Número 8 - Janeiro 2006 - Faap
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Governança social global<br />
Segundo Deacon (2000), professor de Política Social Internacional e Diretor do<br />
Programa de Globalismo e Política Social da Universidade de Sheffield, a globalização<br />
afetou as formas com que as políticas sociais são entendidas e analisadas. Ele argumenta<br />
que a globalização: 1) colocou os Estados de bem-estar social em competição uns<br />
contra os outros. O que levanta a questão de qual a melhor política social que mais se<br />
adequa à situação de competição sem minar a solidariedade social; 2) trouxe novos<br />
jogadores para o campo da política social. Organizações internacionais como o FMI,<br />
Banco Mundial, as agências da ONU como a Organização Mundial da Saúde e<br />
Organização Internacional do Trabalho se tornaram importantes prescreventes das<br />
políticas dos países. Organizações regionais como o Merscosul, Asean assim como<br />
organizações não-governamentais têm substituído os governos neste contexto; 3)<br />
gerou um discurso global sobre qual seria a melhor política social. Uma vez que<br />
atores supranacionais se tornaram envolvidos nas políticas sociais, o tradicional debate<br />
interno sobre o Estado de bem-estar social tomou proporções globais com debates<br />
dentro das organizações internacionais e entre estas organizações sobre o que seria a<br />
política social desejável; 4) criou um mercado privado de provisão social. O aumento<br />
do comércio internacional criou a possibilidade de principalmente grupos privados de<br />
saúde, educação e seguro social norte-americanos e europeus se beneficiarem de um<br />
mercado privado focado na classe média internacional.<br />
Ainda segundo Deacon (2003: 14-15), a crescente interconectividade global tem<br />
globalizado os assuntos sociais. Assim, a redistribuição de renda entre fronteiras, regulações<br />
sociais entre fronteiras e direitos sociais independentes das fronteiras são assuntos de<br />
política social global. Desta forma, ele define o campo de política social global como<br />
incluindo redistribuição global de renda, regulação global e direitos sociais globais<br />
moldados por organizações intergovernamentais e não-governamentais, agências e<br />
grupos. Esta definição dá margem ao estudo das agências transnacionais como<br />
influenciadores das políticas sociais locais, bem como as maneiras com que a ONU e as<br />
instituições de Bretton Woods e outros atores supranacionais dão forma à política social<br />
global. A governança social global não implica que os governos sejam irrelevantes na<br />
formulação de políticas sociais, mas que eles convivem com outros níveis de governança<br />
de política como o nível regional da União Européia ou o nível transnacional da ONU.<br />
Ainda em Deacon (2003: 16-19), as discussões em torno de reformas de<br />
governança social global passam necessariamente pelos seguintes temas: fragmentação<br />
institucional e competição em nível global; a definição e financiamento de bens<br />
públicos globais sociais; a extensão dos mecanismos de regulação global social; e a<br />
definição e a pressão para cumprimento de direitos globais sociais.<br />
A fragmentação e competição institucional referem-se ao papel que o Banco<br />
Mundial, FMI, OMC e agências da ONU têm buscado desempenhar no sentido de<br />
influenciar e determinar as políticas sociais locais. Nos últimos anos essas instituições,<br />
a maioria essencialmente econômicas, passaram a dar mais ênfase ao envolvimento<br />
em assuntos não-econômicos, que vão desde meio ambiente até políticas sociais.<br />
No entanto, essa tendência vem acompanhada do problema da coordenação das<br />
ações desses organismos, bem como a distribuição do poder entre os Estados (no sentido<br />
neo-realista) e entre as organizações (no sentido neoliberal-institucionalista) (Caliari: 2001).<br />
104 Revista de Economia & Relações Internacionais, vol.5(8), jan.<strong>2006</strong>