Número 8 - Janeiro 2006 - Faap
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à vista e fazer parte do sistema de pagamentos, desde que seus usuários aceitem sua<br />
variabilidade de valor. Na verdade, constata Goodhart, a diferença intrínseca localizase<br />
entre a pré-fixação (nominal ou real) do valor dos passivos bancários e o<br />
alinhamento de valor entre passivos e ativos dos não-bancários. Por outro lado, não<br />
se pode esquecer que a rigidez de valor dos passivos líquidos bancários constitui<br />
uma característica especialmente preferida para a composição dos meios de pagamento<br />
e da liquidez básica em uma economia de mercado.<br />
Depreende-se das diferenças operacionais que são os bancos as vítimas potenciais,<br />
por excelência, de colapso por contágio. Os bancos funcionam com uma intrínseca<br />
fragilidade financeira, na medida em que o contraste entre, de um lado, a liquidez e<br />
rigidez de valor dos passivos e, de outro, a iliquidez dos ativos os torna particularmente<br />
vulneráveis em situações de liquidação. Corrida aos bancos, ou seja, retirada massiva<br />
de depósitos os encontra com rigidez de compromissos, enquanto seus ativos só<br />
podem ser liquidados com grande desvalorização.<br />
Por isso mesmo, além da supervisão e regulação que controle o grau de exposição<br />
e vulnerabilidade dos bancos, mostra-se necessária a presença de esquemas formais<br />
de seguros de depósitos para proteger o valor destes e garantir a normalidade no<br />
sistema de pagamentos. Adicionalmente, há também a atuação do banco central<br />
como emprestador em última instância. De sua posição externa ao sistema bancário,<br />
o banco central pode injetar liquidez em bancos específicos, mediante empréstimos<br />
a estes, e assim conter os contágios de falta de liquidez e a ineficiência correspondente<br />
em termos de falências desprovidas de razões em fundamentos de ativos. Os mercados<br />
interbancários de crédito, acompanhando a compensação, facilitam a circulação de<br />
liquidez em tempos normais e também podem ajudar contra o risco sistêmico.<br />
Historicamente, o surgimento da figura institucional do banco central esteve<br />
associado ao financiamento do governo, como contrapartida do monopólio da<br />
emissão monetária. Suas funções iniciais incluíam regular a circulação de papelmoeda<br />
e manter a conversibilidade de seus bilhetes em ouro. Com o<br />
desenvolvimento econômico-monetário posterior, os bancos centrais, tendo em<br />
vista dotar o sistema de pagamentos de maior segurança, tornaram-se guardiões<br />
das reservas dos bancos comerciais.<br />
Numa etapa seguinte, a relação com o sistema bancário passou a envolver<br />
também a atuação do banco central como banco dos bancos (realizando operações<br />
de redesconto) e como emprestador em última instância. Em ambos os casos, temse<br />
o banco central atendendo, direta ou indiretamente, à demanda por recursos por<br />
parte dos bancos comerciais quando os mesmos enfrentam problemas temporários<br />
de liquidez (Goodhart, 1987b; 1993).<br />
Enquanto regulador do sistema monetário-financeiro e guardião do sistema<br />
bancário, o banco central tende a atuar como uma instituição sem fins lucrativos.<br />
Contudo, o banco central pode auferir lucros substanciais por meio da coleta de<br />
receita de seignorage, dada sua capacidade de emitir um passivo de custo nulo<br />
utilizável como funding de operações de mercado aberto e de redesconto. Além<br />
disso, uma fonte adicional de lucratividade dos bancos centrais é a nãoremuneração<br />
das – ou parte das – reservas do sistema bancário, as quais compõem<br />
a base monetária (Freitas e Cintra, 1998).<br />
64 Revista de Economia & Relações Internacionais, vol.5(8), jan.<strong>2006</strong>