Número 8 - Janeiro 2006 - Faap
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perdão da dívida externa dos países mais pobres, e a abertura comercial, ao responder,<br />
em parte, às velhas reivindicações dos países em desenvolvimento sobre o acesso aos<br />
mercados dos países industrializados e sobre a supressão do protecionismo em setores<br />
chave como a agricultura ou têxtil. Uma das “idéias-força” deste consenso, em que<br />
coincidem setores tão díspares como os economistas neoliberais e ONGs como<br />
Oxfam internacional, é a relação causal existente entre o protecionismo agrário dos<br />
países industrializados e a pobreza dos países em desenvolvimento.<br />
À primeira vista, essa “nova agenda” de desenvolvimento, que encontra<br />
sua máxima expressão nos Objetivos do Milênio das Nações Unidas para o ano<br />
de 2015 com ênfase na luta contra a pobreza, está propondo novas prioridades<br />
da ajuda, mais relacionadas com os problemas expostos pela globalização<br />
(imigração, terrorismo, etc.). Mas são muitos os autores que, a partir de um<br />
exame mais cuidadoso, pensam que ela é o resultado de uma revisão dos interesses<br />
nacionais dos doadores que, de forma gradual, vão incorporando essas questões.<br />
Seja como for, o certo é que se pode considerar que, no momento atual, o<br />
sistema internacional de cooperação ao desenvolvimento e as políticas de ajuda<br />
se encontram num momento de transição no qual se verifica que as fórmulas,<br />
agendas e arranjos institucionais do período da guerra fria estão perdendo sua<br />
validade. Ao mesmo tempo constata-se que ainda não surgiu um novo modelo<br />
de cooperação que responda às exigências do mundo da globalização. A<br />
intensidade do debate explica-se, em parte, pelos visíveis vínculos que existem<br />
entre a ajuda ao desenvolvimento e a configuração de uma nova ordem mundial,<br />
e a forma como se resolvam dentro dessa “ordem” problemas como a eqüidade,<br />
a justiça e a dignidade humana, o que inevitavelmente irá afetar a natureza e o sentido<br />
da globalização e as mudanças em curso na sociedade internacional.<br />
Sendo assim, essas questões ganham relevância na ótica das relações internacionais,<br />
uma vez que cabe relembrar que no mundo não existe uma autoridade política<br />
centralizada, e que os regimes internacionais representam apenas uma particular<br />
modalidade de “governança sem governo”, e que suas regras e instituições o são<br />
também desta particular “ordem social que é a sociedade internacional”. O atual<br />
sistema internacional de cooperação ao desenvolvimento é um fiel reflexo de uma<br />
sociedade de Estados escassamente integrada e regulamentada e, mais que um “sistema<br />
global de bem-estar social” ou uma “política global de coesão”, é um imperfeito<br />
esquema de beneficência pública no qual os recursos se alocam de forma voluntária e<br />
sem obrigações a respeito de sua quantidade, nem critérios objetivos com respeito aos<br />
seus beneficiados. Como frisa Björn Hettne, “se é possível falar de um sistema global<br />
de bem-estar social, trata-se de alguma coisa verdadeiramente embrionária e utópica” 9 .<br />
Porém, uma agenda de reformas das instituições internacionais que detém competências<br />
em matéria de cooperação ao desenvolvimento faz-se a cada dia mais necessária e é<br />
apoiada por novas forças sociais que demandam um sistema internacional de cooperação<br />
ao desenvolvimento baseado nos ideais de eqüidade, justiça e democracia para toda a<br />
humanidade, justificando-se a cooperação e as políticas de ajuda como um esforço<br />
coletivo pelo qual vale a pena lutar.<br />
9 HETTNE, B. Development Theory and the Three Worlds: Towards an International Political Economy of<br />
Development. Harlow: Longman, 1995, p.154.<br />
O Sistema Internacional de Cooperação ao Desenvolvimento...., Bruno Ayllón, p. 5-23.<br />
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