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Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

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casa eram impotentes para vencer esse seu distúrbio. Antes <strong>de</strong> prosseguir será, porém,<br />

<strong>de</strong>sejável consi<strong>de</strong>rar separadamente as atitu<strong>de</strong>s <strong>do</strong> pai e da mãe perante o assunto. O pai, um<br />

homem sério e conceitua<strong>do</strong>, no fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> coração muito terno; porém, até certo ponto tinha<br />

alhea<strong>do</strong> <strong>de</strong> si os filhos com a rigi<strong>de</strong>z que a<strong>do</strong>tara para com eles. Seu tratamento com a filha<br />

única era <strong>de</strong>masiadamente influencia<strong>do</strong> pela consi<strong>de</strong>ração que tinha pela mulher. Quan<strong>do</strong><br />

soubera, pela primeira vez, das tendências homossexuais da filha, ficara enfureci<strong>do</strong> e tentara<br />

suprimi-las com ameaças. Naquela ocasião, talvez, hesitava entre opiniões diferentes, embora<br />

<strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> aflitivas: encaran<strong>do</strong> a filha como viciosa, ou <strong>de</strong>generada ou mentalmente<br />

perturbada. Sequer após a tentativa <strong>de</strong> suicídio não lograra a eloqüente resignação <strong>de</strong>monstrada<br />

por um <strong>de</strong> nossos colegas médicos que observou <strong>de</strong> uma irregularida<strong>de</strong> semelhante em sua<br />

própria família: ‘Bem, é apenas uma infelicida<strong>de</strong> como qualquer outra’. Havia algo no<br />

homossexualismo da filha que lhe <strong>de</strong>spertava a mais profunda amargura, e estava <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

a combatê-lo por to<strong>do</strong>s os meios em seu po<strong>de</strong>r. A pouca estima em que a psicanálise<br />

geralmente é tida em Viena não impediu que se voltasse a ela em busca <strong>de</strong> auxílio. Falhasse<br />

essa solução, ele ainda tinha <strong>de</strong> reserva sua mais forte medida <strong>de</strong>fensiva: um casamento rápi<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>veria <strong>de</strong>spertar os instintos naturais da moça e abafar suas tendências inaturais.<br />

A atitu<strong>de</strong> da mãe para com a jovem não era tão fácil <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r. Ela era uma<br />

mulher jovem, evi<strong>de</strong>ntemente pouco disposta a aban<strong>do</strong>nar seus próprios direitos à atração. Claro<br />

era o fato global <strong>de</strong> ela não tomar o enamoramento da filha tão tragicamente como o pai, e<br />

tampouco se enfurecia com ele. Havia mesmo, por certo tempo, <strong>de</strong>sfruta<strong>do</strong> da confiança da filha<br />

relativamente à paixão <strong>de</strong>la. Sua oposição a ela parecia ter si<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> <strong>de</strong>spertada pela<br />

danosa publicida<strong>de</strong> com que a moça <strong>de</strong>monstrava seus sentimentos. Ela própria sofrera, durante<br />

alguns anos, <strong>de</strong> problemas neuróticos e gozava <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração por parte <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>.<br />

Tratava os filhos <strong>de</strong> mo<strong>do</strong>s inteiramente diferentes, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>cididamente áspera com a filha e <strong>de</strong><br />

excessiva indulgência com os três filhos, <strong>do</strong>s quais o mais novo nascera após longo intervalo e<br />

não contava, então, ainda três anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Não era fácil apurar algo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> a<br />

respeito <strong>do</strong> seu caráter, porque, por motivos que posteriormente se tornarão inteligíveis, a<br />

paciente era sempre reservada no que dizia sobre a mãe, ao passo que, em relação ao pai, nada<br />

disso acontecia.<br />

Para um médico que fosse empreen<strong>de</strong>r o tratamento psicanalítico da jovem, havia<br />

muitos fundamentos para <strong>de</strong>sconfiança. A situação que <strong>de</strong>via tratar não era a que a análise<br />

exige, na qual somente ela po<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar sua eficácia. Sabe-se bem que a situação i<strong>de</strong>al<br />

para a análise é a circunstância <strong>de</strong> alguém que, sob <strong>outros</strong> aspectos, é seu próprio senhor, estar<br />

no momento sofren<strong>do</strong> <strong>de</strong> um conflito interno, que é incapaz <strong>de</strong> resolver sozinho; assim leva seu<br />

problema ao analista e lhe pe<strong>de</strong> auxílio. O médico então trabalha <strong>de</strong> mãos dadas com uma das<br />

partes da personalida<strong>de</strong> patologicamente dividida, contra a outra parte no conflito. Qualquer<br />

situação que <strong>de</strong>ssa difira é, em maior ou menor grau, <strong>de</strong>sfavorável para a psicanálise e

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