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Número 8 - Janeiro 2006 - Faap

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telefonema do ajudante-de-ordens da Força Aérea, que trazia uma mensagem do<br />

general Van Schowen, oferecendo-lhe um avião para que abandonasse o país junto de<br />

sua família. Allende, no entanto, decidiu permanecer no palácio.<br />

Às 8:42 houve a primeira proclamação militar por rádio, assinada pelo general<br />

Pinochet (Exército), general Leigh (Força Aérea), os comandantes-em-chefe, almirante<br />

Merino (Marinha) e general Mendonza (Carabineros). Nessa mensagem o comandante<br />

Roberto Guillard dizia: “Tendo em conta a gravíssima crise social e moral que o país<br />

atravessa [...] o senhor presidente da República deve proceder à imediata entrega de<br />

seu alto cargo às Forças Armadas e aos Carabineros do Chile”. Como resposta, Allende<br />

transmitiu sua terceira e antepenúltima mensagem, recusando-se a entregar o poder.<br />

Já era possível ouvir ruídos de helicópteros e aviões sobrevoando o palácio. Depois, às<br />

9h15, consciente da gravidade da situação, Allende proferiu sua última mensagem:<br />

“[...] quero que aproveitem a lição. O capitalismo estrangeiro, o imperialismo,<br />

unidos à reação, criou o clima para que as Forças Armadas rompessem a tradição que<br />

lhes ensinara Schneider (...) defendendo seus proveitos e privilégios [...] Viva o Chile!<br />

Viva o povo! Viva os trabalhadores! Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza<br />

de que meu sacrifício não será em vão” (Allende apud Verdugo, 2003, p. 132, 133).<br />

Logo depois, uma proclamação militar demandava a rendição imediata do<br />

presidente e anunciava o bombardeio do La Moneda para as 11 horas. A partir de<br />

então deu-se início uma dramática invasão. Allende armou-se de um fuzil soviético,<br />

presente de Fidel Castro, e um capacete dos operários mineiros para resistir. Às 11h52,<br />

a primeira bomba caiu sobre o La Moneda. Quando Allende percebeu que sua<br />

resistência seria em vão, negociou um cessar fogo e organizou uma fila para as pessoas<br />

que estavam presentes no palácio entregarem-se. Logo depois, suicidou-se com a<br />

arma. De acordo com Sader (1991, p. 66):<br />

“O golpe militar pôde triunfar em pouco tempo, dado também o despreparo<br />

em que se encontrava o povo chileno e suas organizações para enfrentar uma situação<br />

para a qual o governo de Allende e os partidos da coalizão dominante (...) não o<br />

haviam preparado. Apenas (...) o MIR (...) denunciava sistematicamente a aproximação<br />

do golpe (...)”<br />

Naquela manhã o Chile presenciou a ruptura de sua democracia, que perdurava<br />

desde 1938. Uma das primeiras providências de Pinochet no governo, rapidamente<br />

reconhecido pelos EUA, foi proscrever o Partido Comunista e prender seus dirigentes.<br />

O país dava agora espaço para uma ditadura repressora que duraria 17 anos e faria<br />

milhares de vítimas, mortas ou “desaparecidas”, sob o governo do general Augusto<br />

Pinochet.<br />

Em 1974, o ex-ministro do Exército, general Carlos Prats, um dos únicos que se<br />

manteve fiel à Allende, foi assassinado no exílio em Buenos Aires. No fim do mesmo<br />

ano, o então presidente norte-americano Ford reconheceu as ações encobertas no<br />

Chile, mas foi apenas em 1999 que o então presidente Bill Clinton ordenou a abertura<br />

dos arquivos secretos, entretanto sem conseguir tornar todos públicos. Por fim, em<br />

2000, a Casa Branca declarou que suas ações “agravaram a polarização política e<br />

afetaram a longa tradição chilena de eleições democráticas, a ordem constitucional<br />

e o império da lei” (Verdugo, 2003, p. 144), lançando um pouco de luz neste<br />

conturbado episódio da história.<br />

O primeiro 11 de setembro..., Fernanda Junqueira Hadura Albano, p. 112-124.<br />

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