Número 8 - Janeiro 2006 - Faap
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de instituições etc. – foram emergindo e evoluindo, ao longo do tempo, para lidar<br />
tanto com as falhas de mercado derivadas da assimetria de informações quanto com<br />
as colocadas pela própria vulnerabilidade financeira intrínseca à atividade bancária 7 .<br />
Os principais argumentos para justificar a supervisão e a regulação financeira<br />
são a proteção dos depositantes e a salvaguarda da estabilidade dos sistemas de<br />
pagamentos e financeiro, ou seja, amenizar os problemas decorrentes das assimetrias<br />
de informação e dos riscos sistêmicos de vulnerabilidade financeira. Mas a regulação<br />
financeira também pode ser utilizada para outros fins, como influenciar a estrutura<br />
industrial (Gertler e Rose, 1994), o desenvolvimento econômico (Fry, 1995;<br />
Studart, 1995) ou objetivos sociais (Herring e Litan, 1996).<br />
As redes de segurança e a regulação são formatadas à luz das experiências<br />
históricas específicas de crises financeiras e de pressões por regulação. Por outro<br />
lado, há traços em comum entre as diversas experiências nacionais, além de<br />
interinfluências. Conforme veremos no próximo item deste trabalho, a arbitragem<br />
entre distintas redes e regulações nacionais e as pressões por sua convergência<br />
tornaram-se crescentes nas últimas décadas.<br />
As redes de segurança transferem riscos para o governo, ao mesmo tempo em<br />
que promovem o “aprofundamento financeiro”. Como observa Brock (1998:1):<br />
“Assim como os bancos podem carregar o risco residual de muitos projetos<br />
diversificados de forma melhor que agentes individuais, o governo, ao segurar um<br />
conjunto diversificado de bancos, pode carregar o risco residual de falência bancária<br />
de modo melhor que qualquer conjunto de depositantes em um banco individual. A<br />
despeito de se dizer freqüentemente que a melhor rede de segurança é aquela que<br />
resulta em participantes do mercado comportando-se como se ela não existisse, o<br />
fato é que redes de segurança bancária bem delineadas devem alterar o<br />
comportamento bancário e aprofundar a intermediação financeira, mediante<br />
alguma transferência de risco para o governo.”<br />
Por outro lado, como já aludimos acima, a presença de redes de segurança<br />
cria problemas próprios de seleção adversa e risco moral, além dos naturalmente<br />
gerados pela presença de assimetrias de informação nas transações financeiras. A<br />
existência de seguros de depósitos e/ou de empréstimos do banco central<br />
aumenta os incentivos dos bancos a incorrer em riscos, o que finda elevando a<br />
probabilidade de recurso a eles (Mishkin, 1992). Da mesma forma, há um efeito<br />
em termos de seleção adversa no tocante aos tipos de empresários que são atraídos<br />
a investir no ramo bancário, com as redes funcionando como estímulo à entrada<br />
de empresários mais propensos ao risco (Larraín, 1994). Necessidades específicas<br />
de supervisão e regulação se colocam para enfrentar tais problemas.<br />
Ademais, não obstante a regulação e a supervisão tenham como<br />
funcionalidade potencial básica evitar o colapso financeiro e, eventualmente, o<br />
risco sistêmico, seus custos, entretanto, podem ir além desses problemas de<br />
risco moral e seleção adversa. São eles: i) custos diretos, sob a forma de pessoas,<br />
7 Evidências empíricas da proliferação de crises bancárias no passado recente podem ser encontradas em Caprio e<br />
Klingebiel (1996), onde foram identificadas crises bancárias em 69 países desde o fim dos anos 70. Lindgren, Garcia<br />
e Saal (1996), por sua vez, reportam que quase três quartos dos países membros do FMI experimentaram problemas<br />
significativos no setor bancário entre 1980 e 1995. Uma conexão detalhada entre redes de segurança financeira e<br />
crises bancárias em economias emergentes é desenvolvida em Canuto e Lima (2003).<br />
66 Revista de Economia & Relações Internacionais, vol.5(8), jan.<strong>2006</strong>