Número 8 - Janeiro 2006 - Faap
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necessário “fornecer um espaço central à influência das convicções humanitárias<br />
e igualitárias dos doadores de ajuda” 11 . Lumsdaine, representante do chamado<br />
“construtivismo liberal”, frisa ainda o modo como as normas internas constituem<br />
os regimes internacionais, sublinhando a impossibilidade de explicar o regime<br />
internacional de cooperação ao desenvolvimento, reflexo de uma visão moral da<br />
política internacional, sem levar em conta a mudança normativa.<br />
Não ficaria completa esta referência à tradição liberal se não considerarmos<br />
que existem autores desta corrente que rejeitam o compromisso ético,<br />
entendendo a cooperação ao desenvolvimento como um recurso que faz possível<br />
o que eles identificam como o único meio de atingir a paz e a prosperidade<br />
internacional: o comércio. Neste sentido, alguns Estados convertem-se num<br />
bem tão prezado para o doador, que este continuará exprimindo sua boa vontade<br />
por meio da cooperação, para não colocar em perigo seu acesso ao receptor.<br />
Pode-se fazer uma classificação da literatura mais importante sobre o tema do<br />
nosso artigo, sem pretender com isto exaurir o assunto nem esgotar a riqueza do debate<br />
que nos últimos anos vem se acirrando com as críticas desconstrutivistas e pós-modernas.<br />
Um primeiro grupo de obras se caracteriza por uma abordagem política que<br />
privilegia o uso da Teoria das Relações Internacionais. Estes autores, principalmente<br />
realistas políticos, focam seu estudo nos atores – particularmente o Estado – em suas<br />
capacidades, comportamento, interesses e nas relações que se estabelecem entre eles e<br />
em sua respectiva situação no sistema internacional. As análises prestam especial atenção<br />
ao vínculo entre ajuda e interesse nacional do Estado doador, e à condicionalidade e às<br />
interações que comportam a concessão e a execução da ajuda. Nesta linha encontramse<br />
os estudos de Hans Morgenthau, David Baldwin, Steve Hook e Samuel Huntington 12 .<br />
Em datas mais recentes, Kalevi Holsti avançou mais um passo neste enfoque ao examinar<br />
o fenômeno da ajuda desde uma perspectiva política mais sistêmica. Para Holsti, a ajuda<br />
externa é uma das técnicas de “coerção” e de “recompensa” que integram a moderna<br />
“diplomacia econômica” estatal, sem fugir das regras e lógicas de uma política de poder 13 .<br />
Um segundo grupo de obras coloca a ênfase do estudo da cooperação ao<br />
desenvolvimento nos seus aspectos econômicos e na chamada teoria do<br />
desenvolvimento econômico em suas várias modalidades. A análise concentrase<br />
neste caso na natureza, características e impacto no processo de crescimento<br />
econômico, examinando-se como a ajuda externa afeta a estrutura produtiva e o<br />
comportamento econômico em geral do país de destino. Estes enfoques<br />
econômicos no estudo da ajuda externa surgem no quadro do pensamento<br />
econômico e da teoria do desenvolvimento, conhecendo diferentes etapas e<br />
escolas, mas com um denominador comum: seu caráter descritivo-prescritivo,<br />
que fornece em suas diferentes visões teóricas os correspondentes diagnósticos<br />
do fenômeno do subdesenvolvimento, oferecendo pautas de ação para os<br />
11 LUMSDAINE, D. Moral Vision in International Politics. The Foreign Aid Regime 1949 – 1989. Princeton:<br />
Princeton University Press, 1993, p.29.<br />
12 MORGENTHAU, H. A Political Theory of Foreign Aid. The American Political Science Review, vol. LVI, n.º<br />
2, p. 301-309, 1962; BALDWIN, D. Foreign Aid and American Foreign Policy. New York: Praeger, 1966;<br />
HOOK, S. National Interest and Foreign Aid. Boulder: Lynne Rienner, 1995; HUNTINGTON, S. Foreign Aid<br />
for What and Whom?. Foreign Policy. n.º 1, p. 161-189, 1971.<br />
13 HOLSTI, K.J. International Politics, a Framework for Analysis. Englewood Cliffs : Prentice Hall, 1995, p. 180.<br />
O Sistema Internacional de Cooperação ao Desenvolvimento...., Bruno Ayllón, p. 5-23.<br />
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