Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp
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já uma manifestação <strong>do</strong> instinto, no entanto sugere mais facilmente uma outra interpretação. O<br />
me<strong>do</strong> relaciona-se à mãe da criança e, posteriormente, a outras pessoas familiares, sen<strong>do</strong> a<br />
expressão <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo irrealiza<strong>do</strong>, que a criança ainda não sabe tratar <strong>de</strong> outra maneira,<br />
exceto transforman<strong>do</strong>-o em ansieda<strong>de</strong>. O me<strong>do</strong> da criança, quan<strong>do</strong> está sozinha, tampouco é<br />
apazigua<strong>do</strong> pela visão <strong>de</strong> qualquer fortuito ‘membro da grei’; pelo contrário, é cria<strong>do</strong> pela<br />
aproximação <strong>de</strong> um ‘estranho’ <strong>de</strong>sse tipo. Assim, durante longo tempo nada na natureza <strong>de</strong> um<br />
instinto gregário ou sentimento <strong>de</strong> <strong>grupo</strong> po<strong>de</strong> ser observa<strong>do</strong> nas crianças. Algo semelhante a<br />
ele primeiro se <strong>de</strong>senvolve, num quarto <strong>de</strong> crianças com muitas crianças, fora das relações <strong>do</strong>s<br />
filhos com os pais, e assim suce<strong>de</strong> como uma reação à inveja inicial com que a criança mais<br />
velha recebe a mais nova. O filho mais velho certamente gostaria <strong>de</strong> ciumentamente pôr <strong>de</strong> la<strong>do</strong><br />
seu sucessor, mantê-lo afasta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s pais e <strong>de</strong>spojá-lo <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os seus privilégios; mas, à vista<br />
<strong>de</strong> essa criança mais nova (como todas as que virão <strong>de</strong>pois) ser amada pelos pais tanto quanto<br />
ele próprio, e em conseqüência da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter sua atitu<strong>de</strong> hostil sem prejudicar-<br />
se a si próprio, aquele é força<strong>do</strong> a i<strong>de</strong>ntificar-se com as outras crianças. Assim, no <strong>grupo</strong> <strong>de</strong><br />
crianças <strong>de</strong>senvolve-se um sentimento comunal ou <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>, que é ainda mais <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> na<br />
escola. A primeira exigência feita por essa formação reativa é <strong>de</strong> justiça, <strong>de</strong> tratamento igual<br />
para to<strong>do</strong>s. To<strong>do</strong>s sabemos <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> rui<strong>do</strong>so e implacável como essa reivindicação é<br />
apresentada na escola. Se nós mesmos não po<strong>de</strong>mos ser os favoritos, pelo menos ninguém<br />
mais o será. Essa transformação, ou seja, a substituição <strong>do</strong> ciúme por um sentimento grupal no<br />
quarto das crianças e na sala <strong>de</strong> aula, po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>rada improvável, se mais tar<strong>de</strong> o<br />
mesmo processo não pu<strong>de</strong>sse ser <strong>de</strong> novo observa<strong>do</strong> em outras circunstâncias. Basta-nos<br />
pensar no <strong>grupo</strong> <strong>de</strong> mulheres e moças, todas elas apaixonadas <strong>de</strong> forma entusiasticamente<br />
sentimental, que se aglomeram em torno <strong>de</strong> um cantor ou pianista após a sua apresentação.<br />
Certamente seria fácil para cada uma <strong>de</strong>las ter ciúmes das outras; porém, diante <strong>de</strong> seu número<br />
e da conseqüente impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alcançarem o objetivo <strong>de</strong> seu amor, renunciam a ele e, em<br />
vez <strong>de</strong> uma puxar os cabelos da outra, atuam como um <strong>grupo</strong> uni<strong>do</strong>, prestam homenagem ao<br />
herói da ocasião com suas ações comuns e provavelmente ficariam contentes em ficar com um<br />
pedaço das esvoaçantes ma<strong>de</strong>ixas <strong>de</strong>le. Originariamente rivais, conseguiram i<strong>de</strong>ntificar-se umas<br />
com as outras por meio <strong>de</strong> um amor semelhante pelo mesmo objeto. Quan<strong>do</strong>, como <strong>de</strong> hábito,<br />
uma situação instintual é capaz <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s diversos, não nos surpreen<strong>de</strong>rá que o resulta<strong>do</strong><br />
real seja algum que traga consigo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma certa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> satisfação, ao<br />
passo que um outro resulta<strong>do</strong>, mais óbvio em si, seja <strong>de</strong>spreza<strong>do</strong>, já que as circunstâncias da<br />
vida impe<strong>de</strong>m que ele conduza àquela satisfação.<br />
O que posteriormente aparece na socieda<strong>de</strong> sob a forma <strong>de</strong> Gemeingeist, esprit <strong>de</strong><br />
corps, ‘espírito <strong>de</strong> <strong>grupo</strong>’ etc. não <strong>de</strong>smente a sua <strong>de</strong>rivação <strong>do</strong> que foi originalmente inveja.<br />
Ninguém <strong>de</strong>ve querer salientar-se, to<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vem ser o mesmo e ter o mesmo. A justiça social<br />
significa que nos negamos muitas coisas a fim <strong>de</strong> que os <strong>outros</strong> tenham <strong>de</strong> passar sem elas,