Número 8 - Janeiro 2006 - Faap
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Portanto, se há um intermediário que, em comparação com o caso sem<br />
intermediação, prometa aos investidores uma maior compensação para o<br />
consumo no período 1, bem como uma menor compensação para o consumo<br />
no período 2, tal intermediário estará contribuindo para que os riscos<br />
envolvidos sejam melhor compartilhados. Em termos específicos, o<br />
intermediário pode obter esse resultado por meio do desenho de um contrato<br />
de depósito a prazo que assegure ao depositante o vetor desejado de<br />
compensações futuras. Como esse vetor contém uma compensação para o<br />
consumo no período 1 maior que no caso sem intermediação, o intermediário<br />
financeiro estará contribuindo decisivamente para melhorar a liquidez e o<br />
compartilhamento dos riscos.<br />
Essa capacidade de concatenar aplicadores e captadores com perfis distintos de<br />
preferências quanto aos vencimentos está diretamente visível no caso de intermediários<br />
financeiros bancários, ou seja, de bancos que operam funções de gestão de portfólios,<br />
além de sua típica atuação no sistema de meios de pagamento. De acordo com o<br />
estereótipo do banco “puro” como intermediário financeiro, este corresponde a<br />
uma estrutura patrimonial que congrega passivos líquidos (depósitos) com ativos<br />
ilíquidos (crédito bancário). A fragilidade financeira de sua estrutura, isto é, o<br />
descompasso de prazos de vencimento, de risco e de liquidez entre seus ativos e<br />
passivos, é justamente o mecanismo pelo qual pode conciliar preferências, no estilo<br />
Diamond & Dybvig acima.<br />
Certamente, a coordenação entre preferências distintas de captadores e<br />
aplicadores também pode ser obtida por meio do uso de securities como instrumentos<br />
de financiamento, ou seja, mediante ações e títulos de dívida negociáveis em mercados<br />
secundários. No entanto, mesmo neste caso, a intermediação via agentes nãobancários<br />
(fundos mútuos e demais investidores institucionais, bancos de<br />
investimento) permite a liquidação de ativos, para o aplicador, dentro da própria<br />
estrutura patrimonial do intermediário e sem necessariamente a passagem pelo<br />
mercado dos ativos. Há, portanto, economia de liquidez.<br />
Como se vê, existe um ganho pelo lado do passivo da intermediação financeira<br />
também quando se trata de ativos negociáveis. Somam-se a estes os ganhos com a<br />
gestão de portfólios, ou seja, pelo lado dos ativos de ambos os intermediários<br />
bancários e não-bancários. Cumpre lembrar, é claro, que os ganhos permitidos pela<br />
existência do sistema financeiro e da intermediação são potenciais, podendo seu<br />
mau funcionamento concretamente implicar perdas sociais.<br />
3. Assimetrias de informação e regulação financeira<br />
Os ganhos com o sistema e a intermediação nas finanças ressaltados acima<br />
decorreram do reconhecimento de que há imperfeição informacional e ausência<br />
de mercados completos (para todos os atributos de tempo, de espaço e de estados<br />
da natureza concernentes aos ativos). O teorema Modigilani-Miller demonstrou<br />
que, se os mercados são perfeitos, as decisões ótimas e o correspondente equilíbrio<br />
econômico resultante independem da estrutura financeira. Por outro lado, foi<br />
justamente da observação de informações imperfeitas e da inexistência de<br />
mercados completos que se depreendeu, aqui, tanto a funcionalidade da existência<br />
58 Revista de Economia & Relações Internacionais, vol.5(8), jan.<strong>2006</strong>