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Número 8 - Janeiro 2006 - Faap

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globalismo versus localismo. Há fortes indícios de que os times de futebol dos<br />

países europeus (os times de ponta, principalmente) convivem pacificamente com o<br />

multiculturalismo e com uma visão “paroquial” do mundo, típica dos nacionalismos<br />

estreitos e dogmáticos do século XX (que tantas atrocidades geraram ou asseguraram).<br />

Contudo, discute até que ponto as culturas nacionais podem sobreviver ao inevitável<br />

fluxo da internacionalização. Qual o desafio que se coloca para esses povos (as etnias)<br />

diante da modernidade? As palavras de ordem continuam as mesmas? Unificação<br />

versus fragmentação?<br />

Segundo o autor, um de seus personagens (em “Como o futebol explica um<br />

hooligan sentimental”), Alan Garrison, torcedor do Chelsea (rival do Tottenham<br />

em West London), de origem judaica, ofende seus adversários com insultos antisemitas;<br />

ele também tem saudades de quando seu time levava “dez mil ao estádio”,<br />

dos quais “seis mil dispostos a brigar...” Aquele Chelsea nostálgico acabou?<br />

Sem saber, Alan sintetizou a essência do argumento cultural contra a globalização<br />

(...): o capitalismo das multinacionais priva as instituições locais de seu caráter local,<br />

homogeiniza, destrói tradições e destitui proletários e camponeses nativos das coisas de<br />

que mais gostam. (p.89)<br />

Alan já não consegue ocupar os lugares que ele e seus amigos hooligans ocupavam<br />

no estádio; boa parte do time está nas mãos de banqueiros e muitas mulheres freqüentam,<br />

hoje em dia, os campos, para não falar do conforto e segurança que seguem o rastro dos<br />

grandes investimentos no esporte. Mas que times de futebol no Brasil poderiam se<br />

“orgulhar” de sua modernidade? Contam-se nos dedos de uma só mão...<br />

O autor – voluntariamente ou não –, em seu belo texto, remonta ao dilema<br />

fundamental do homem: mudança versus tradição. Princípio do prazer e princípio<br />

do desempenho? A longa e penosa marcha do homem rumo ao seu destino.<br />

Qual? Civilização ou barbárie.<br />

Marx já sublinhara, há muito tempo, que o capitalismo trazia em seu germe a<br />

destruição do tradicional (arcaico?) e a construção do novo. Isso não foi (e não é)<br />

indolor. Isso não é uma novidade trazida pela globalização, como pensam alguns. Mas<br />

outros fatos chamam a atenção de Franklin Foer, e ele os retrata com senso crítico, bomhumor<br />

e sofisticação. Tome-se, por exemplo, o tema do anti-semitismo. O autor assegura<br />

que o tema, na Europa unificada, não está entre os mais cotados no repertório racista.<br />

Segundo ele, a bola da vez são negros, turcos, árabes etc. Na Hungria, porém, a torcida<br />

do Ferencvaros costuma tratar seus adversários húngaros de “judeus sujos”; um de seus<br />

alvos prediletos é o MTK, clube vencedor que, apesar de seu sucesso, não consegue<br />

atrair mais torcedores: o produto é bom, mas não conquista adeptos. Sua base de apoio<br />

é pequena. Foi fundado por empresários judeus em 1888 e, durante um bom tempo,<br />

ser judeu na Hungria não representava qualquer risco; pelo contrário, eles estavam entre<br />

os mais fervorosos nacionalistas húngaros (informa o autor). Mas,<br />

Depois da queda do Império dos Habsburgo e da desastrosa experiência da revolução<br />

comunista de 1919 2 , essa confortável coexistência chegou ao fim. Os judeus passaram a ser<br />

vistos pelos políticos nacionalistas como os bodes expiatórios preferidos. Esses políticos e seus jornais<br />

transformaram o MTK num poderoso símbolo do caráter pernicioso do judeu (...) (p.81).<br />

2 Também conhecida como Comuna de Budapeste, liderada pelo chefe do Partido Comunista Bela Kun. Vítima<br />

de uma violenta repressão, a Comuna foi destruída e a Hungria tornou-se, lentamente, um dos governos mais<br />

reacionários da Europa no período entre-guerras, sob a ditadura do Almirante Horthy.<br />

138 Revista de Economia & Relações Internacionais, vol.5(8), jan.<strong>2006</strong>

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