14.06.2013 Views

Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Breuer e Freud <strong>de</strong>clararam em 1893 que ‘os histéricos sofrem principalmente <strong>de</strong> reminiscências’.<br />

Nas neuroses <strong>de</strong> guerra também, observa<strong>do</strong>res como Ferenczi e Simmel pu<strong>de</strong>ram explicar<br />

certos sintomas motores pela fixação no momento em que o trauma ocorreu.<br />

Não é <strong>de</strong> meu conhecimento, contu<strong>do</strong>, que pessoas que sofrem <strong>de</strong> neurose traumática<br />

estejam muito ocupadas, em suas vidas <strong>de</strong>spertas, com lembranças <strong>de</strong> seu aci<strong>de</strong>nte. Talvez<br />

estejam mais interessadas em não pensar nele. Qualquer um que aceite, como algo por si<br />

mesmo evi<strong>de</strong>nte, que os sonhos <strong>de</strong>las <strong>de</strong>vam à noite fazê-las voltar à situação que as fez cair<br />

<strong>do</strong>entes, compreen<strong>de</strong>u mal a natureza <strong>do</strong>s sonhos. Estaria mais em harmonia com a natureza<br />

<strong>de</strong>stes, se mostrassem ao paciente quadros <strong>de</strong> seu passa<strong>do</strong> sadio ou da cura pela qual<br />

esperam. Se não quisermos que os sonhos <strong>do</strong>s neuróticos traumáticos abalem nossa crença no<br />

teor realiza<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos <strong>do</strong>s sonhos, teremos ainda aberta a nós uma saída: po<strong>de</strong>mos<br />

argumentar que a função <strong>de</strong> sonhar, tal como muitas pessoas, nessa condição está perturbada e<br />

afastada <strong>de</strong> seus propósitos, ou po<strong>de</strong>mos ser leva<strong>do</strong>s a refletir sobre as misteriosas tendências<br />

masoquistas <strong>do</strong> ego.<br />

Nesse ponto, proponho aban<strong>do</strong>narmos o obscuro e melancólico tema da neurose<br />

traumática, e passar a examinar o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> funcionamento emprega<strong>do</strong> pelo aparelho mental<br />

em uma <strong>de</strong> suas primeiras ativida<strong>de</strong>s normais; quero referir-me à brinca<strong>de</strong>ira das crianças.<br />

As diferentes teorias sobre a brinca<strong>de</strong>ira das crianças foram ainda recentemente<br />

resumidas e discutidas <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista psicanalítico por Pfeifer (1919), a cujo artigo remeto<br />

meus leitores. Essas teorias esforçam-se por <strong>de</strong>scobrir os motivos que levam as crianças a<br />

brincar, mas <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> trazer para o primeiro plano o motivo econômico, a consi<strong>de</strong>ração da<br />

produção <strong>de</strong> <strong>prazer</strong> envolvida. Sem querer incluir to<strong>do</strong> o campo abrangi<strong>do</strong> por esses fenômenos,<br />

pu<strong>de</strong>, através <strong>de</strong> uma oportunida<strong>de</strong> fortuita que se me apresentou, lançar certa luz sobre a<br />

primeira brinca<strong>de</strong>ira efetuada por um menininho <strong>de</strong> ano e meio <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e inventada por ele<br />

próprio. Foi mais <strong>do</strong> que uma simples observação passageira, porque vivi sob o mesmo teto que<br />

a criança e seus pais durante algumas semanas, e foi algum tempo antes que <strong>de</strong>scobri o<br />

significa<strong>do</strong> da enigmática ativida<strong>de</strong> que ele constantemente repetia.<br />

A criança <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> algum era precoce em seu <strong>de</strong>senvolvimento intelectual. À ida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ano e meio podia dizer apenas algumas palavras compreensíveis e utilizava também uma série<br />

<strong>de</strong> sons que expressavam um significa<strong>do</strong> inteligível para aqueles que a ro<strong>de</strong>avam. Achava-se,<br />

contu<strong>do</strong>, em bons termos com os pais e sua única empregada, e tributos eram-lhe presta<strong>do</strong>s por<br />

ser um ‘bom menino’. Não incomodava os pais à noite, obe<strong>de</strong>cia conscientemente às or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong><br />

não tocar em certas coisas, ou <strong>de</strong> não entrar em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s cômo<strong>do</strong>s e, acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, nunca<br />

chorava quan<strong>do</strong> sua mãe o <strong>de</strong>ixava por algumas horas. Ao mesmo tempo, era bastante liga<strong>do</strong> à<br />

mãe, que tinha não apenas <strong>de</strong> alimentá-lo, como também cuidava <strong>de</strong>le sem qualquer ajuda<br />

externa. Esse bom menininho, contu<strong>do</strong>, tinha o hábito ocasional e perturba<strong>do</strong>r <strong>de</strong> apanhar<br />

quaisquer objetos que pu<strong>de</strong>sse agarrar e atirá-los longe para um canto, sob a cama, <strong>de</strong> maneira

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!