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Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia

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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 47<br />

Mas quando se in<strong>da</strong>ga a causa determinante mais próxima – e é o<br />

que em especial importa na arte –, o efeito passional de um tema não se<br />

deve à dor pretensamente excessiva do compositor, mas aos seus intervalos<br />

desmedidos, não radica no tremor <strong>da</strong> sua alma, mas no trémulo<br />

dos timbales, não na sua nostalgia, mas no cromatismo. Não se deve<br />

ignorar de modo algum a conexão de ambos, pelo contrário, há que<br />

considerá-la logo com maior pormenor; há-de afirmar-se, porém, que<br />

à investigação científica sobre o efeito de um tema só estão imutável<br />

e objectivamente patentes aqueles factores musicais, nunca a pretensa<br />

disposição de ânimo que se apossava do compositor. Se inferirmos directamente<br />

desta <strong>para</strong> o efeito <strong>da</strong> obra, ou se explicarmos esta a partir<br />

<strong>da</strong>quela, a conclusão pode talvez resultar correcta, mas saltou-se por<br />

cima do termo médio mais importante <strong>da</strong> dedução, a saber, a própria<br />

música.<br />

O compositor eficiente tem o conhecimento prático do carácter de<br />

ca<strong>da</strong> elemento musical, quer seja de um modo mais instintivo quer mais<br />

consciente. Mas a explicação científica dos diversos efeitos e impressões<br />

musicais exige um conhecimento teórico dos mencionados caracteres<br />

e <strong>da</strong> sua riquíssima combinação até ao último elemento discriminável.<br />

A impressão defini<strong>da</strong> com que uma melodia obtém poder sobre<br />

nós não é apenas um "milagre misterioso, enigmático", que só podemos<br />

"sentir e suspeitar", mas a consequência indefectível de factores<br />

musicais que actuam nessa combinação defini<strong>da</strong>. <strong>Um</strong> ritmo conciso ou<br />

amplo, uma progressão diatónica ou cromática – tudo tem a sua fisionomia<br />

característica e o seu modo particular de nos impressionar; por<br />

isso, o músico culto terá uma concepção incom<strong>para</strong>velmente mais clara<br />

<strong>da</strong> expressão de uma obra que lhe é estranha, de que há nela demasiados<br />

acordes de sétima diminuta e trémulos, e não a descrição poética<br />

<strong>da</strong>s crises sentimentais por que o relator passou.<br />

A in<strong>da</strong>gação <strong>da</strong> natureza de ca<strong>da</strong> elemento musical singular, <strong>da</strong> sua<br />

relação com uma impressão determina<strong>da</strong> (– só o facto, e não o fun<strong>da</strong>mento<br />

último –), por fim, a redução destas observações especiais a<br />

leis gerais: tal seria a "fun<strong>da</strong>mentação filosófica <strong>da</strong> música"que tantos<br />

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