Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp
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possuímos tão bons fundamentos para sermos <strong>de</strong>sconfia<strong>do</strong>s, nossa atitu<strong>de</strong> para com os<br />
resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> nossas próprias <strong>de</strong>liberações não po<strong>de</strong> ser outra que a <strong>de</strong> uma fria benevolência.<br />
Apresso-me a acrescentar, contu<strong>do</strong>, que uma autocrítica como esta acha-se longe <strong>de</strong> vincular-<br />
nos a qualquer tolerância especial para com opiniões discordantes. É perfeitamente legítimo<br />
rejeitar sem remorsos teorias que são contraditadas pelos próprios primeiros passos da<strong>do</strong>s na<br />
análise <strong>do</strong>s fatos observa<strong>do</strong>s, enquanto nos achamos ao mesmo tempo cientes <strong>de</strong> que a<br />
valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossas próprias teorias é apenas provisória.<br />
Não precisamos sentir-nos gran<strong>de</strong>mente perturba<strong>do</strong>s em ajuizar nossas especulações<br />
sobre os instintos <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> morte pelo fato <strong>de</strong> tantos processos <strong>de</strong>snorteantes e obscuros<br />
nelas ocorrerem, tal como um instinto ser expulso por outro, ou um instinto voltar-se <strong>do</strong> ego para<br />
um objeto, e assim por diante. Isso se <strong>de</strong>ve simplesmente ao fato <strong>de</strong> sermos obriga<strong>do</strong>s a<br />
trabalhar com termos científicos, isto é, com a linguagem figurativa, peculiar à <strong>psicologia</strong> (ou,<br />
mais precisamente, à <strong>psicologia</strong> profunda). Não po<strong>de</strong>ríamos, <strong>de</strong> outra maneira, <strong>de</strong>screver os<br />
processos em questão e, na verda<strong>de</strong>, não nos teríamos torna<strong>do</strong> cientes <strong>de</strong>les. As <strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong><br />
nossa posição provavelmente se <strong>de</strong>svaneceriam se nos achássemos em posição <strong>de</strong> substituir os<br />
termos psicológicos por expressões fisiológicas ou químicas. É verda<strong>de</strong> que estas também são<br />
apenas parte <strong>de</strong> uma linguagem figurativa, mas trata-se <strong>de</strong> uma linguagem com que há muito<br />
tempo nos familiarizamos, sen<strong>do</strong> também, talvez, uma linguagem mais simples.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>ixar completamente claro que a incerteza <strong>de</strong> nossa<br />
especulação foi muito aumentada pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pedir empréstimos à ciência da biologia.<br />
A biologia é, verda<strong>de</strong>iramente, uma terra <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s ilimitadas. Po<strong>de</strong>mos esperar que ela<br />
nos forneça as informações mais surpreen<strong>de</strong>ntes, e não po<strong>de</strong>mos imaginar que respostas nos<br />
dará, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> poucas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> anos, às questões que lhe formulamos. Po<strong>de</strong>rão ser <strong>de</strong> um<br />
tipo que ponha por terra toda a nossa estrutura artificial <strong>de</strong> hipóteses. Se assim for, po<strong>de</strong>r-se-á<br />
perguntar por que nos embrenhamos numa linha <strong>de</strong> pensamento como a presente e, em<br />
particular, por que <strong>de</strong>cidi torná-la pública. Bem, não posso negar que algumas das analogias,<br />
correlações e vinculações que ela contém pareceram-me merecer consi<strong>de</strong>ração.<br />
VII<br />
Se procurar restaurar um esta<strong>do</strong> anterior <strong>de</strong> coisas constitui característica tão universal<br />
<strong>do</strong>s instintos, não precisaremos surpreen<strong>de</strong>r-nos com que tantos processos se realizem na vida<br />
mental in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong> <strong>princípio</strong> <strong>de</strong> <strong>prazer</strong>. Essa característica seria partilhada por to<strong>do</strong>s<br />
os instintos componentes e, em seu caso, visariam a retornar mais uma vez a uma fase<br />
específica <strong>do</strong> curso <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Trata-se <strong>de</strong> questões sobre as quais o <strong>princípio</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>prazer</strong> ainda não possui controle, mas disso não <strong>de</strong>corre que alguma <strong>de</strong>las seja