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Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

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É fácil agora <strong>de</strong>finir a diferença entre a i<strong>de</strong>ntificação e esse <strong>de</strong>senvolvimento tão extremo<br />

<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> estar aman<strong>do</strong> que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>scritos como ‘fascinação’ ou ‘servidão’. No<br />

primeiro caso, o ego enriqueceu-se com as proprieda<strong>de</strong>s <strong>do</strong> objeto, ‘introjetou’ o objeto em si<br />

próprio, como Ferenczi [1909] o expressa. No segun<strong>do</strong> caso, empobreceu-se, entregou-se ao<br />

objeto, substituiu o seu constituinte mais importante pelo objeto. Uma consi<strong>de</strong>ração mais<br />

próxima, contu<strong>do</strong>, logo esclarece que esse tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição cria uma ilusão <strong>de</strong> contradições que<br />

não possuem existência real. Economicamente, não se trata <strong>de</strong> empobrecimento ou<br />

enriquecimento; é mesmo possível <strong>de</strong>screver um caso extremo <strong>de</strong> estar aman<strong>do</strong> como um<br />

esta<strong>do</strong> em que o ego introjetou o objeto em si próprio. Outra distinção talvez esteja mais bem<br />

talhada para aten<strong>de</strong>r à essência da questão. No caso da i<strong>de</strong>ntificação, o objeto foi perdi<strong>do</strong> ou<br />

aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>; assim ele é novamente erigi<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> ego e este efetua uma alteração parcial<br />

em si próprio, segun<strong>do</strong> o mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong> objeto perdi<strong>do</strong>. No outro caso, o objeto é manti<strong>do</strong> e dá-se<br />

uma hipercatexia <strong>de</strong>le pelo ego e às expensas <strong>do</strong> ego. Aqui, porém, apresenta-se nova<br />

dificulda<strong>de</strong>. Será inteiramente certo que a i<strong>de</strong>ntificação pressupõe que a catexia <strong>de</strong> objeto tenha<br />

si<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>nada? Não po<strong>de</strong> haver i<strong>de</strong>ntificação enquanto o objeto é manti<strong>do</strong>? E antes <strong>de</strong> nos<br />

empenharmos numa discussão <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>licada questão, já po<strong>de</strong>rá estar alvorecen<strong>do</strong> em nós a<br />

percepção <strong>de</strong> que mais outra alternativa abrange a essência real da questão, ou seja, se o<br />

objeto é coloca<strong>do</strong> no lugar <strong>do</strong> ego ou <strong>do</strong> i<strong>de</strong>al <strong>do</strong> ego.<br />

Do esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> estar aman<strong>do</strong> à hipnose vai, evi<strong>de</strong>ntemente, apenas um curto passo. Os<br />

aspectos em que os <strong>do</strong>is concordam são evi<strong>de</strong>ntes. Existe a mesma sujeição humil<strong>de</strong>, que há<br />

para com o objeto ama<strong>do</strong>. Há o mesmo <strong>de</strong>bilitamento da iniciativa própria <strong>do</strong> sujeito; ninguém<br />

po<strong>de</strong> duvidar que o hipnotiza<strong>do</strong>r colocou-se no lugar <strong>do</strong> i<strong>de</strong>al <strong>do</strong> ego. Acontece apenas que tu<strong>do</strong><br />

é ainda mais claro e mais intenso na hipnose, <strong>de</strong> maneira que seria mais apropria<strong>do</strong> explicar o<br />

esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> estar aman<strong>do</strong> por meio da hipnose, que fazer o contrário. O hipnotiza<strong>do</strong>r constitui o<br />

único objeto e não se presta atenção a mais ninguém que não seja ele. O fato <strong>de</strong> o ego<br />

experimentar, <strong>de</strong> maneira semelhante à <strong>do</strong> sonho, tu<strong>do</strong> que o hipnotiza<strong>do</strong>r possa pedir ou<br />

afirmar, relembra-nos que nos esquecemos <strong>de</strong> mencionar entre as funções <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al <strong>do</strong> ego a<br />

tarefa <strong>de</strong> verificar a realida<strong>de</strong> das coisas. Não admira que o ego tome uma percepção por real,<br />

se a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>la é corroborada pela instância mental que ordinariamente <strong>de</strong>sempenha o <strong>de</strong>ver<br />

<strong>de</strong> testar a realida<strong>de</strong> das coisas. A completa ausência <strong>de</strong> impulsos que se acham inibi<strong>do</strong>s em<br />

seus objetivos sexuais contribui ainda mais para a pureza extrema <strong>do</strong>s fenômenos. A relação<br />

hipnótica é a <strong>de</strong>voção ilimitada <strong>de</strong> alguém enamora<strong>do</strong>, mas excluída a satisfação sexual, ao<br />

passo que no caso real <strong>de</strong> estar aman<strong>do</strong> esta espécie <strong>de</strong> satisfação é apenas temporariamente<br />

refreada e permanece em segun<strong>do</strong> plano, como um possível objeto para alguma ocasião<br />

posterior.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, porém, também po<strong>de</strong>mos dizer que a relação hipnótica é (se permissível<br />

a expressão) uma formação <strong>de</strong> <strong>grupo</strong> composta <strong>de</strong> <strong>do</strong>is membros. A hipnose não constitui um

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