20.04.2013 Views

Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

✐<br />

✐<br />

✐<br />

✐<br />

106 Eduard Hanslick<br />

se proferem aos pares, embora uma frase não correspon<strong>da</strong> a outra, na<strong>da</strong><br />

se refuta nem demonstra. Não se trata aqui de nenhum ponto de honra,<br />

nem de uma insígnia de partido, mas apenas do reconhecimento <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de<br />

e, <strong>para</strong> a esta chegar, importa sobretudo estar eluci<strong>da</strong>do acerca dos<br />

conceitos que se contestam.<br />

A confusão dos conceitos de conteúdo, objecto, tema [material]<br />

é que causou e continua ain<strong>da</strong> a suscitar nesta matéria tanta falta de<br />

clari<strong>da</strong>de, já que ca<strong>da</strong> qual emprega uma designação diferente <strong>para</strong> o<br />

mesmo conceito, ou associa à mesma palavra uma representação diversa.<br />

“Conteúdo”, no sentido originário e genuíno, é o que uma coisa<br />

contém, em si conserva. Nesta acepção, os sons de que consta uma<br />

obra musical e que, como partes suas, a configuram num todo, são o<br />

seu conteúdo. Que ninguém se contente com esta resposta e a dispense<br />

como algo de todo evidente deve-se à confusão comum entre “conteúdo”<br />

e “objecto”. Ao perguntar-se pelo “conteúdo <strong>da</strong> música”, temse<br />

em mente a representação do “objecto” (tema, sujeito) que, enquanto<br />

ideia, ideal, se contrapõe justamente aos sons como “componentes materiais”.<br />

A arte dos sons, de facto, não tem um conteúdo neste sentido,<br />

um tema na acepção do objecto tratado. Kahlert sublinha, com razão,<br />

que não se pode fornecer uma “descrição verbal” (Aesth., 380) <strong>da</strong> música<br />

como de um quadro, embora seja errónea a sua ulterior suposição<br />

de que semelhante descrição verbal pode alguma vez oferecer um “remédio<br />

<strong>para</strong> a inexistente fruição <strong>da</strong> arte”. Mas consegue oferecer uma<br />

explicação eluci<strong>da</strong>tiva <strong>da</strong>quilo de que se trata. A pergunta pelo “quê”<br />

do conteúdo musical deveria receber necessariamente uma resposta em<br />

palavras, se a obra musical tivesse de facto um “conteúdo” (um objecto).<br />

"Conteúdo indefinido", que “ca<strong>da</strong> qual pode por si imaginar<br />

como inteiramente diverso”, que “se deixa apenas sentir e não reproduzir<br />

em palavras”, não é conteúdo algum na acepção menciona<strong>da</strong>.<br />

A música consta de séries de sons, de formas sonoras que não têm<br />

nenhum outro conteúdo além de si mesmas. Recor<strong>da</strong>mos de novo a<br />

arquitectura e a <strong>da</strong>nça, que nos ofertam igualmente belas situações sem<br />

conteúdo determinado. Embora ca<strong>da</strong> qual possa avaliar e nomear o<br />

www.lusosofia.net<br />

✐<br />

✐<br />

✐<br />

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!