Número 8 - Janeiro 2006 - Faap
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Diferenciar as normas e tratamentos pelo grau de desenvolvimento só tem<br />
sentido se existir uma contrapartida real de projeto de desenvolvimento. Caso<br />
contrário, essas nações, colocadas de lado pela fragilidade e necessidade de<br />
proteção, permanecerão cada vez mais isoladas, atrasadas e distantes da inovação<br />
e da eficiência, perpetuando um ciclo vicioso.<br />
Essa miopia se reflete e contamina a postura negociadora. Está implícito que,<br />
se existiu uma evolução e mudança do contexto internacional, ela foi fruto de<br />
alterações nas plataformas produtivas, ou seja, vários países promoveram um salto<br />
produtivo capaz de modificar e fortalecer a vocação natural de suas economias.<br />
Várias nações agroexportadoras tornaram-se exportadoras de semi-manufaturados<br />
e manufaturas. Com essa alteração, as demandas pela regulamentação internacional<br />
do comércio serão diferentes daquelas que foram no passado.<br />
Há muito que a pauta agrícola deixou de ter o significado que tinha no<br />
passado, pelo simples fato de que houve incorporação de capital na atividade agrícola<br />
tradicional. O dinamismo atual está centrado no agronegócio, com a incorporação<br />
cada vez maior do capital na agricultura, e pela interdependência da agricultura<br />
com os setores de serviços e a indústria. Nesse sentido, não nos parece sensato<br />
permanecer numa negociação uníssona e contraproducente, que não aceita negociar<br />
a totalidade dos temas comerciais, mantendo uma postura pouco pragmática de<br />
somente negociar os temas sensíveis quando estiverem garantidas as condições<br />
para o fim dos subsídios agrícolas. Certamente a extinção do protecionismo agrícola<br />
continuará sendo postergada, conforme ficou demonstrado pelo texto aprovado<br />
na última Conferência Ministerial de Hong Kong, que fixou para o ano de 2013<br />
a data “limite” para a eliminação dos subsídios agrícolas, com exceção do algodão,<br />
cuja data foi antecipada para este ano.<br />
Os Estados Unidos e a Europa, principais protagonistas do comércio<br />
agrícola, têm persistido em uma luta de braço: os Estados Unidos propondo a<br />
eliminação de todas as tarifas até 2015 e a redução substancial das tarifas de<br />
agropecuários em proporções acima de 80%, enquanto a Europa resiste,<br />
afirmando estar no seu limite de concessão ao ceder pouco mais de 40%.<br />
Em um mundo cada vez mais globalizado e dominado por blocos comerciais,<br />
os serviços têm sido e continuarão sendo o principal componente do comércio<br />
mundial, muito além da agricultura e da manufatura. A difusão do comércio<br />
eletrônico e das transnacionais está suplantando o comércio tradicional. Hoje é<br />
cada vez mais difícil identificar o país de origem de cada produto e essa nova<br />
realidade traz à tona novas necessidades de regulamentação do comércio<br />
internacional, inclusive no tocante à proteção do consumidor.<br />
Não é por outra razão que as últimas rodadas de negociação têm incluído<br />
uma multiplicidade de temas que por vezes são objeto de discussão em outros<br />
foros internacionais, mas que direta ou indiretamente se relacionam com o<br />
comércio, como é o caso do meio ambiente, do trabalho e da saúde, para citar<br />
alguns exemplos.<br />
Parece-nos, portanto, invertida a pauta de prioridade de discussão nos<br />
últimos debates. Tem-se dado prioridade para a negociação de ofertas em temas<br />
polêmicos, mas menos indigestos como o ‘acesso a mercados’ e os subsídios<br />
Gatt, OMC e a agenda do comércio internacional., Peggy Beçak, p. 24-32.<br />
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