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Número 8 - Janeiro 2006 - Faap

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(Hudson, 1994, p. 47). As sete semanas entre a contagem das urnas e a<br />

confirmação do vencedor pelo Congresso (método utilizado pelo sistema<br />

eleitoral chileno) foram extremamente tensas.<br />

A vitória de Allende causou imensa preocupação ao governo norte-americano,<br />

temeroso de outra revolução como a cubana. É célebre a frase de Henry Kissinger<br />

(Verdugo, 2003, p. 36), que resumia essa sensação: “I don’t see why we should<br />

have to stand by and let a country go Communist due to the irresponsibility of its<br />

own people.” Logo após os resultados das eleições, o alto escalão norte-americano<br />

decidiu começar a agir, de forma a impedir a posse de Allende.<br />

Segundo Hitchens (2002, p. 89, 90), algumas corporações norte-americanas<br />

presentes no Chile, como a ITT, a Pepsi-Cola e o Chase Manhattan Bank, também<br />

se preocupavam. De acordo com o autor, “uma série de reuniões em Washington,<br />

realizadas onze dias depois da vitória de Allende, definiu essencialmente o destino<br />

da democracia chilena.” Em suas notas, Helms, então diretor da CIA, deixa<br />

clara a intenção de Nixon em não permitir a posse de Allende: o então presidente<br />

não estava preocupado com riscos ou custos. Foi criado um grupo especial em<br />

Langley, Virginia, que seria responsável pelo desenrolar de uma “política de<br />

dois trilhos” para o Chile: uma delas (Track One), liderada pelo embaixador<br />

norte-americano em Santiago, caracterizava-se pela diplomacia; a outra (Track<br />

Two), clandestina, era liderada pelo diretor da CIA, com a responsabilidade de<br />

desestabilizar o governo eleito, podendo “recorrer, inclusive, ao crime para<br />

conseguir o objetivo”. O projeto recebeu o nome de “fubelt”, criado a partir de<br />

duas “letras-código” para denominar o Chile (“fu”), somadas à “belt”, ou<br />

cinturão em inglês (Verdugo, 2003, p. 42-45).<br />

De acordo com Hitchens (2002), havia dois obstáculos para o<br />

desenvolvimento dessa intervenção: um deles era a longa tradição chilena de nãoenvolvimento<br />

militar na política; o outro era o general democrático e<br />

constitucionalista René Schneider Chereau, comandante-em-chefe do Exército.<br />

Segundo Verdugo (2003, p. 49), a “doutrina Schneider” consistia na nãointervenção<br />

na política, na aceitação da Constituição e das leis da República. Tendo<br />

em vista esses obstáculos, concluiu-se que a solução seria raptar Schneider, fazendo<br />

parecer que tal ação tivesse sido planejada por facções esquerdistas e pró-Allende,<br />

causando clima de insegurança e inquietação, o que deveria acarretar no veto do<br />

Congresso para a posse. Tal decisão esbarrava, entretanto, na lealdade dos oficiais,<br />

bem como na divisão dos círculos militares chilenos.<br />

O governo norte-americano resolveu, então, voltar-se ao grupo fascista Patria<br />

y Liberta. A pessoa indicada seria o oficial Viaux, que possuía vínculos com o<br />

grupo fascista, e que já participara de uma tentativa de golpe em 1969 contra Frei.<br />

Havia também uma facção comandada pelo general Camilo Valenzuela, chefe da<br />

guarnição na capital. Telegramas trocados entre a CIA e o grupo “dois trilhos” no<br />

Chile, em 18 de outubro de 1970, relatam as conspirações para o golpe.<br />

Houve duas tentativas frustradas de raptar Schneider: a primeira em 19 de<br />

outubro, comandada por Valenzuela, e a segunda por Viaux. O “sucesso” só viria<br />

em 22 de outubro, quando Viaux finalmente assassinou Schneider. Após o crime,<br />

tanto Viaux quanto Valenzuela foram julgados pela corte chilena e condenados<br />

O primeiro 11 de setembro..., Fernanda Junqueira Hadura Albano, p. 112-124.<br />

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