14.06.2013 Views

Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

exceda certo limite, esse fator indubitavelmente <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ter importância. A realização <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo<br />

é, como sabemos, ocasionada <strong>de</strong> maneira alucinatória pelos sonhos e sob a <strong>do</strong>minância <strong>do</strong><br />

<strong>princípio</strong> <strong>de</strong> <strong>prazer</strong> tornou-se função <strong>de</strong>les. Mas não é a serviço <strong>de</strong>sse <strong>princípio</strong> que os sonhos<br />

<strong>do</strong>s pacientes que sofrem <strong>de</strong> neuroses traumáticas nos conduzem <strong>de</strong> volta, com tal regularida<strong>de</strong>,<br />

à situação em que o trauma ocorreu. Po<strong>de</strong>mos antes supor que aqui os sonhos estão ajudan<strong>do</strong><br />

a executar outra tarefa, a qual <strong>de</strong>ve ser realizada antes que a <strong>do</strong>minância <strong>do</strong> <strong>princípio</strong> <strong>de</strong> <strong>prazer</strong><br />

possa mesmo começar. Esses sonhos esforçam-se por <strong>do</strong>minar retrospectivamente o estímulo,<br />

<strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> a ansieda<strong>de</strong> cuja omissão constituiu a causa da neurose traumática. Conce<strong>de</strong>m-<br />

nos assim a visão <strong>de</strong> uma função <strong>do</strong> aparelho mental, visão que, embora não contradiga o<br />

<strong>princípio</strong> <strong>de</strong> <strong>prazer</strong>, é sem embargo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>le, parecen<strong>do</strong> ser mais primitiva <strong>do</strong> que o<br />

intuito <strong>de</strong> obter <strong>prazer</strong> e evitar <strong>de</strong>s<strong>prazer</strong>.<br />

Esse, então, pareceria ser o lugar para, pela primeira vez, admitir uma exceção à<br />

proposição <strong>de</strong> que os sonhos são realizações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos. Os sonhos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, como<br />

repetida e pormenorizadamente <strong>de</strong>monstrei, não oferecem essa exceção, nem tampouco o<br />

fazem os ‘sonhos <strong>de</strong> castigo’, porque eles simplesmente substituem a realização <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo<br />

proibida pela punição a<strong>de</strong>quada a ela, isto é, realizam o <strong>de</strong>sejo <strong>do</strong> sentimento <strong>de</strong> culpa que é a<br />

reação ao impulso repudia<strong>do</strong>. É, porém, impossível classificar como realizações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos os<br />

sonhos que estivemos <strong>de</strong>baten<strong>do</strong> e que ocorrem nas neuroses traumáticas, ou os sonhos ti<strong>do</strong>s<br />

durante as psicanálises, os quais trazem à lembrança os traumas psíquicos da infância. Eles<br />

surgem antes em obediência à compulsão à repetição, embora seja verda<strong>de</strong> que, na análise,<br />

essa compulsão é apoiada pelo <strong>de</strong>sejo (incentiva<strong>do</strong> pela ‘sugestão’) <strong>de</strong> conjurar o que foi<br />

esqueci<strong>do</strong> e reprimi<strong>do</strong>. Dessa maneira, pareceria que a função <strong>do</strong>s sonhos, que consiste em<br />

afastar quaisquer motivos que possam interromper o sono, através da realização <strong>do</strong>s <strong>de</strong>sejos<br />

<strong>do</strong>s impulsos perturba<strong>do</strong>res, não é a sua função original. Não lhes seria possível <strong>de</strong>sempenhar<br />

essa função até que a totalida<strong>de</strong> da vida mental houvesse aceito a <strong>do</strong>minância <strong>do</strong> <strong>princípio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>prazer</strong>. Se existe um ‘além <strong>do</strong> <strong>princípio</strong> <strong>de</strong> <strong>prazer</strong>’, é coerente conceber que houve também uma<br />

época anterior em que o intuito <strong>do</strong>s sonhos foi a realização <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos. Isso não implicaria numa<br />

negação <strong>de</strong> sua função posterior, mas, uma vez rompida a regra geral, surge uma outra questão.<br />

Não po<strong>de</strong>m os sonhos que, com vistas à sujeição psíquica <strong>de</strong> impressões traumáticas,<br />

obe<strong>de</strong>cem à compulsão à repetição, não po<strong>de</strong>m esses sonhos, perguntamos, ocorrer fora da<br />

análise também? E a resposta só po<strong>de</strong> ser uma afirmativa <strong>de</strong>cidida.<br />

Argumentei em outra parte que as ‘neuroses <strong>de</strong> guerra’ (até on<strong>de</strong> essa expressão<br />

implica algo mais <strong>do</strong> que uma referência às circunstâncias <strong>do</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento da <strong>do</strong>ença)<br />

po<strong>de</strong>m muito bem ser neuroses traumáticas que foram facilitadas por um conflito no ego. O fato<br />

a que me referi em [1], o <strong>de</strong> que um gran<strong>de</strong> dano físico causa<strong>do</strong> simultaneamente pelo trauma<br />

diminui as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que uma neurose se <strong>de</strong>senvolva, torna-se inteligível se tivermos em<br />

mente <strong>do</strong>is fatos que foram enfatiza<strong>do</strong>s pela pesquisa psicanalítica: primeiramente, que a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!