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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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112 Eduard Hanslick<br />

O compositor coloca o tema, como o protagonista de um romance,<br />

nas mais diversas situações e ambientes, nos mais díspares estados de<br />

ânimo e ocorrências – tudo o mais, por contrastado que seja, só em<br />

relação a tal é pensado e configurado.<br />

Designaremos, pois, como carente de conteúdo o mais livre preludiar<br />

em que o executante, descansando mais do que criando, se entrega<br />

apenas a acordes, harpejos e progressões, sem deixar surgir especificamente<br />

uma figura sonora autónoma. Tais prelúdios livres não poderão<br />

reconhecer-se nem distinguir-se como indivíduos, diremos até que não<br />

têm conteúdo (no sentido mais amplo), porque não têm nenhum tema.<br />

O tema de uma peça musical é, por conseguinte, o seu conteúdo<br />

essencial.<br />

A música consta de séries sonoras, de formas sonoras, que não têm<br />

nenhum outro conteúdo a não ser elas próprias. Lembramos, mais uma<br />

vez, a arquitectura e a <strong>da</strong>nça, que nos contrapõem igualmente sem um<br />

conteúdo determinado. Poderá ca<strong>da</strong> um, segundo a sua individuali<strong>da</strong>de,<br />

avaliar e nomear o efeito de uma peça individual, mas o seu conteúdo<br />

consiste tão-só nas formas sonoras ouvi<strong>da</strong>s, porque a música não<br />

fala apenas mediante sons, ela expressa também apenas sons.<br />

Na estética e na crítica, há muito tempo que não se põe a importância<br />

devi<strong>da</strong> no tema principal de uma composição. O simples tema<br />

já manifesta o espírito que criou a obra inteira. Quando um Beethoven<br />

inicia a abertura Leonora de um modo, ou um Mendelssohn a abertura<br />

A Gruta de Fingal de outro – qualquer músico, sem ain<strong>da</strong> conhecer uma<br />

só nota <strong>da</strong> realização ulterior, já sabe diante de que palácio se encontra.<br />

Mas ao ouvirmos um tema como o <strong>da</strong> abertura Fausto de <strong>Do</strong>nizetti<br />

ou a Louise Miller de Verdi, também não é necessário penetrar no interior<br />

<strong>para</strong> nos convencermos de que nos encontramos na taberna. Na<br />

Alemanha, a teoria e a prática atribuem um valor preponderante ao desenvolvimento<br />

musical em face do conteúdo temático. Mas o que (de<br />

um modo manifesto ou oculto) não assenta no tema não pode, mais<br />

tarde, desenvolver-se organicamente, e talvez se deva menos à arte do<br />

desenvolvimento do que à força e à fertili<strong>da</strong>de sinfónicas dos temas que<br />

www.lusosofia.net<br />

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