Número 8 - Janeiro 2006 - Faap
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logo afirma-se como possibilitador do “cálculo racional” existente na racionalidade<br />
prática e mesmo da constituição de conhecimento existente na racionalidade teórica.<br />
Apenas se o agente tomar em consideração os seus b-d´s, enquanto compreendidos<br />
como referindo-se a si, será possível a ação racional assim como o conhecimento<br />
racional. Em última análise o egoísmo parece ser uma condição possibilitadora da<br />
própria desejabilidade. Apenas uma intrínseca referência a si e à sua sobrevivência<br />
parece fundamentar a desejabilidade que o agente atribui a elementos do seu<br />
mundo, via as b-d’s. Assim sendo, o egoísmo 6 é aqui encarado como um elemento<br />
transcendental possibilitador da racionalidade.<br />
Parte 3<br />
Respondida a questão da motivação inicial da racionalidade, torna-se<br />
necessário esclarecer a alegada falência do conceito de sistema de preferências<br />
referida anteriormente, de forma a permitir um aprofundamento da apresentação<br />
do novo modelo de racionalidade. Assim sendo, será pertinente considerar como<br />
ponto de partida a seguinte interpelação: em que consiste a estrutura de<br />
preferências proposta pela teoria da decisão racional e incorporada nas principais<br />
teorias normativas da racionalidade?<br />
Em primeiro lugar trata-se de uma estrutura e, neste sentido, parece<br />
apresentar uma série de características, dentre as quais se podem destacar a<br />
coerência, a consistência e uma determinada continuidade e estabilidade temporal.<br />
Em segundo lugar, essa estrutura é constituída por um conjunto de<br />
preferências, ordenadas segundo a sua desejabilidade relativa, o que permite<br />
avançar com outra característica: a estrutura traduz relações hierárquicas entre<br />
preferências. Mas o que permite a hierarquização das preferências? Em que<br />
consistem essas preferências? A resposta que parece adequar-se mais eficazmente<br />
às propostas da teoria da decisão é que as preferências são uma aplicação dos<br />
desejos do agente, permitindo-lhe hierarquizar um conjunto de objetivos, fins<br />
ou entidades. Neste sentido a estrutura de preferências seria uma decorrência<br />
dos desejos do agente, não ainda aplicando os desejos a entidades concretas,<br />
mas antes criando uma estrutura de desejabilidade em relação a objetivos, fins<br />
ou entidades generalizados. O agente, no momento de tomada de uma decisão<br />
e no sentido de efetuar o cálculo racional da utilidade esperada para cada curso<br />
de ação possível, socorrer-se-ia dessa estrutura de preferências no sentido de<br />
avaliar comparativamente os cursos de ação em causa.<br />
Assumindo a simplificação que esta interpretação da estrutura de preferências<br />
representa, parece-nos, todavia, que o cerne da questão não é descurado, a saber, a<br />
proposta que a teoria da decisão racional efetua relativamente à existência de uma<br />
estrutura de preferências coerente, consistente, temporalmente estável, representativa<br />
de uma hierarquia de desejabilidade de objetivos, fins ou entidades gerais, baseada<br />
na aplicação dos desejos do agente a estes objetivos, fins ou entidades.<br />
Se em termos normativos e intuitivos essa proposta provoca uma adesão<br />
generalizada, talvez devido à “perfeição” lógica e matemática implícita, em termos<br />
6 O egoísmo aqui considerado permite que o agente direcione sua ação para o benefício de outra pessoa,<br />
porém, de alguma maneira, essa ação satisfaz alguma crença ou desejo deste próprio agente.<br />
Racionalidade na ação..., Carlos E. E. Mauro e José P. Maçorano, p. 72-83.<br />
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