Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp
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ealização <strong>de</strong> certos atos com irresistível impetuosida<strong>de</strong>. Essa impetuosida<strong>de</strong> é ainda mais<br />
irresistível no caso <strong>do</strong>s <strong>grupo</strong>s <strong>do</strong> que no <strong>do</strong> sujeito hipnotiza<strong>do</strong>, porque, sen<strong>do</strong> a sugestão a<br />
mesma para to<strong>do</strong>s os indivíduos <strong>do</strong> <strong>grupo</strong>, ela ganha força pela reciprocida<strong>de</strong>.’ (Ibid., 34.)<br />
‘Vemos então que o <strong>de</strong>saparecimento da personalida<strong>de</strong> consciente, a pre<strong>do</strong>minância da<br />
personalida<strong>de</strong> inconsciente, a modificação por meio da sugestão e <strong>do</strong> contágio <strong>de</strong> sentimentos e<br />
idéias numa direção idêntica, a tendência a transformar imediatamente as idéias sugeridas em<br />
atos, estas, vemos, são as características principais <strong>do</strong> indivíduo que faz parte <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong>. Ele<br />
não é mais ele mesmo, mas transformou-se num autômato que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser dirigi<strong>do</strong> pela sua<br />
vonta<strong>de</strong>.’ (Ibid., 35.)<br />
Citei essa passagem tão integralmente a fim <strong>de</strong> tornar inteiramente claro que Le Bon<br />
explica a condição <strong>de</strong> um indivíduo num <strong>grupo</strong> como sen<strong>do</strong> realmente hipnótica, e não faz<br />
simplesmente uma comparação entre os <strong>do</strong>is esta<strong>do</strong>s. Não temos intenção <strong>de</strong> levantar qualquer<br />
objeção a esse argumento, mas queremos apenas dar ênfase ao fato <strong>de</strong> que as duas últimas<br />
causas pelas quais um indivíduo se modifica num <strong>grupo</strong> (o contágio e a alta sugestionabilida<strong>de</strong>),<br />
não se encontram evi<strong>de</strong>ntemente no mesmo plano, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que o contágio parece, na<br />
realida<strong>de</strong>, ser uma manifestação da sugestionabilida<strong>de</strong>. <strong>Além</strong> disso, os efeitos <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is fatores<br />
não parecem ser nitidamente diferencia<strong>do</strong>s no texto das observações <strong>de</strong> Le Bon. Talvez<br />
possamos interpretar melhor seu enuncia<strong>do</strong> se vincularmos o contágio aos efeitos <strong>do</strong>s membros<br />
<strong>do</strong> <strong>grupo</strong>, toma<strong>do</strong>s individualmente, uns sobre os <strong>outros</strong>, enquanto apontamos outra fonte para<br />
essas manifestações <strong>de</strong> sugestões no <strong>grupo</strong>, as quais ele consi<strong>de</strong>ra semelhantes aos<br />
fenômenos da influência hipnótica. Mas que fonte? Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ficar impressiona<strong>do</strong>s<br />
por uma sensação <strong>de</strong> lacuna quan<strong>do</strong> observarmos que um <strong>do</strong>s principais elementos da<br />
comparação, a saber, a pessoa que <strong>de</strong>ve substituir o hipnotiza<strong>do</strong>r no caso <strong>do</strong> <strong>grupo</strong>, não é<br />
mencionada na exposição <strong>de</strong> Le Bon. Entretanto, ele faz distinção entre essa influência da<br />
‘fascinação’ que permanece mergulhada na obscurida<strong>de</strong> e o efeito contagioso que os indivíduos<br />
exercem uns sobre os <strong>outros</strong> e através <strong>do</strong> qual a sugestão original é fortalecida.<br />
Temos aqui outra importante comparação para ajudar-nos a enten<strong>de</strong>r o indivíduo num<br />
<strong>grupo</strong>: ‘<strong>Além</strong> disso, pelo simples fato <strong>de</strong> fazer parte <strong>de</strong> um <strong>grupo</strong> organiza<strong>do</strong>, um homem <strong>de</strong>sce<br />
vários <strong>de</strong>graus na escada da civilização. Isola<strong>do</strong>, po<strong>de</strong> ser um indivíduo culto; numa multidão, é<br />
um bárbaro, ou seja, uma criatura que age pelo instinto. Possui a espontaneida<strong>de</strong>, a violência, a<br />
ferocida<strong>de</strong> e também o entusiasmo e o heroísmo <strong>do</strong>s seres primitivos.’ (Ibid., 36.) Le Bon<br />
<strong>de</strong>mora-se então especialmente na redução da capacida<strong>de</strong> intelectual que um indivíduo<br />
experimenta quan<strong>do</strong> se fun<strong>de</strong> num <strong>grupo</strong>.<br />
Aban<strong>do</strong>nemos agora o indivíduo e voltemo-nos para a mente grupal, tal como <strong>de</strong>lineada<br />
por Le Bon. Ela não apresenta um único aspecto que um psicanalista encontre qualquer<br />
dificulda<strong>de</strong> em situar ou em fazer <strong>de</strong>rivar <strong>de</strong> sua fonte. O próprio Le Bon nos mostra o caminho,<br />
apontan<strong>do</strong> para sua semelhança com a vida mental <strong>do</strong>s povos primitivos e das crianças (ibid.,