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Número 8 - Janeiro 2006 - Faap

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Antes de 1945, as políticas de ajuda não existiam como tais. Sua evolução desde o<br />

fim da Segunda Guerra Mundial responde em grande medida às transformações<br />

que experimentou o mesmo sistema. Björn Hettne sublinhou o caráter histórico e<br />

contingente do SICD ao afirmar que “a ajuda internacional, ao menos como um<br />

traço permanente das relações internacionais, é um fenômeno bastante novo. Não<br />

sabemos, inclusive, quão permanente ele é” 3 .<br />

É bastante óbvio que em sua configuração atual o SICD não responde a um<br />

desenho ordenado e coerente nem a critérios supostamente racionais. A aparição da<br />

ajuda ao desenvolvimento e sua atual fisionomia é o resultado das dinâmicas históricas<br />

que têm dado forma ao sistema internacional contemporâneo. Em primeiro lugar,<br />

a confrontação Leste-Oeste e o bipolarismo. Em segundo lugar, o processo de<br />

descolonização e o conflito Norte-Sul. Em terceiro lugar, as dinâmicas da globalização<br />

e a paulatina integração da economia mundial. Os três processos estão muito<br />

relacionados, sendo essas três dinâmicas a base da explicação da maior parte dos<br />

acontecimentos-chave na evolução da cooperação ao desenvolvimento. Como<br />

resultado desses processos simultâneos, a concessão de ajuda ao desenvolvimento<br />

se converteu num dos mecanismos de relação mais freqüentes entre os países<br />

industrializados e os países em desenvolvimento. A ajuda é também um elemento<br />

importante da atividade diplomática e da política exterior tanto dos doadores como<br />

dos receptores, pela qual se persegue legitimamente o respectivo interesse nacional.<br />

Nos dias de hoje, a situação não é muito diferente: a cooperação ao<br />

desenvolvimento, como parte inseparável da sociedade internacional, imersa em<br />

um processo de globalização acelerada, está atravessando um período de transição e<br />

mudança de resultados ainda imprevisíveis, gerando um intenso debate internacional<br />

com respeito a seu presente e futuro. Neste debate está em questão a mesma<br />

justificativa das políticas de ajuda, e, sobretudo, os argumentos político-estratégicos<br />

e econômicos nos quais se fundamentou durante décadas: no mundo do pós-guerra<br />

fria, a necessidade de sustentar os aliados estratégicos em áreas periféricas não é tão<br />

imperiosa, e é mais difícil justificar os programas de ajuda econômica invocando o<br />

argumento da segurança nacional, pelo menos em sua variante clássica, ainda que<br />

existam óbvias exceções como a contínua ajuda dos Estados Unidos a Israel e outros<br />

aliados no Oriente Médio. Este argumento, não obstante, parece recuperar sua<br />

atualidade após a guerra do Afeganistão, como demonstra o forte aumento da<br />

ajuda dos EUA ao Paquistão ou para as ex-repúblicas soviéticas desta zona, em<br />

paralelo à mesma negativa dos EUA em aumentar a ajuda para o desenvolvimento<br />

às vésperas da Cúpula de Monterrey sobre o financiamento do desenvolvimento.<br />

Tampouco seria fácil justificar a ajuda a partir dos velhos laços coloniais, após várias<br />

décadas de independência e de experiências de construção nacional fracassadas, que<br />

têm diluído as responsabilidades históricas das ex-metrópoles. Como assinalou<br />

Hewitt, após a queda do muro de Berlim se tem assumido que as políticas de ajuda<br />

necessitam de reforma e que a ajuda não pode seguir sendo “nem um instrumento<br />

da guerra fria, nem uma relíquia das primeiras fases da descolonização” 4 . Os<br />

3 HETTNE, B. Development Theory and the Three Worlds: Towards an International Political Economy of<br />

Development. Harlow: Longman, 1995, p.154.<br />

4 HEWITT, A . Crisis or Transition in Foreign Aid. London: Overseas Development Institute, 1994, p.4.<br />

O Sistema Internacional de Cooperação ao Desenvolvimento...., Bruno Ayllón, p. 5-23.<br />

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