />
elemento, aquele que é sustentado pelos dois primeiros, existe já<br />
antes e fora do homem: o ritmo. No galope do cavalo, no bater <strong>da</strong> ro<strong>da</strong><br />
do moinho, no canto do melro e <strong>da</strong> codorniz manifesta-se uma uni<strong>da</strong>de<br />
em que partículas de tempo sucessivas se congregam e formam<br />
um todo intuível. Muitas, embora não to<strong>da</strong>s as manifestações sonoras<br />
<strong>da</strong> natureza, são rítmicas. E impera nelas a lei do ritmo binário, como<br />
ascensão e desci<strong>da</strong>, arranque e conclusão. O que se<strong>para</strong> este ritmo natural<br />
<strong>da</strong> música humana cedo despertará a atenção. Na música, não<br />
existe um ritmo isolado como tal, mas somente melodia ou harmonia<br />
que ritmicamente se exterioriza. Na natureza, pelo contrário, o ritmo<br />
não tem nem harmonia nem melodia, mas somente vibrações de ar não<br />
mensuráveis. O ritmo, o único elemento musical primigénio na natureza,<br />
é também o primeiro a despertar no homem, porque mais cedo se<br />
desenvolve na criança, no selvagem. Quando os insulares dos mares do<br />
Sul batem ritmicamente em pe<strong>da</strong>ços de metal e de madeira e emitem ao<br />
mesmo tempo um grito incompreensível, eis a música natural, porque<br />
não é na reali<strong>da</strong>de música alguma. Mas se ouvimos cantar um camponês<br />
do Tirol, ao qual aparentemente não chegou nenhum vislumbre <strong>da</strong><br />
arte, trata-se de música inteiramente artificial. O homem julga decerto<br />
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