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Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

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noutra conexão, contou-me a seguinte história.<br />

Vivia em Munique uma adivinha que gozava <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> reputação. Os príncipes bávaros<br />

costumavam visitá-la quan<strong>do</strong> tinham algum empreendimento em mente. Tu<strong>do</strong> o que ela pedia<br />

era que lhe fornecessem uma data. (Deixei <strong>de</strong> indagar se esta tinha <strong>de</strong> incluir a data <strong>do</strong> ano).<br />

Entendia-se que a data era a <strong>do</strong> nascimento <strong>de</strong> alguma pessoa específica, mas ela não<br />

perguntava <strong>de</strong> quem. Fornecida essa data, consultaria seus livros <strong>de</strong> astrologia sobre a pessoa<br />

em questão. No mês <strong>de</strong> março anterior, meu paciente resolvera visitar a adivinha. Apresentou-<br />

lhe a data <strong>do</strong> nascimento <strong>do</strong> cunha<strong>do</strong>, sem, naturalmente, mencionar seu nome ou revelar o fato<br />

<strong>de</strong> que o tinha em mente. O oráculo assim manifestou-se: ‘A pessoa em causa morrerá no<br />

próximo julho ou agosto, <strong>de</strong> envenenamento por lagosta ou ostras.’ Após contar-me isso, meu<br />

paciente exclamou: ‘Foi maravilhoso!’<br />

Não pu<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r e contradisse-o energicamente: ‘O que vê nisso <strong>de</strong> maravilhoso?<br />

Você está trabalhan<strong>do</strong> comigo já faz diversas semanas e se seu cunha<strong>do</strong> houvesse realmente<br />

morri<strong>do</strong>, já me teria conta<strong>do</strong> há muito tempo atrás. Logo, ele <strong>de</strong>ve estar vivo. A profecia foi feita<br />

em março e <strong>de</strong>veria realizar-se pelo auge <strong>do</strong> verão. Agora estamos em novembro, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que<br />

ela não se realizou. O que acha você <strong>de</strong> tão maravilhoso nisso?’<br />

‘Não há dúvida <strong>de</strong> que ela não se realizou’, respon<strong>de</strong>u ele. ‘Mas o notável a respeito é o<br />

seguinte: meu cunha<strong>do</strong> gosta apaixonadamente <strong>de</strong> lagostins, ostras etc., e, em agosto passa<strong>do</strong>,<br />

teve realmente uma crise <strong>de</strong> envenenamento por lagostim e quase morreu.’ O assunto não foi<br />

mais discuti<strong>do</strong>.<br />

Consi<strong>de</strong>remos agora o caso.<br />

Acredito na veracida<strong>de</strong> <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r. É inteiramente digno <strong>de</strong> confiança, sen<strong>do</strong><br />

atualmente professor <strong>de</strong> filosofia em K -. Não consigo imaginar motivos que pu<strong>de</strong>ssem havê-lo<br />

induzi<strong>do</strong> a me enganar. A história foi inci<strong>de</strong>ntal e não serviu a intuitos posteriores; nada mais<br />

surgiu, nem <strong>de</strong>la se tiraram conclusões. Não era sua intenção persuadir-me da existência <strong>de</strong><br />

fenômenos mentais ocultos e, na verda<strong>de</strong>, tenho a impressão <strong>de</strong> que não estava em absoluto<br />

esclareci<strong>do</strong> sobre o significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua experiência. Eu próprio fiquei tão impressiona<strong>do</strong> - para<br />

falar a verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sagradavelmente afeta<strong>do</strong> - que omiti fazer qualquer emprego analítico <strong>de</strong> seu<br />

relato.<br />

E a observação me parece igualmente inobjetável, <strong>de</strong> outro ponto <strong>de</strong> vista. É certo que a<br />

adivinha não conhecia o homem que apresentou a questão. Mas consi<strong>de</strong>re-se que grau <strong>de</strong><br />

intimida<strong>de</strong> com alguém conheci<strong>do</strong> seria necessário, antes que se pu<strong>de</strong>sse i<strong>de</strong>ntificar a data <strong>do</strong><br />

aniversário <strong>de</strong> seu cunha<strong>do</strong>. Por outro la<strong>do</strong>, sem dúvida to<strong>do</strong>s concordarão comigo em oferecer<br />

a mais obstinada resistência à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se inferir da data <strong>do</strong> nascimento <strong>do</strong> sujeito pelo<br />

auxílio <strong>de</strong> quaisquer tábuas ou fórmulas um acontecimento tão pormenoriza<strong>do</strong> como cair <strong>do</strong>ente<br />

<strong>de</strong> envenenamento por lagostim. Não se esqueçam <strong>de</strong> quantas pessoas nascem no mesmo dia.<br />

Será crível que a semelhança <strong>do</strong>s futuros <strong>de</strong> pessoas nascidas no mesmo dia possa ser levada

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