Número 8 - Janeiro 2006 - Faap
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Em meio à convulsão continental pós-Cuba, ocorreram as eleições de 1964. A<br />
direita resolveu não lançar candidato, apoiando Eduardo Frei para impedir a ascensão<br />
de Allende, novamente candidato. Enquanto Allende oferecia uma “revolução a<br />
seco”, Frei oferecia uma “revolução em liberdade” (Verdugo, 2003, p. 21). A aliança<br />
entre centro e direita venceu a eleição com 56% dos votos, contra 39% da esquerda.<br />
Apesar de sua disputa, os candidatos concordavam em importantes pontos: maior<br />
controle do Chile sobre as minas de cobre pertencentes aos EUA, reforma agrária,<br />
distribuição de renda, maior independência da política externa. Ambos criticavam o<br />
capitalismo, visto como uma causa para o subdesenvolvimento e pobreza.<br />
Durante as eleições de 1964, não somente os EUA apoiaram Frei como<br />
se utilizaram de ações encobertas para impedir a vitória de Allende, temerosos<br />
do surgimento de um país socialista em uma área tradicionalmente de sua<br />
influência. Em um memorando top secret de 14 de agosto de 1964, Dean<br />
Rusk, então secretário de Estado, afirmava: “estamos fazendo nosso maior<br />
esforço encoberto para reduzir a chance de o Chile ser o primeiro país americano<br />
a eleger como presidente um marxista declarado” (Idem, ibidem, p. 21). Essas<br />
atitudes foram reveladas no informe da Comissão Church, de 1975, do Senado<br />
dos EUA, denominado “Ações encobertas no Chile 1963-1973”, que<br />
investigou as acusações de intervenção no país.<br />
Essa comissão revelou que a CIA destinou fundos para a campanha de Frei,<br />
bem como para a fração mais direitista do Partido Radical, com vistas a impedir a<br />
eleição de Allende. Frei recebeu forte apoio também em seu governo: o auxílio e<br />
investimento norte-americano direto multiplicaram-se, com o Chile recebendo mais<br />
ajuda per capita do que qualquer outro país da América Latina.<br />
Porém, nem todas as medidas de Frei agradaram os EUA, como a “chilenização”<br />
do cobre: o governo tomou 51% da propriedade das minas controladas por empresas<br />
norte-americanas (Anaconda e Kennecott), dando-lhes ao mesmo tempo diversas<br />
garantias, como a diminuição dos impostos, taxa de câmbio e de exportação. Frei<br />
promoveu também uma reforma agrária parcial. Em 1967 o presidente promoveu<br />
o direito dos camponeses à sindicalização e às greves. Além disso, os setores marginais<br />
urbanos passaram a se mobilizar. Em crise e incapaz de atender a essas reivindicações,<br />
o governo recuou e abandonou as reformas.<br />
Durante o mandato de Frei, o crescimento econômico se manteve baixo e a<br />
inflação continuou alta. Apesar disso, a distribuição de renda melhorou, assim como<br />
o acesso à educação. Em relação à política externa, o governo, apesar de simpático<br />
aos EUA, tomou um rumo independente, aproximando-se de nações em<br />
desenvolvimento e do bloco comunista, reatando relações diplomáticas com a URSS<br />
e a maior parte de seus aliados. Apesar de hoje reverenciado pelos chilenos, na época<br />
Frei foi criticado pela esquerda por ser muito conservador, e pela direita por ser<br />
muito reformista, legando um cenário instável.<br />
3. As eleições de 1970<br />
As eleições de 1970 contaram com três fortes candidatos à presidência: a<br />
direita lançou o ex-presidente Jorge Alessandri (do Partido Nacional, formado<br />
em 1965 por Conservadores e Liberais); no centro, os enfraquecidos democratas-<br />
O primeiro 11 de setembro..., Fernanda Junqueira Hadura Albano, p. 112-124.<br />
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