Do Belo Musical. Um Contributo para a Revisão da ... - LusoSofia
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<strong>Do</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Musical</strong> 41<br />
e reforço; move-as a ambas concerta<strong>da</strong>mente o ritmo, a artéria <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
musical e dá-lhes colorido o encanto de múltiplos timbres.<br />
Se agora se perguntar o que se há-de expressar com este material<br />
sonoro, a resposta reza assim: ideias musicais. Mas uma ideia musical<br />
trazi<strong>da</strong> inteiramente à manifestação é já um belo autónomo, é fim em si<br />
mesmo, e de nenhum modo apenas meio ou material <strong>para</strong> a representação<br />
de sentimentos e pensamentos, embora possa possuir em alto grau<br />
aquela sugestivi<strong>da</strong>de simbólica, reflectora <strong>da</strong>s grandes leis cósmicas,<br />
com que de<strong>para</strong>mos em todo o belo artístico.<br />
O único e exclusivo conteúdo e objecto <strong>da</strong> música são formas sonoras<br />
em movimento.<br />
O modo como a música nos pode proporcionar formas belas sem o<br />
conteúdo de um afecto determinado mostra-no-lo incisivamente já um<br />
dos ramos <strong>da</strong> ornamentação nas artes plásticas: o arabesco. Vemos<br />
linhas ondulantes, inclinando-se aqui suavemente, elevando-se além<br />
atrevi<strong>da</strong>s, encontrando-se e se<strong>para</strong>ndo-se, correspondendo-se em arcos<br />
grandes ou pequenos, aparentemente incomensuráveis, mas sempre<br />
bem articulados, sau<strong>da</strong>ndo em to<strong>da</strong> a parte uma peça frontal ou<br />
lateral, uma colecção de pequenos pormenores e, no entanto, uma totali<strong>da</strong>de.<br />
Imaginemos agora um arabesco, não inanimado e estático, mas<br />
surgindo aos nossos olhos em contínua autoformação. Como surpreendem<br />
sempre de novo o olho as linhas grossas e finas que se perseguem,<br />
se elevam de uma pequena curvatura a magnificente altura, recaindo<br />
em segui<strong>da</strong>, ampliando-se, contraindo-se em engenhosa alternância de<br />
repouso e tensão! A imagem torna-se já então mais alta e digna. Imaginemos<br />
sobretudo este arabesco vivo como eflúvio activo de um espírito<br />
artístico, que verte incessantemente to<strong>da</strong> a plenitude <strong>da</strong> sua fantasia nas<br />
veias deste movimento: não se aproximará muito esta impressão <strong>da</strong> que<br />
é própria <strong>da</strong> música?<br />
Ca<strong>da</strong> um de nós, como criança, ter-se-á deleitado no variável jogo<br />
de cores e formas de um caleidoscópio. A música é esse caleidoscópio,<br />
mas a um nível de manifestação infinitamente mais elevado. Produz<br />
formas e cores belas em constante e progressiva alternância, ora em<br />
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