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Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

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escoa<strong>do</strong>uro para si na crise <strong>de</strong> ciúmes.<br />

Essas crises hauriam seu material <strong>de</strong> sua observação <strong>de</strong> indicações insignificantes, pela<br />

quais a coqueteria inteiramente inconsciente <strong>de</strong> sua esposa, inobservável por mais ninguém, se<br />

traíra para ele. Ela tocara, sem intencionalida<strong>de</strong>, com a mão o homem senta<strong>do</strong> próximo a ela;<br />

voltara-se <strong>de</strong>mais para ele ou sorrira <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> mais agradável <strong>do</strong> que quan<strong>do</strong> se achava só com<br />

o mari<strong>do</strong>. Era extraordinariamente observa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> todas essas manifestações <strong>do</strong> inconsciente<br />

<strong>de</strong>la e sempre sabia como interpretá-las corretamente, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que realmente estava com a<br />

razão a respeito e podia, além disso, invocar a análise para justificar seu ciúme. Sua<br />

anormalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fato se reduzia a isso, em vigiar bem mais <strong>de</strong> perto a mente inconsciente <strong>de</strong><br />

sua esposa e, <strong>de</strong>pois, encará-la como muito mais importante <strong>do</strong> que outra pessoa teria pensa<strong>do</strong><br />

fazer.<br />

Recordamo-nos <strong>de</strong> que os que sofrem <strong>de</strong> paranóia persecutória agem exatamente da<br />

mesma maneira. Eles, também, não po<strong>de</strong>m encarar nada em outras pessoas como indiferente e<br />

tomam indicações insignificantes que essas outras pessoas <strong>de</strong>sconhecidas lhes apresentam e<br />

as utilizam em seus <strong>de</strong>lírios <strong>de</strong> referência. O significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>lírio <strong>de</strong> referência é que<br />

esperam <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os estranhos algo semelhante ao amor. No entanto essas pessoas não lhes<br />

<strong>de</strong>monstram nada <strong>de</strong>sse tipo; riem consigo próprias, fazem floreios com as bengalas e até<br />

mesmo cospem no chão enquanto passam; e, na realida<strong>de</strong>, tais coisas não se fazem quan<strong>do</strong><br />

uma pessoa em que se tem um interesse amigável se acha perto. A não ser quan<strong>do</strong> nos<br />

sentimos inteiramente indiferentes ao passante, quan<strong>do</strong> se po<strong>de</strong> tratá-lo como se fosse ar e,<br />

consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> também o parentesco fundamental <strong>do</strong>s conceitos <strong>de</strong> ‘estranho’ e ‘inimigo’, o<br />

paranóico não se acha tão erra<strong>do</strong> em consi<strong>de</strong>rar essa indiferença como ódio, em contraste com<br />

sua reivindicação <strong>de</strong> amor.<br />

Começamos a perceber que <strong>de</strong>screvemos o comportamento tanto <strong>do</strong>s paranóicos<br />

ciumentos quanto <strong>do</strong>s persecutórios muito ina<strong>de</strong>quadamente, ao dizer que projetam<br />

exteriormente para os <strong>outros</strong> o que não <strong>de</strong>sejam reconhecer em si próprios. Certamente o<br />

fazem, mas não o projetam, por assim dizer, no vazio, on<strong>de</strong> já não existe algo <strong>de</strong>ssa espécie.<br />

Deixam-se guiar por seu conhecimento <strong>do</strong> inconsciente e <strong>de</strong>slocam para as mentes<br />

inconscientes <strong>do</strong>s <strong>outros</strong> a atenção que afastaram da sua própria. O nosso ciumento mari<strong>do</strong><br />

percebia as infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>s da esposa, em vez das suas; tornan<strong>do</strong>-se consciente das infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>la e amplifican<strong>do</strong>-as enormemente, conseguia manter as suas inconscientes. Se aceitamos<br />

seu exemplo como típico, po<strong>de</strong>mos inferir que a amiza<strong>de</strong> vista nos <strong>outros</strong> pelo paranóico<br />

persegui<strong>do</strong> é o reflexo <strong>de</strong> seus próprios impulsos hostis contra eles. Saben<strong>do</strong> que, no paranóico,<br />

é exatamente a pessoa mais amada <strong>de</strong> seu próprio sexo que se torna seu persegui<strong>do</strong>r, surge a<br />

questão <strong>de</strong> saber on<strong>de</strong> essa inversão <strong>de</strong> afeto se origina. Não se precisa ir longe para buscar a<br />

resposta: a sempre presente ambivalência <strong>de</strong> sentimento fornece-lhe a fonte e a não-realização<br />

<strong>de</strong> sua reivindicação <strong>de</strong> amor a fortalece. Essa ambivalência serve assim, para o paranóico, ao

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