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Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

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que, quan<strong>do</strong> pessoas <strong>de</strong>sfamiliarizadas com a análise sentem um me<strong>do</strong> obscuro, um temor <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spertar algo que, segun<strong>do</strong> pensam, é melhor <strong>de</strong>ixar a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>, aquilo <strong>de</strong> que no fun<strong>do</strong> têm<br />

me<strong>do</strong>, é <strong>do</strong> surgimento <strong>de</strong>ssa compulsão com sua sugestão <strong>de</strong> posse por algum po<strong>de</strong>r<br />

‘<strong>de</strong>moníaco’.<br />

Mas como o predica<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser ‘instintual’ se relaciona com a compulsão à repetição?<br />

Nesse ponto, não po<strong>de</strong>mos fugir à suspeita <strong>de</strong> que <strong>de</strong>paramos com a trilha <strong>de</strong> um atributo<br />

universal <strong>do</strong>s instintos e talvez da vida orgânica em geral que até o presente não foi claramente<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> ou, pelo menos, não explicitamente acentua<strong>do</strong>. Parece, então que um instinto é um<br />

impulso, inerente à vida orgânica, a restaurar um esta<strong>do</strong> anterior <strong>de</strong> coisas, impulso que a<br />

entida<strong>de</strong> viva foi obrigada a aban<strong>do</strong>nar sob a pressão <strong>de</strong> forças perturba<strong>do</strong>ras externas, ou seja,<br />

é uma espécie <strong>de</strong> elasticida<strong>de</strong> orgânica, ou, para dizê-lo <strong>de</strong> outro mo<strong>do</strong>, a expressão da inércia<br />

inerente à vida orgânica.<br />

Essa visão <strong>do</strong>s instintos nos impressiona como estranha porque nos acostumamos a ver<br />

neles um fator impeli<strong>do</strong>r no senti<strong>do</strong> da mudança e <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, ao passo que agora nos<br />

pe<strong>de</strong>m para reconhecer neles o exato oposto, isto é, uma expressão da natureza conserva<strong>do</strong>ra<br />

da substância viva. Por outro la<strong>do</strong>, logo relembraremos exemplos tira<strong>do</strong>s a vida animal que<br />

parecem confirmar a opinião <strong>de</strong> que os instintos são historicamente <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s. Certos<br />

peixes, por exemplo, empreen<strong>de</strong>m laboriosas migrações na época da <strong>de</strong>sova, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>positar<br />

sua progênie em águas específicas, muito afastadas <strong>de</strong> suas regiões costumeiras. Na opinião <strong>de</strong><br />

muitos biólogos, o que fazem é simplesmente procurar as localida<strong>de</strong>s que suas espécies<br />

antigamente habitavam, mas que, no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> tempo, trocaram por outras. Acredita-se que a<br />

mesma explicação se aplique aos vôos migratórios das aves <strong>de</strong> arribação, mas somos<br />

rapidamente libera<strong>do</strong>s da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar <strong>outros</strong> exemplos pela reflexão <strong>de</strong> que as mais<br />

impressivas provas <strong>de</strong> que há uma compulsão orgânica a repetir estão nos fenômenos da<br />

hereditarieda<strong>de</strong> e nos fatos da embriologia. Vemos como o germe <strong>de</strong> um animal vivo é obriga<strong>do</strong>,<br />

no curso <strong>de</strong> sua evolução, a recapitular (mesmo se <strong>de</strong> maneira transitória e abreviada) as<br />

estruturas <strong>de</strong> todas as formas das quais se originou, em vez <strong>de</strong> avançar rapidamente, pela via<br />

mais curta, até sua forma final. Esse comportamento é, apenas em grau muito tênue, atribuível a<br />

causas mecânicas, e, por conseguinte, a explicação histórica não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sprezada. Assim<br />

também o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> regenerar um órgão perdi<strong>do</strong>, fazen<strong>do</strong> crescer <strong>de</strong> novo um outro exatamente<br />

semelhante, esten<strong>de</strong>-se bem acima <strong>do</strong> reino animal.<br />

Apresentar-se-nos-á a plausível objeção <strong>de</strong> que bem po<strong>de</strong> ser que, além <strong>do</strong>s instintos <strong>de</strong><br />

conservação que impelem à repetição, po<strong>de</strong>rão existir <strong>outros</strong> que impulsionam no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

progresso e da produção <strong>de</strong> nova formas. Esse argumento <strong>de</strong>certo não <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>spreza<strong>do</strong> e<br />

será leva<strong>do</strong> em conta numa etapa posterior. No momento, porém, é tenta<strong>do</strong>r perseguir até sua<br />

conclusão lógica a hipótese <strong>de</strong> que to<strong>do</strong>s os instintos ten<strong>de</strong>m à restauração <strong>de</strong> um esta<strong>do</strong><br />

anterior <strong>de</strong> coisas. O resulta<strong>do</strong> talvez dê a impressão <strong>de</strong> misticismo ou <strong>de</strong> falsa profundida<strong>de</strong>,

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