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Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

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E agora se espera que uma explicação, dada por escrito por um médico que é um<br />

estranho para ela, realize o que todas as experiências mais importantes <strong>de</strong> sua vida posterior<br />

não pu<strong>de</strong>ram fazer! Provavelmente uma análise regular, prosseguida durante um tempo<br />

consi<strong>de</strong>rável, obteria êxito no caso. Pelas coisas como suce<strong>de</strong>ram, fui obriga<strong>do</strong> a contentar-me<br />

com escrever-lhe que estava convenci<strong>do</strong> <strong>de</strong> que ela sofria <strong>do</strong>s efeitos ulteriores <strong>de</strong> um forte<br />

vínculo emocional ligan<strong>do</strong>-a ao pai e <strong>de</strong> uma correspon<strong>de</strong>nte i<strong>de</strong>ntificação com a mãe, mas que<br />

não esperava que essa explicação a ajudasse. As curas espontâneas das neuroses geralmente<br />

<strong>de</strong>ixam atrás <strong>de</strong> si cicatrizes e estas se tornam novamente <strong>do</strong>loridas <strong>de</strong> tempos em tempos.<br />

Ficamos muito orgulhosos <strong>de</strong> nossa arte se conseguimos uma cura pela psicanálise, mas ainda<br />

nesse ponto nem sempre po<strong>de</strong>mos impedir a formação <strong>de</strong> uma <strong>do</strong>lorosa cicatriz como resulta<strong>do</strong>.<br />

A pequena série <strong>de</strong> reminiscências <strong>de</strong>ve pren<strong>de</strong>r um pouco mais a nossa atenção.<br />

Afirmei noutra parte que essas cenas <strong>de</strong> infância constituem ‘lembranças encobri<strong>do</strong>ras’,<br />

selecionadas num perío<strong>do</strong> posterior, reunidas e não infreqüentemente falsificadas no processo.<br />

Esse remo<strong>de</strong>lamento subseqüente serve a um fim às vezes fácil <strong>de</strong> adivinhar. Em nosso caso,<br />

quase se po<strong>de</strong> ouvir o ego da autora a glorificar-se ou acalmar-se por meio <strong>de</strong>ssa série <strong>de</strong><br />

recordações: ‘Fui <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância uma criatura nobre e compassiva. Aprendi muito ce<strong>do</strong> que os<br />

animais têm alma como nós e não podia suportar a cruelda<strong>de</strong> para com eles. Os peca<strong>do</strong>s da<br />

carne achavam-se longe <strong>de</strong> mim e conservei minha castida<strong>de</strong> até bem tar<strong>de</strong> na vida.’ Com<br />

<strong>de</strong>clarações como essas ela se encontrava contradizen<strong>do</strong> em voz alta as inferências que temos<br />

<strong>de</strong> fazer sobre sua primeira infância, com base em nossa experiência analítica; ou seja, que ela<br />

tinha em abundância impulsos sexuais prematuros e violentos sentimentos <strong>de</strong> ódio pela mãe e<br />

pelos irmãos e irmãs mais moços. (Ao la<strong>do</strong> da significação genital que acabei <strong>de</strong> lhe atribuir, o<br />

passarinho po<strong>de</strong> ser também o símbolo <strong>de</strong> uma criança, como to<strong>do</strong>s os animais pequenos; sua<br />

recordação, assim acentuava com muita insistência o fato <strong>de</strong> ter essa pequena criatura o mesmo<br />

direito <strong>de</strong> existir que ela própria.) Conseqüentemente, a curta série <strong>de</strong> recordações fornece um<br />

exemplo muito bom <strong>de</strong> uma estrutura mental com um duplo aspecto. Vista superficialmente,<br />

po<strong>de</strong>mos encontrar nela a expressão <strong>de</strong> uma idéia abstrata, aqui como <strong>de</strong> praxe com uma<br />

referência ética. Na nomenclatura <strong>de</strong> Silberer, a estrutura possui um conteú<strong>do</strong> anagógico. Com<br />

uma investigação mais profunda ela se revela como uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fenômenos pertinentes à<br />

região da vida reprimida <strong>do</strong>s instintos: apresenta o seu conteú<strong>do</strong> psicanalítico. Como sabem,<br />

Silberer, um <strong>do</strong>s primeiros a advertir-nos para não per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista o la<strong>do</strong> mais nobre da alma<br />

humana, apresentou a opinião <strong>de</strong> que to<strong>do</strong>s, ou quase to<strong>do</strong>s, os sonhos permitem tal<br />

interpretação dupla, uma mais pura, anagógica, ao la<strong>do</strong> da ignóbil, psicanalítica. Entretanto, isso<br />

infelizmente não é assim. Pelo contrário, uma supra-interpretação <strong>de</strong>sse tipo raramente é<br />

possível. Pelo que eu saiba, nenhum exemplo váli<strong>do</strong> <strong>de</strong> tal análise onírica com duplo senti<strong>do</strong> foi<br />

publica<strong>do</strong> até o presente, porém observações <strong>de</strong>ssa espécie po<strong>de</strong>m amiú<strong>de</strong> ser feitas sobre a<br />

série <strong>de</strong> associações produzidas por nossos pacientes durante o tratamento analítico. Por um

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