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Número 8 - Janeiro 2006 - Faap

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um panorama dos problemas da inteligência artificial, vida artificial, sensorialismo<br />

pós-biológico, próteses cognitivas, (re)programação genética, robótica,<br />

nanotecnologia e suas vinculações com o pós-humano.<br />

Um outro mundo e uma outra vida são possíveis. Uma nova humanidade se<br />

insinua, ligada a uma nova era, valorizando outros quadros conceituais, éticos e<br />

culturais. Experimentações variadas podem surgir nos “interstícios de uma sociedade<br />

que se desagrega” (p. 71). Gorz indica o site Oekonux, “que explora as possibilidades<br />

de uma sociedade e de uma economia diferentes, para além do trabalho, do dinheiro<br />

e da troca” (p. 66), ficando, todavia, mais cativado e próximo da proposta,<br />

extremamente dasafiadora e questionável (diga-se!), da renda de existência,<br />

apresentada e discutida no terceiro capítulo, central na obra e na cartografia intelectual<br />

do autor. A renda de existência seria “social universal garantida incondicionalmente”<br />

(p. 71). Segundo Gorz, funcionaria como forma de transcender a sociedade da<br />

mercadoria e do trabalho, já que indica que este, “como fonte de riqueza, se tornou<br />

cada vez mais superficial, e que entre riqueza e ‘valor’ abriu-se um abismo cada vez<br />

mais profundo” (p. 72). Além disso, a renda significa que “sentido e qualidade de<br />

vida dependem em escala crescente de riquezas particulares, que não podem ser<br />

geradas e adquiridas sob a forma de mercadorias e valor” (p. 72).<br />

A renda de existência seria o instrumento para facilitar o pleno desenvolvimento<br />

das pessoas, além de ser também útil à produção. Já que “todo mundo contribui para<br />

a produção social simplesmente por viver em sociedade”, defende Gorz que todos<br />

“merecem pois essa retribuição que é a renda de existência” (p. 27), entendida como<br />

uma solução para o impasse da economia do imaterial, “uma economia que gera cada<br />

vez mais mercadorias com cada vez menos trabalho produtivo remunerado” (p. 72).<br />

Gorz argumenta que a reivindicação de uma renda de existência refere-se, no<br />

fundo, à necessidade de outro sistema econômico. No capitalismo do conhecimento,<br />

o trabalho “não é mais o único modo de criação de riqueza, nem o único tipo de<br />

atividade cujo valor social deve ser reconhecido”; desta forma torna-se possível pensar<br />

em “redistribuição de uma parte do que é produzido em comum por todos” (p. 73).<br />

Para Gorz, vencido o imperativo da empregabilidade, as atividades excluídas de<br />

valor comercial, fora do mercado, que não produzem nada de mensurável em equivalente<br />

monetário, não podem e não devem, no novo capitalismo que apenas principiamos<br />

experimentar, ser excluídas ou rejeitadas. Diante dos impasses da nossa época defendese,<br />

em O Imaterial, a tese da renda de existência. O autor indica, sabendo-a polêmica e<br />

extremamente heterodoxa: “quando uma proporção crescente das ‘forças de trabalho’<br />

não é mais necessária nem útil para a produção de ‘valor’, a atividade humana pode e<br />

deve se satisfazer (...) na criação de valores intrínsecos e de riquezas não vendáveis. A<br />

renda suficiente garantida é uma condição dessa satisfação” (p. 73).<br />

Sem dúvida, idéias desafiadoras recheiam esse livro intenso. Discernir,<br />

julgar e adequar são tarefas entregues ao leitor – sobretudo porque Gorz,<br />

reconhecendo nossa inteligência e capacidade de renovação crítica, em<br />

momento algum simplifica o nosso trabalho.<br />

O Imaterial, David J. Pereira, p. 142-145.<br />

145

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