Número 8 - Janeiro 2006 - Faap
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se concentraram na Europa e na Ásia. Não obstante, o cenário latino<br />
rapidamente começou a se desestabilizar, tendendo à esquerda devido à crise social<br />
e econômica. Assim, a postura norte-americana começou a mudar na década de<br />
1950, quando se percebeu que a “ameaça comunista” era mais real do que se pensava.<br />
Apesar de algumas iniciativas, o relacionamento com a região continuou a<br />
deteriorar-se. Esse fracasso culminou em 1958 com a intensificação de<br />
manifestações anti-americanas e a exacerbação dos nacionalismos. Finalmente,<br />
em 1959 uma revolução socialista em Cuba tornou-se o mais sério desafio e<br />
revés ao poder norte-americano na região. Os EUA, então, passaram a interferir<br />
direta e indiretamente no continente, receosos de perder mais espaço estratégico.<br />
A primeira ação se deu na Guatemala, em 1954, quando o país auxiliou a<br />
derrubada do presidente eleito, Jacobo Arbenz, cujo programa era considerado<br />
excessivamente esquerdista.<br />
Na década seguinte, o governo Kennedy efetivou a Aliança para o Progresso<br />
(Alpro) que priorizava a extensão da democracia e o combate à pobreza na América<br />
Latina, integrando iniciativas políticas e econômicas para o desenvolvimento<br />
(Pecequilo, 2003, p. 224). Tal plano, contudo, acabou não fazendo jus às<br />
expectativas e, como resultado,<br />
“os norte-americanos voltaram (...) à destituição de regimes percebidos como de<br />
esquerda e o apoio aos governos de direita (...), independentemente de seu caráter<br />
autoritário” (Idem, ibidem, p. 227).<br />
Os EUA lançaram mão do Plano Camelot, financiado pelo Departamento<br />
de Defesa, plano esse que Verdugo (2003, p. 20) classifica como um projeto que<br />
contava com “equipes de contra-insurgência [...] treinadas para esmagar qualquer<br />
foco guerrilheiro”. Com isso, iniciou-se uma série de intervenções. Em 1961, a<br />
República Dominicana sofreu invasão norte-americana, e no ano seguinte os EUA<br />
apoiaram os golpes argentino e peruano. Em 1963, a superpotência apoiou quatro<br />
golpes militares: Guatemala, República Dominicana (novamente), Equador e<br />
Honduras. No ano seguinte foi a vez do golpe brasileiro de 31 de março. Em<br />
1966, a Argentina sofreu outro golpe, novamente apoiado pelos EUA.<br />
Paralelamente, Cuba, por sentir-se isolada e ameaçada, fomentava movimentos<br />
revolucionários, o que acabou por intensifcar a reação norte-americana. Foi neste<br />
período que o Chile elegeu para a presidência o candidato pela Unidade Popular<br />
(UP) Salvador Allende, foco de nossa análise, no que constituiu a primeira<br />
experiência de transição pacífica ao socialismo. Allende, no entanto, sofria enorme<br />
oposição por parte de diversos setores da sociedade chilena e do governo dos<br />
EUA mesmo antes de ser eleito, e tal situação apenas se deteriorou com sua vitória,<br />
sendo destituído três anos após sua posse.<br />
2. Chile – breve história<br />
Entre 1938 e 1973, o Chile foi um exemplo de democracia no continente,<br />
apresentando, ao contrário de outros países latino-americanos, um sistema político<br />
pluripartidário e revezamento eleitoral entre diversas coalizões. Exceto por um<br />
breve intervalo de ilegalidade, a esquerda atuava de maneira legítima e se consolidava<br />
como importante força política nas eleições presidenciais e parlamentares.<br />
O primeiro 11 de setembro..., Fernanda Junqueira Hadura Albano, p. 112-124.<br />
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