Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp
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preparada para consi<strong>de</strong>rar seus germes como inatos e atribuir-lhes atitu<strong>de</strong>s embriônicas.) Dessa<br />
maneira, a libi<strong>do</strong> <strong>de</strong> nossos instintos sexuais coincidiria com o Eros <strong>do</strong>s poetas e <strong>do</strong>s filósofos, o<br />
qual mantém unidas todas as coisas vivas.<br />
Aqui se encontra, portanto, uma oportunida<strong>de</strong> para consi<strong>de</strong>rar o lento <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> nossa teoria da libi<strong>do</strong>. Em primeira instância, a análise das neuroses <strong>de</strong> transferência forçou à<br />
nossa observação a oposição entre os ‘instintos sexuais’, que se dirigem para um objeto, e<br />
certos <strong>outros</strong> instintos, com os quais nos achamos insuficientemente familiariza<strong>do</strong>s e que<br />
<strong>de</strong>screvemos provisoriamente como ‘instintos <strong>do</strong> ego’. Um lugar <strong>de</strong> proa entre estes foi<br />
necessariamente concedi<strong>do</strong> aos instintos que servem à autoconservação <strong>do</strong> indivíduo. Foi<br />
impossível dizer que outras distinções <strong>de</strong>veriam ser traçadas entre eles. Nenhum conhecimento<br />
seria mais valioso como base para uma ciência verda<strong>de</strong>iramente psicológica <strong>do</strong> que uma<br />
compreensão aproximada das características comuns e <strong>do</strong>s possíveis aspectos distintivos <strong>do</strong>s<br />
instintos, mas em nenhuma região da <strong>psicologia</strong> tateamos mais no escuro. Cada um supôs a<br />
existência <strong>de</strong> tantos instintos ou ‘instintos básicos’ quantos quis e fez malabarismos com eles, tal<br />
como os antigos filósofos naturalistas gregos faziam com seus quatro elementos: a terra, o ar, o<br />
fogo e a água. A psicanálise, que não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fazer alguma suposição sobre os instintos,<br />
ateve-se primeiramente à popular divisão <strong>de</strong> instintos tipificada na expressão ‘fome e amor’. Pelo<br />
menos, nada havia <strong>de</strong> arbitrário nisso e, com sua ajuda, a análise das psiconeuroses foi levada à<br />
frente até uma boa distância. O conceito <strong>de</strong> ‘sexualida<strong>de</strong>’ e, ao mesmo tempo, <strong>de</strong> instinto sexual,<br />
teve, é verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> ser amplia<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a abranger muitas coisas que não podiam ser<br />
classificadas sob a função reprodutora, e isso provocou não pouco alari<strong>do</strong> num mun<strong>do</strong> austero,<br />
respeitável, ou simplesmente hipócrita.<br />
O passo seguinte foi da<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> a psicanálise son<strong>do</strong>u <strong>de</strong> mais perto o caminho no<br />
senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> ego psicológico, que primeiramente fora conheci<strong>do</strong> apenas como órgão repressivo e<br />
censor, capaz <strong>de</strong> erguer estruturas protetoras e formações reativas. Há muito tempo, espíritos<br />
críticos e <strong>de</strong> visão ampla já haviam, é verda<strong>de</strong>, feito objeção ao fato <strong>de</strong> o conceito <strong>de</strong> libi<strong>do</strong><br />
restringir-se à energia <strong>do</strong>s instintos sexuais dirigi<strong>do</strong>s no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> um objeto, mas fracassaram<br />
em explicar como haviam chega<strong>do</strong> a seu melhor conhecimento, ou em <strong>de</strong>rivar <strong>de</strong>le algo <strong>de</strong> que a<br />
análise pu<strong>de</strong>sse fazer uso. Avançan<strong>do</strong> mais cautelosamente, a psicanálise observou a<br />
regularida<strong>de</strong> com que a libi<strong>do</strong> é retirada <strong>do</strong> objeto e dirigida para o ego (o processo <strong>de</strong><br />
introversão), e, pelo estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento libidinal das crianças em suas primeiras fases,<br />
chegou à conclusão <strong>de</strong> que o ego é o verda<strong>de</strong>iro e original reservatório da libi<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> apenas<br />
<strong>de</strong>sse reservatório que ela se esten<strong>de</strong> para os objetos. O ego encontrou então sua posição entre<br />
os objetos sexuais e imediatamente recebeu o lugar <strong>de</strong> proa entre eles. A libi<strong>do</strong> que assim se<br />
alojara no ego foi <strong>de</strong>scrita como ‘narcisista’. Essa libi<strong>do</strong> narcisista era também, naturalmente,<br />
uma manifestação da força <strong>do</strong> instinto sexual, no senti<strong>do</strong> analítico <strong>de</strong>ssas palavras, e<br />
necessariamente tinha <strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificada com os instintos <strong>de</strong> autoconservação, cuja existência