Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp
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[1906], to<strong>do</strong>s os fenômenos vitais apresenta<strong>do</strong>s pelos organismos - e também, indubitavelmente,<br />
sua morte - estão vincula<strong>do</strong>s à conclusão <strong>de</strong> perío<strong>do</strong>s fixos, os quais expressam a <strong>de</strong>pendência<br />
<strong>de</strong> <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> substância viva (um masculino e outro feminino) quanto ao ano solar. Quan<strong>do</strong><br />
vemos, contu<strong>do</strong>, quão fácil e extensamente a influência <strong>de</strong> forças externas po<strong>de</strong> modificar a data<br />
<strong>do</strong> aparecimento <strong>do</strong>s fenômenos vitais (especialmente no mun<strong>do</strong> vegetal), precipitan<strong>do</strong>-os ou<br />
reten<strong>do</strong>-os, temos <strong>de</strong> levantar dúvidas quanto à rigi<strong>de</strong>z das fórmulas <strong>de</strong> Fliess ou, pelo menos,<br />
quanto às leis por ele estabelecidas constituírem os únicos fatores <strong>de</strong>terminantes.<br />
De nosso ponto <strong>de</strong> vista, o maior interesse pren<strong>de</strong>-se ao tratamento da<strong>do</strong> ao tema da<br />
duração da vida e da morte <strong>do</strong>s organismos nos escritos <strong>de</strong> Weismann (1882, 1884, 1892 etc.).<br />
Foi ele que introduziu a divisão da substância viva em partes mortais e imortais. A parte mortal é<br />
o corpo no senti<strong>do</strong> mais estrito, o ‘soma’, que, somente ele, se acha sujeito à morte natural. As<br />
células germinais, por outro la<strong>do</strong>, são potencialmente imortais, na medida em que são capazes,<br />
em <strong>de</strong>terminadas condições, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-se no indivíduo novo ou, em outras palavras, <strong>de</strong><br />
cercar-se <strong>de</strong> um novo soma (Weismann, 1884).<br />
O que nos impressiona nisso é a inesperada analogia com nosso próprio ponto <strong>de</strong> vista,<br />
ao qual chegamos ao longo <strong>de</strong> caminho tão diferente. Weismann, encaran<strong>do</strong> morfologicamente a<br />
substância viva, enxerga nela uma parte que está <strong>de</strong>stinada a morrer - o soma, o corpo<br />
separa<strong>do</strong> da substância relacionada com o sexo e a herança -, e uma parte imortal - o plasma<br />
germinal, que se relaciona com a sobrevivência da espécie, com a reprodução. Nós, por outro<br />
la<strong>do</strong>, lidan<strong>do</strong> não com a substância viva, mas com as forças que nela operam, fomos leva<strong>do</strong>s a<br />
distinguir duas espécies <strong>de</strong> instintos: aqueles que procuram conduzir o que é vivo à morte, e os<br />
<strong>outros</strong>, os instintos sexuais, que estão perpetuamente tentan<strong>do</strong> e conseguin<strong>do</strong> uma renovação<br />
da vida, o que soa como um corolário dinâmico à teoria morfológica <strong>de</strong> Weismann.<br />
Contu<strong>do</strong>, a aparência <strong>de</strong> uma correspondência significante se dissipa tão logo<br />
<strong>de</strong>scobrimos as concepções <strong>de</strong> Weismann sobre o problema da morte, porque ele só relaciona a<br />
distinção entre o soma mortal e o plasma germinal imortal aos organismos multicelulares; nos<br />
organismos unicelulares, o indivíduo e a célula reprodutora são ainda um só e o mesmo<br />
(Weismann, 1882, 38). Desse mo<strong>do</strong>, consi<strong>de</strong>ra que os organismos unicelulares são<br />
potencialmente imortais e que a morte só faz seu aparecimento com os metazoários<br />
multicelulares. É verda<strong>de</strong> que essa morte <strong>do</strong>s organismos mais eleva<strong>do</strong>s é natural, uma morte<br />
provocada por causas internas, mas não se funda em nenhuma característica primitiva da<br />
substância viva (Weismann, 1884, 84) e não po<strong>de</strong> ser encarada como uma necessida<strong>de</strong><br />
absoluta, com base na própria natureza da vida (Weismann, 1882, 33). A morte é antes uma<br />
questão <strong>de</strong> conveniência, uma manifestação <strong>de</strong> adaptação às condições externas da vida,<br />
porque, uma vez as células <strong>do</strong> corpo tenham si<strong>do</strong> divididas em soma e plasma germinal, uma<br />
duração ilimitada da vida individual se tornaria um luxo inteiramente sem senti<strong>do</strong>. Feita essa<br />
diferenciação nos organismos multicelulares, a morte torna-se possível e conveniente. Des<strong>de</strong>