Número 8 - Janeiro 2006 - Faap
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assemelha a uma prestação de serviços” (p. 90). O trabalho, classicamente medido<br />
em unidades de produto por unidades de tempo (Adam Smith), indicador da<br />
riqueza criada, passa a ser crivado pela lente da “motivação” (p. 18), deixando<br />
de ser material e, por isso mesmo, quantificável.<br />
“As contribuições individuais para o resultado coletivo”, observa Gorz,<br />
“se tornaram evidentemente não mensuráveis. As noções de duração e de<br />
quantidade de trabalho perderam sua pertinência” (p. 60). Nesse sentido os<br />
anseios de mensuração se estilhaçam – a questão é de relação de forças, e não<br />
relações de equivalência. A racionalidade econômica deixa de ser o que já foi. Os<br />
critérios habituais de “rendimento” devem ceder lugar ao critério de<br />
“desenvolvimento humano”: o capitalismo, prestes a atravessar uma nova<br />
fronteira, ruma a uma outra economia. Os empregados devem se tornar empresas,<br />
internalizar a lógica dominante da concorrência e do lucro, mobilizando seu<br />
“capital humano” (Gorz também o chama de “capital conhecimento” ou “capital<br />
inteligência”, ver p. 16) no sentido da superação das relações salariais tradicionais.<br />
Não é mais a soma do trabalho individual que conta, mas a pertinência e a<br />
qualidade dos resultados. Para as indústrias taylorizadas, a cultura deve ser<br />
abandonada diante da divisão parcelada do trabalho. Agora, no estágio imaterial<br />
do capitalismo, aponta o autor, a divisão especializada e hierarquizada do trabalho<br />
vem sendo abolida. Os trabalhadores do pós-fordismo (ou Toyotismo, rótulo<br />
usado por Jeremy Rifkin) “devem entrar no processo de produção com toda a<br />
bagagem cultural que eles adquiriram nos jogos, nos esportes de equipe, nas<br />
lutas, nas disputas, nas atividades musicais, teatrais etc.” (p. 19). O conhecimento<br />
se flexibiliza e assume posição de destaque como base da inovação, da<br />
comunicação e da realização criativa.<br />
Nas atividades do imaterial, desligadas do trabalho de produção de algo<br />
palpável, a vivacidade, a capacidade de improvisação e de cooperação somam-se<br />
coletivamente numa polifonia extremamente útil para as corporações, polifonia<br />
que não pode ser medida ou comprada por dinheiro algum. Trata-se de um<br />
novo design da riqueza, envolvendo profissionais mais preocupados com a<br />
formação e mobilização total das competências cognitivas e potencialidades<br />
mentais do que com a posse de valores materiais.<br />
Nesse contexto destacam-se as dinâmicas que mobilizam o virtuosismo do<br />
profissional. “No limite”, afirma Gorz, “não é mais o sujeito que adere ao<br />
trabalho; mais que isso, é o trabalho que adere ao sujeito” (p. 22). Os<br />
colaboradores se tornam empreendedores, auto-empreendedores na medida em<br />
que as empreses trocam de pessoal por prestadores de serviços externos:<br />
autônomos, mas igualmente profissionais de alto nível e excelente formação.<br />
Mais do que nunca o velho lema “conhecimento é poder” traduz os anseios de<br />
nossa época, uma época em que a vida também é entendida (gostemos ou não)<br />
como business... o maior deles!<br />
No alicerce das transformações apontadas por Gorz está a desafiadora<br />
questão do valor do conhecimento, assunto discutido criticamente no segundo<br />
capítulo (“Capital imaterial”). O autor mostra que no fim do século XIX a<br />
produção de conhecimento, em certas áreas pioneiras como a indústria química<br />
O Imaterial, David J. Pereira, p. 142-145.<br />
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