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Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

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Tomaremos a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> interromper a exposição <strong>de</strong> Le Bon com comentários nossos;<br />

por conseguinte, inseriremos uma observação nesse ponto. Se os indivíduos <strong>do</strong> <strong>grupo</strong> se<br />

combinam numa unida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve haver certamente algo para uni-los, e esse elo po<strong>de</strong>ria ser<br />

precisamente a coisa que é característica <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong>. Mas Le Bon não respon<strong>de</strong> a essa<br />

questão; prossegue consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a alteração que o indivíduo experimenta quan<strong>do</strong> num <strong>grupo</strong>, e<br />

a <strong>de</strong>screve em termos que se harmonizam bem com os postula<strong>do</strong>s fundamentais <strong>de</strong> nossa<br />

própria <strong>psicologia</strong> profunda.<br />

‘É fácil provar quanto o indivíduo que faz parte <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> difere <strong>do</strong> indivíduo isola<strong>do</strong>;<br />

mas não é tão fácil <strong>de</strong>scobrir as causas <strong>de</strong>ssa diferença.’<br />

‘Para obter, <strong>de</strong> qualquer mo<strong>do</strong>, um vislumbre <strong>de</strong>las, é necessário em primeiro lugar<br />

trazer à mente a verda<strong>de</strong> estabelecida pela <strong>psicologia</strong> mo<strong>de</strong>rna, a <strong>de</strong> que os fenômenos<br />

inconscientes <strong>de</strong>sempenham papel inteiramente prepon<strong>de</strong>rante não apenas na vida orgânica,<br />

mas também nas operações da inteligência. A vida consciente da mente é <strong>de</strong> pequena<br />

importância, em comparação com sua vida inconsciente. O analista mais sutil, o observa<strong>do</strong>r mais<br />

agu<strong>do</strong> dificilmente obtêm êxito em <strong>de</strong>scobrir mais <strong>do</strong> que um número muito pequeno <strong>do</strong>s motivos<br />

conscientes que <strong>de</strong>terminam sua conduta. Nossos atos conscientes são o produto <strong>de</strong> um<br />

substrato inconsciente cria<strong>do</strong> na mente, principalmente por influências hereditárias. Esse<br />

substrato consiste nas inumeráveis características comuns, transmitidas <strong>de</strong> geração a geração,<br />

que constituem o gênio <strong>de</strong> uma raça. Por <strong>de</strong>trás das causas confessadas <strong>de</strong> nossos atos jazem<br />

indubitavelmente causas secretas que não confessamos, mas por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong>ssas causas<br />

secretas existem muitas outras, mais secretas ainda, ignoradas por nós próprios. A maior parte<br />

<strong>de</strong> nossas ações cotidianas são resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> motivos ocultos que fogem à nossa observação.’<br />

(Ibid., 30.)<br />

Le Bon pensa que os <strong>do</strong>tes particulares <strong>do</strong>s indivíduos se apagam num <strong>grupo</strong> e que,<br />

<strong>de</strong>ssa maneira, sua distintivida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>svanece. O inconsciente racial emerge; o que é<br />

heterogêneo submerge no que é homogêneo. Como diríamos nós, a superestrutura mental, cujo<br />

<strong>de</strong>senvolvimento nos indivíduos apresenta tais <strong>de</strong>ssemelhanças, é removida, e as funções<br />

inconscientes, que são semelhantes em to<strong>do</strong>s, ficam expostas à vista.<br />

Assim, os indivíduos <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> viriam a mostrar um caráter médio. Mas Le Bon<br />

acredita que eles também apresentam novas características que não possuíam anteriormente, e<br />

busca a razão disso em três fatores diferentes.<br />

‘O primeiro é que o indivíduo que faz parte <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> adquire, unicamente por<br />

consi<strong>de</strong>rações numéricas, um sentimento <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r invencível que lhe permite ren<strong>de</strong>r-se a<br />

instintos que, estivesse ele sozinho, teria compulsoriamente manti<strong>do</strong> sob coerção. Ficará ele<br />

ainda menos disposto a controlar-se pela consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> que, sen<strong>do</strong> um <strong>grupo</strong> anônimo e, por<br />

conseqüência, irresponsável, o sentimento <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> que sempre controla os<br />

indivíduos, <strong>de</strong>saparece inteiramente.’ (Ibid., 33.)

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