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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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80 Eduard Hanslick<br />

música actue neles em passiva receptivi<strong>da</strong>de, ficam enre<strong>da</strong>dos numa<br />

vaga agitação, imperceptivelmente sensível, determina<strong>da</strong> apenas pelo<br />

carácter <strong>da</strong> peça musical. O seu comportamento perante a música não<br />

é contemplativo, mas patológico; um contínuo crepúsculo, um sentir,<br />

um entusiasmar-se, um oscilar inquieto no na<strong>da</strong> sonante. Se levarmos<br />

o músico sentimental a ouvir uma série de peças musicais semelhantes,<br />

por exemplo, de carácter ruidosamente alegre, ele permanecerá sob<br />

o feitiço <strong>da</strong> mesma impressão. Só o que tais peças têm em comum,<br />

por conseguinte, o movimento do ruidosamente alegre, se assemelha<br />

ao seu sentir, ao passo que o peculiar de ca<strong>da</strong> composição, o artisticamente<br />

individual, se esquiva à sua compreensão. O ouvinte musical<br />

procederá de modo inverso. A peculiar configuração artística de uma<br />

composição, aquilo que entre uma dúzia de outras de efeito similar lhe<br />

imprime o selo de obra de arte autónoma, apossa-se de tal modo <strong>da</strong><br />

sua atenção que atribui apenas escasso peso à sua idêntica ou diferente<br />

expressão sentimental. A percepção isola<strong>da</strong> de um conteúdo sentimental<br />

abstracto, em vez do concreto fenómeno artístico, é em semelhante<br />

educação <strong>da</strong> música inteiramente peculiar. Só o poder de uma iluminação<br />

particular se lhe afigura, não raro, análogo, quando ela afecta<br />

tantos que ele já não consegue <strong>da</strong>r-se conta <strong>da</strong> própria paisagem ilumina<strong>da</strong>.<br />

<strong>Um</strong>a sensação total imotiva<strong>da</strong> e, por isso, tanto mais penetrante<br />

absorve-se sem discriminação 20 .<br />

Aninhados e semidespertos no seu sofá, aqueles entusiastas deixamse<br />

levar e embalar pelas vibrações dos sons, em vez de os examinarem<br />

20 O duque enamorado na Twelfth night de Shakespeare é uma personificação poética<br />

de tal audição <strong>da</strong> música. Diz ele:<br />

“If music be the fond of love, play on.<br />

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _<br />

O, it came o’er my ear like the sweet south,<br />

That breathes upon a bank of violets<br />

Stealing and giving odour.”<br />

E, em segui<strong>da</strong>, no II Acto, exclama:<br />

“Give me some music now, _ _<br />

Me thought it did revive my passion much”, etc.<br />

www.lusosofia.net<br />

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