Número 8 - Janeiro 2006 - Faap
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O livro de Franklin Foer é uma bela oportunidade de pensarmos nas ricas<br />
e complexas relações entre o esporte e a cultura (no sentido mais amplo possível)<br />
e em alguns mitos que teimam em invadir mentes desinformadas e<br />
preconceituosas. Ou o que dizer da idéia recorrente e enraizada de que a<br />
globalização (ou a internacionalização intensificada do capital) representa a quebra<br />
da tradição, a destruição de estruturas específicas, o fim de laços de identificação<br />
em comunidades, etc. e tal? O livro de Foer nos convida a refletir de modo<br />
menos ingênuo: a lógica do capital teria, antes, contribuído para reforçar e<br />
preservar a diferença, em lugar de eliminá-la. Seria isso bom?<br />
É difícil julgar o nacionalismo (e me detenho no tema porque me parece<br />
central na obra do autor). Em termos políticos, ele não representa,<br />
necessariamente, uma força reacionária ou progressista. O nacionalismo é flexível<br />
e se adaptou a diferentes posições políticas em momentos históricos diferentes.<br />
Por vezes, ele se apresenta como tentativa de construir uma nova formação<br />
cultural ou política (o caso das nações que emergiram da desintegração da URSS<br />
é exemplar; novas nações como um passaporte para a modernidade, isto é, a<br />
União Européia...). O sucesso da Europa, muito antes da própria idéia de<br />
unificação, se deve sobretudo ao sucesso em preservar a unidade de etnias distintas<br />
sob um mesmo teto cultural e territorial, sem esmagá-las. Não há, no mundo<br />
moderno, como ter uma única identidade. Para não pôr em risco a própria<br />
sobrevivência de uma comunidade, a questão da identidade deve ser encarada<br />
como um jogo aberto, complexo e infindável de reconstrução. É como se mover<br />
em direção ao futuro sob o olhar judicioso do eterno retorno do passado.<br />
Se nos perguntarmos o que a globalização trouxe de bom para o futebol<br />
brasileiro, bem que a resposta poderia ser: aprendemos que, mesmo perdendo<br />
para o Equador ou para Honduras, podemos vencer um campeonato mundial.<br />
Aprendemos com os nossos erros, mas aprendemos com os erros dos outros.<br />
Nossos jogadores descobriram o mundo e por ele foram descobertos. Nosso<br />
futebol melhorou, também, pelo fato de que nossos craques deixaram de se<br />
achar os melhores e tiveram de provar que eram os melhores. Onde? Nas terras<br />
dos pernas-de-pau (em regra, é claro!).<br />
O livro de Foer nos ajuda a entender a nós mesmos, entendendo os “outros”.<br />
E isso não é pouco...<br />
Como futebol explica o mundo..., Antônio Sérgio Bichir, p. 136-139.<br />
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