27.08.2013 Views

Número 8 - Janeiro 2006 - Faap

Número 8 - Janeiro 2006 - Faap

Número 8 - Janeiro 2006 - Faap

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

necessário “fornecer um espaço central à influência das convicções humanitárias<br />

e igualitárias dos doadores de ajuda” 11 . Lumsdaine, representante do chamado<br />

“construtivismo liberal”, frisa ainda o modo como as normas internas constituem<br />

os regimes internacionais, sublinhando a impossibilidade de explicar o regime<br />

internacional de cooperação ao desenvolvimento, reflexo de uma visão moral da<br />

política internacional, sem levar em conta a mudança normativa.<br />

Não ficaria completa esta referência à tradição liberal se não considerarmos<br />

que existem autores desta corrente que rejeitam o compromisso ético,<br />

entendendo a cooperação ao desenvolvimento como um recurso que faz possível<br />

o que eles identificam como o único meio de atingir a paz e a prosperidade<br />

internacional: o comércio. Neste sentido, alguns Estados convertem-se num<br />

bem tão prezado para o doador, que este continuará exprimindo sua boa vontade<br />

por meio da cooperação, para não colocar em perigo seu acesso ao receptor.<br />

Pode-se fazer uma classificação da literatura mais importante sobre o tema do<br />

nosso artigo, sem pretender com isto exaurir o assunto nem esgotar a riqueza do debate<br />

que nos últimos anos vem se acirrando com as críticas desconstrutivistas e pós-modernas.<br />

Um primeiro grupo de obras se caracteriza por uma abordagem política que<br />

privilegia o uso da Teoria das Relações Internacionais. Estes autores, principalmente<br />

realistas políticos, focam seu estudo nos atores – particularmente o Estado – em suas<br />

capacidades, comportamento, interesses e nas relações que se estabelecem entre eles e<br />

em sua respectiva situação no sistema internacional. As análises prestam especial atenção<br />

ao vínculo entre ajuda e interesse nacional do Estado doador, e à condicionalidade e às<br />

interações que comportam a concessão e a execução da ajuda. Nesta linha encontramse<br />

os estudos de Hans Morgenthau, David Baldwin, Steve Hook e Samuel Huntington 12 .<br />

Em datas mais recentes, Kalevi Holsti avançou mais um passo neste enfoque ao examinar<br />

o fenômeno da ajuda desde uma perspectiva política mais sistêmica. Para Holsti, a ajuda<br />

externa é uma das técnicas de “coerção” e de “recompensa” que integram a moderna<br />

“diplomacia econômica” estatal, sem fugir das regras e lógicas de uma política de poder 13 .<br />

Um segundo grupo de obras coloca a ênfase do estudo da cooperação ao<br />

desenvolvimento nos seus aspectos econômicos e na chamada teoria do<br />

desenvolvimento econômico em suas várias modalidades. A análise concentrase<br />

neste caso na natureza, características e impacto no processo de crescimento<br />

econômico, examinando-se como a ajuda externa afeta a estrutura produtiva e o<br />

comportamento econômico em geral do país de destino. Estes enfoques<br />

econômicos no estudo da ajuda externa surgem no quadro do pensamento<br />

econômico e da teoria do desenvolvimento, conhecendo diferentes etapas e<br />

escolas, mas com um denominador comum: seu caráter descritivo-prescritivo,<br />

que fornece em suas diferentes visões teóricas os correspondentes diagnósticos<br />

do fenômeno do subdesenvolvimento, oferecendo pautas de ação para os<br />

11 LUMSDAINE, D. Moral Vision in International Politics. The Foreign Aid Regime 1949 – 1989. Princeton:<br />

Princeton University Press, 1993, p.29.<br />

12 MORGENTHAU, H. A Political Theory of Foreign Aid. The American Political Science Review, vol. LVI, n.º<br />

2, p. 301-309, 1962; BALDWIN, D. Foreign Aid and American Foreign Policy. New York: Praeger, 1966;<br />

HOOK, S. National Interest and Foreign Aid. Boulder: Lynne Rienner, 1995; HUNTINGTON, S. Foreign Aid<br />

for What and Whom?. Foreign Policy. n.º 1, p. 161-189, 1971.<br />

13 HOLSTI, K.J. International Politics, a Framework for Analysis. Englewood Cliffs : Prentice Hall, 1995, p. 180.<br />

O Sistema Internacional de Cooperação ao Desenvolvimento...., Bruno Ayllón, p. 5-23.<br />

17

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!