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Número 8 - Janeiro 2006 - Faap

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e a farmacêutica, passa a se submeter à divisão hierárquica do trabalho e distribuição<br />

de tarefas características da produção manufatureira comum. Os produtos do<br />

conhecimento começam a ser pensados como mercadorias, destacando-se seu valor:<br />

o de uso entendido como certo e o valor-custo imprevisível. Dos remédios aos<br />

programas de computador mais de um século se passou; a dinâmica, porém,<br />

permanece inalterada: o custo da produção do conhecimento é bastante incerto e<br />

muito diferente do custo de sua reprodução. Produzida uma unidade “primeira”, o<br />

custo para reproduzir outra – tantas quantas se quiser, ilimitadamente – tende a ser<br />

desprezível. O custo marginal unitário de uma semente geneticamente manipulada<br />

ou de um filme, por exemplo, é pequeníssimo diante do investimento para o<br />

desenvolvimento da “idéia”. Essa situação relativamente nova faz com que “o<br />

capitalismo cognitivo funciona de maneira diferente do capitalismo em seu sentido<br />

mais estrito” (p. 36): o que conta são as originalidades, a eficácia e a confiabilidade,<br />

principalmente “transformar a invenção em mercadoria, e pô-la no mercado como<br />

um produto de marca patenteada” (p. 42).<br />

Ganha espaço e força o capital imaterial, abstrato e incalculável. O que vale<br />

determinado conhecimento? Tudo o que se queira. A Nasdaq e o estouro de sua<br />

bolha são ocorrências dessa complexa irracionalidade, ficticiamente apresentada como<br />

coerente racionalidade. A ficção ultrapassa a realidade e passa por mais real do que o<br />

real; impossível mascarar a “dificuldade intrínseca de fazer funcionar o capital<br />

intangível como um capital, de fazer funcionar o capitalismo dito cognitivo como<br />

um capitalismo” (p. 43) – severo anátema.<br />

Em geral, a economia do conhecimento economiza mais trabalho do que<br />

custou. O conhecimento cria valores, por certo importantíssimos, às custas da<br />

destruição de outros valores, igualmente fundamentais. Economiza, paradoxalmente,<br />

quantidades imensas de trabalho social remunerado e abre a perspectiva de uma<br />

evolução rumo à economia da abundância. Porém, estamos socialmente maduros<br />

para esse salto? Adensando a discussão, indaga Gorz: “como a sociedade da<br />

mercadoria pode perdurar, se a produção de mercadorias utiliza cada vez menos<br />

trabalho e põe em circulação cada vez menos moedas?” (p. 43). Abrem-se precedentes<br />

perigosos: crises cada vez mais agudas e profunda descivilização do mundo.<br />

A terceira Revolução Industrial, apoiada no imaterial, expulsa um número<br />

cada vez maior de pessoas da produção real; a superacumulação flexibiliza e<br />

remuneração, gerando a precariedade e a imprevisibilidade de um quadro<br />

aparentemente “instável, vulnerável, marcado por conflitos culturais e<br />

antagonismos sociais” (p. 59). Como saída para esse impasse da superação do<br />

produtivismo, Gorz sugere uma nova forma de subjetivação social, a “produção<br />

de si”. Argumenta: “o apagamento do produtivismo inaugura uma outra relação<br />

com o tempo, com o próprio corpo e com a natureza, que se reflete no<br />

desenvolvimento da capacidade de prazer” (p. 63). Haveria assim tremendas<br />

“conseqüências para nossa compreensão de conceitos como self, autenticidade,<br />

cultura, inteligência” (p. 78). Essa transformação radical da compreensão do<br />

ser-em-si é discutida exaustivamente, com rica apresentação e contextualização<br />

de informações no quarto capítulo. O autor apresenta nesse capítulo, que pode<br />

ser destacado como um ensaio autônomo dentro do projeto de O Imaterial,<br />

144 Revista de Economia & Relações Internacionais, vol.5(8), jan.<strong>2006</strong>

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