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Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros ... - ceapp

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Infelizmente minha memória, geralmente tão digna <strong>de</strong> confiança, não assegura se a<br />

primeira parte da profecia dizia: ‘Tu<strong>do</strong> sairá bem. Você se casará’, ou ‘Você será feliz.’ Minha<br />

atenção estava completamente focalizada em minha nítida impressão da frase final, com seus<br />

notáveis pormenores. Na realida<strong>de</strong>, porém, as primeiras observações, sobre conflitos que teriam<br />

um final feliz, incluem-se entre as expressões vagas que figuram em todas as profecias, até<br />

mesmo nas que se po<strong>de</strong>m comprar prontas. O contraste ofereci<strong>do</strong> pelos <strong>do</strong>is números<br />

específicos na frase final é mais notável ainda. Não obstante, seria <strong>de</strong> fato interessante saber se<br />

o Professor realmente falou no casamento <strong>de</strong>la. Havia tira<strong>do</strong> fora sua aliança e, aos 27 anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>, parecia muito jovem, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> facilmente ter si<strong>do</strong> tomada por uma solteira. Em<br />

compensação, não seria necessária uma observação refinada, para notar a marca da aliança em<br />

seu <strong>de</strong><strong>do</strong>.<br />

Limitemo-nos ao problema conti<strong>do</strong> na última frase, que lhe prometia <strong>do</strong>is filhos aos 32<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Estes pormenores parecem cabalmente arbitrários e inexplicáveis. A pessoa mais<br />

crédula dificilmente empreen<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>duzi-los <strong>de</strong> uma interpretação das linhas da mão. Recebiam<br />

uma justificação indiscutível, se confirma<strong>do</strong>s pelo futuro. Porém, não era esse o caso. Ela tinha<br />

agora 40 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, e nenhum filho. Qual, então, era a fonte e o significa<strong>do</strong> <strong>de</strong>sses<br />

números? A própria paciente não sabia. O óbvio seria pôr <strong>de</strong> la<strong>do</strong> toda questão e <strong>de</strong>stiná-la ao<br />

monte <strong>de</strong> lixo, entre muitas outras mensagens sem senti<strong>do</strong> e ostensivamente ocultas. Isso seria<br />

muito agradável: a solução mais simples e um alívio gran<strong>de</strong>mente <strong>de</strong>sejável. Infelizmente,<br />

porém, tenho <strong>de</strong> acrescentar que era possível - e exatamente com a ajuda da análise - encontrar<br />

uma explicação para os <strong>do</strong>is números, uma explicação que, mais uma vez, foi completamente<br />

satisfatória, surgin<strong>do</strong>, quase naturalmente, da situação real, <strong>de</strong> vez que os <strong>do</strong>is números se<br />

ajustavam perfeitamente à história da vida da mãe <strong>de</strong> nossa paciente. A mãe só se casara aos<br />

trinta anos e fora em seu trigésimo segun<strong>do</strong> ano <strong>de</strong> vida que (diferentemente da maioria das<br />

mulheres e para compensar, por assim dizer, o seu atraso) <strong>de</strong>ra à luz <strong>do</strong>is filhos. Dessa maneira,<br />

é fácil traduzir a profecia: ‘Não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preocupar-se com a sua atual esterilida<strong>de</strong>.<br />

Isso não tem importância. Você ainda po<strong>de</strong> seguir o exemplo <strong>de</strong> sua mãe, que ainda nem se<br />

achava casada em sua ida<strong>de</strong> e, não obstante, teve <strong>do</strong>is filhos aos 32 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.’ A profecia<br />

prometia-lhe a realização da i<strong>de</strong>ntificação com a mãe, que constituíra o segre<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua infância,<br />

e fora enunciada pela boca <strong>de</strong> um adivinho <strong>de</strong>sconhece<strong>do</strong>r <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os seus problemas<br />

pessoais, ocupan<strong>do</strong>-se com examinar uma impressão <strong>de</strong>ixada na areia. Po<strong>de</strong>mos também<br />

acrescentar, como precondição <strong>de</strong>ssa realização <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo (inconsciente como era, em to<strong>do</strong>s os<br />

senti<strong>do</strong>s): ‘Você se libertará <strong>de</strong> seu esposo inútil pela morte ou encontrará forças para separar-<br />

se <strong>de</strong>le.’ A primeira alternativa ajustar-se-ia melhor à natureza <strong>de</strong> uma neurose obsessiva, ao<br />

passo que a segunda é sugerida pela luta que, segun<strong>do</strong> a profecia, ela <strong>de</strong>veria vencer com êxito.<br />

Como observação, o papel representa<strong>do</strong> pela interpretação analítica é ainda mais<br />

importante nesse exemplo que no anterior. Po<strong>de</strong>-se realmente dizer que a análise criou o fato

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