Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp
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torno da outra, ansiosas por fundir-se.’<br />
Seguiremos a sugestão que nos foi oferecida pelo poeta-filósofo e aventurar-nos-emos pela<br />
hipótese <strong>de</strong> que a substância viva, por ocasião <strong>de</strong> sua animação, foi dividida em pequenas<br />
partículas, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então se esforçaram por reunir-se através <strong>do</strong>s instintos sexuais? De que<br />
esses instintos, nos quais a afinida<strong>de</strong> química da matéria inanimada persistiu, gradualmente<br />
conseguiram, à medida que evoluíam pelo reino <strong>do</strong>s protistas, sobrepujar as dificulda<strong>de</strong>s<br />
colocadas no caminho <strong>de</strong>sse esforço por um ambiente carrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> estímulos perigosos,<br />
estímulos que os compeliram a formar uma camada cortical protetora? De que esses fragmentos<br />
estilhaça<strong>do</strong>s <strong>de</strong> substância viva atingiram <strong>de</strong>ssa maneira uma condição multicelular e finalmente<br />
transferiram o instinto <strong>de</strong> reunião, sob a forma mais altamente concentrada, para as células<br />
germinais? - Mas aqui, acho eu, chegou o momento <strong>de</strong> interromper-nos.<br />
Não, contu<strong>do</strong>, sem o acréscimo <strong>de</strong> algumas palavras <strong>de</strong> reflexão crítica. Po<strong>de</strong>-se<br />
perguntar se, e até on<strong>de</strong>, eu próprio me acho convenci<strong>do</strong> da verda<strong>de</strong> das hipóteses que foram<br />
formuladas nestas páginas. Minha resposta seria que eu próprio não me acho convenci<strong>do</strong> e que<br />
não procuro persuadir outras pessoas a nelas acreditar, ou, mais precisamente, que não sei até<br />
on<strong>de</strong> nelas acredito. Não há razão, segun<strong>do</strong> me parece, para que o fator emocional da<br />
convicção tenha, <strong>de</strong> algum mo<strong>do</strong>, <strong>de</strong> entrar nessa questão. É certamente possível que nos<br />
lancemos por uma linha <strong>de</strong> pensamento e que a sigamos aon<strong>de</strong> quer que ela leve, por simples<br />
curiosida<strong>de</strong> científica, ou, se o leitor preferir, como um advocatus diaboli, que não se acha, por<br />
essa razão, vendi<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>mônio. Não discuto o fato <strong>de</strong> que o terceiro passo pela teoria <strong>do</strong>s<br />
instintos, por mim da<strong>do</strong> aqui, não po<strong>de</strong> reivindicar o mesmo grau <strong>de</strong> certeza que os <strong>do</strong>is<br />
primeiros: a extensão <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> sexualida<strong>de</strong> e a hipótese <strong>do</strong> narcisismo. Essas duas<br />
novida<strong>de</strong>s foram uma tradução direta da observação para a teoria e não se achavam mais<br />
abertas a fontes <strong>de</strong> erro <strong>do</strong> que é inevitável em to<strong>do</strong>s os casos assim. É verda<strong>de</strong> que minha<br />
afirmativa <strong>do</strong> caráter regressivo <strong>do</strong>s instintos também se apóia em material observa<strong>do</strong>, ou seja,<br />
nos fatos da compulsão à repetição. Po<strong>de</strong> ser, contu<strong>do</strong>, que eu tenha superestima<strong>do</strong> sua<br />
significação. E, <strong>de</strong> qualquer mo<strong>do</strong>, é impossível perseguir uma idéia <strong>de</strong>sse tipo, exceto pela<br />
combinação repetida <strong>de</strong> material concreto com o que é puramente especulativo e, assim,<br />
amplamente divergente da observação impírica. Quanto mais freqüentemente isso é feito no<br />
<strong>de</strong>curso da construção <strong>de</strong> uma teoria, menos fi<strong>de</strong>digno, como sabemos, <strong>de</strong>ve ser o resulta<strong>do</strong><br />
final. Mas o grau <strong>de</strong> incertezas não é atribuível. Po<strong>de</strong>mos ter da<strong>do</strong> um golpe <strong>de</strong> sorte ou<br />
havermo-nos extravia<strong>do</strong> vergonhosamente. Não penso que, num trabalho <strong>de</strong>sse tipo, uma parte<br />
gran<strong>de</strong> seja <strong>de</strong>sempenhada pelo que é chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> ‘intuição’. Pelo que tenho visto da intuição,<br />
ela me parece ser o produto <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> imparcialida<strong>de</strong> intelectual. Infelizmente, porém, as<br />
pessoas raramente são imparciais no que concerne às coisas supremas, aos gran<strong>de</strong>s problemas<br />
da ciência e da vida. Em tais casos, cada um <strong>de</strong> nós é dirigi<strong>do</strong> por preconceitos internos<br />
profundamente enraiza<strong>do</strong>s, aos quais nossa especulação inadvertidamente dá vantagem. Já que