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Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

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anos atrás, meu irmão mais moço faleceu <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> inteiramente súbito e inespera<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong><br />

tinha <strong>de</strong>z anos. Quan<strong>do</strong> o carteiro entregou-me o cartão-postal com a notícia <strong>de</strong> sua morte,<br />

antes que passasse o olhar por ele veio-me logo o pensamento: “É para dizer que meu irmão<br />

morreu.” Fora o único que ficara em casa, um rapaz forte e sadio, ao passo que nós, os quatro<br />

irmãos mais velhos, já estávamos plenamente <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s e havíamos <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> a casa<br />

paterna. Por ocasião da visita <strong>de</strong> meus irmãos, a conversa fortuitamente girou em torno <strong>de</strong>ssa<br />

experiência minha e, como se fosse uma palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, to<strong>do</strong>s os três irmãos <strong>de</strong>claravam<br />

haver-lhes aconteci<strong>do</strong> exatamente a mesma coisa. Se ocorreu exatamente da mesma maneira,<br />

não posso dizer; <strong>de</strong> qualquer mo<strong>do</strong>, cada um <strong>de</strong>clarou que se sentira perfeitamente certo da<br />

morte, exatamente antes que a notícia inesperada chegasse. Somos to<strong>do</strong>s, pelo la<strong>do</strong> materno,<br />

<strong>de</strong> disposição sensível, embora homens fortes e altos, mas nenhum <strong>de</strong> nós é, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> algum,<br />

inclina<strong>do</strong> ao espiritismo ou ao ocultismo; pelo contrário, rejeitamos a a<strong>de</strong>são a qualquer <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is.<br />

Meus irmãos são to<strong>do</strong>s homens <strong>de</strong> formação universitária, <strong>do</strong>is professores, o outro agrimensor,<br />

to<strong>do</strong>s antes formalistas que visionários. Isto é tu<strong>do</strong> o que posso contar-lhe em relação ao sonho.<br />

Se pu<strong>de</strong>r transformá-lo em um relato literário, fico encanta<strong>do</strong> em colocá-lo à sua disposição.’<br />

Temo que os leitores possam comportar-se como o autor <strong>de</strong>ssas duas cartas. Também<br />

estarão primariamente interessa<strong>do</strong>s em saber se o sonho po<strong>de</strong> ser realmente consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como<br />

uma notificação telepática <strong>do</strong> nascimento inespera<strong>do</strong> <strong>do</strong>s gêmeos, e não estarão dispostos a<br />

submeter o sonho à análise, como qualquer outro. Prevejo que sempre será assim quan<strong>do</strong> a<br />

psicanálise e o ocultismo se encontrarem. A primeira tem, por assim dizer, to<strong>do</strong>s os nossos<br />

instintos mentais contra ela; <strong>do</strong> último, vamos a seu encontro a meio caminho, movi<strong>do</strong>s por<br />

simpatias po<strong>de</strong>rosas e misteriosas. Entretanto, não vou assumir a posição <strong>de</strong> não ser mais que<br />

um psicanalista, <strong>de</strong> os problemas <strong>do</strong> ocultismo não me serem concernentes; com acerto<br />

julgariam isso como apenas uma fuga ao problema. Nada disso eu posso dizer que constituiria<br />

uma gran<strong>de</strong> satisfação para mim, se pu<strong>de</strong>sse convencer-me, assim como a <strong>outros</strong>, da inatacável<br />

evidência da existência <strong>de</strong> processos telepáticos, mas consi<strong>de</strong>ro também que as informações<br />

fornecidas sobre esse sonho são inteiramente ina<strong>de</strong>quadas para justificar um pronunciamento<br />

<strong>de</strong>sse tipo. Observação que nem uma só vez ocorre a esse homem inteligente, profundamente<br />

interessa<strong>do</strong> em saber como se acha no problema <strong>de</strong> seu sonho, dizer-nos quan<strong>do</strong> pela última<br />

vez viu a filha ou que notícias teve <strong>de</strong>la ultimamente. Escreve, na primeira carta, que o<br />

nascimento foi um mês mais ce<strong>do</strong>; na segunda, porém, esse mês transformou-se em apenas<br />

três semanas e nenhuma <strong>de</strong>las nos diz se o nascimento foi realmente prematuro ou se, como<br />

tão amiú<strong>de</strong> acontece, os interessa<strong>do</strong>s estavam engana<strong>do</strong>s em seus cálculos. Temos, porém, <strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rar esses e <strong>outros</strong> pormenores da ocorrência, se quisermos pesar a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

aquele que sonhou haver feito estimativas e palpites inconscientes. Sinto também que isso não<br />

seria útil, ainda que conseguisse obter resposta a tais perguntas. No processo <strong>de</strong> chegar à<br />

informação, sempre surgiriam novas dúvidas, que só po<strong>de</strong>riam ser acalmadas se tivéssemos o

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