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Número 8 - Janeiro 2006 - Faap

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serviços que ele provê”. O registro minucioso dos diferentes cargos e funções<br />

de uma quadrilha de traficantes mostra-se interessantíssimo do ponto de vista<br />

didático, constituindo excelente material de ensino para os cursos de Administração.<br />

Tivemos um plebiscito recente sobre a proibição da venda de armas no<br />

Brasil, cujo resultado mostrou que a população é contrária à proibição. É<br />

interessante saber que, nos Estados Unidos, morrem mais crianças afogadas em<br />

piscinas residenciais do que por acidentes com armas de fogo. É claro que a<br />

proporção de piscinas em casas é muito menor no Brasil, assim como o número<br />

de armas. Mas, para quem estava em dúvida sobre como votar, será que o livro<br />

trouxe alguma contribuição?<br />

Na minha opinião, o capítulo mais instigante do livro é o que aborda a<br />

tese, defendida pelos autores, de que a legalização do aborto nos EUA, em<br />

1973, teve forte impacto sobre a redução da criminalidade nos anos 90. Essa<br />

tese custou aos autores muitos ataques de grupos religiosos e também de<br />

intelectuais de esquerda, por ter associado crime à pobreza. Esse é um tema<br />

carregado de “sabedorias convencionais”, onde o crime é resultado da pobreza<br />

e do desemprego, e é fundamental controlar a venda de armas, gerar empregos,<br />

aumentar o efetivo policial etc. Mas o fato de haver fortes correlações entre<br />

esses fatores não leva necessariamente a relações corretas de causa e efeito. Vários<br />

fatores contribuíram para a queda nos níveis de criminalidade naquele país, e os<br />

autores mostram as explicações presentes em artigos publicados nos dez jornais<br />

de maior circulação no país entre 1991 e 2001: aumento do efetivo policial,<br />

estratégias policiais inovadoras, leis mais severas (novamente os incentivos),<br />

envelhecimento da população, economia mais forte, leis mais rígidas de controle<br />

de armas etc. A explicação de Levitt e Dubner não foi mencionada nem uma vez<br />

sequer pelos especialistas que escreveram esses artigos, mas ela é fundamental<br />

para se entender o fenômeno da redução da criminalidade. No primeiro ano<br />

após a legalização do aborto em todo o país, 750 mil mulheres fizeram abortos.<br />

Em 1980, esse número chegou a 1,6 milhão, patamar em que estacionou. Qual<br />

o perfil feminino mais provável de se beneficiar da nova lei? Em geral, a mulher<br />

solteira, menor de 20 anos e pobre, algumas vezes reunindo as três características.<br />

Que tipo de futuro o bebê dessa mulher teria? Essa criança estaria 50% mais<br />

propensa que a média a viver na pobreza; teria uma probabilidade 60% maior de<br />

ser criada por apenas um dos pais. Esses dois fatores estão entre os mais fortes<br />

determinantes de um futuro criminoso. Dito de outra forma, os próprios fatores<br />

que levaram milhões de norte-americanas a fazer aborto também representam<br />

indicadores de que seus filhos, caso tivessem nascido, teriam vidas infelizes e<br />

possivelmente criminosas.<br />

A lei teve outras conseqüências. O infanticídio diminuiu drasticamente,<br />

assim como os casamentos forçados e o número de bebês entregues para adoção.<br />

Todavia, o efeito mais surpreendente, e que levou anos para se fazer sentir, foi o<br />

seu impacto sobre a criminalidade. E os autores demonstram, por meio da análise<br />

de dados de criminalidade em cinco estados norte-americanos que já haviam<br />

legalizado o aborto antes da lei federal de 1973, que o vínculo aborto-crime<br />

apresenta uma relação de causa e efeito e não apenas uma correlação, nem muito<br />

Freakonomics: o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta, Eva Stal, p. 146-150.<br />

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