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Número 8 - Janeiro 2006 - Faap

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Tendo em vista essas ações de Allende, podemos perceber por que os norteamericanos<br />

preocupavam-se, mesmo após Brejnev declarar que não interessava<br />

à URSS financiar “outra Cuba”. No ano de 1970, foi elaborada por analistas<br />

norte-americanos uma Estimativa Nacional de Inteligência (ENI 1970), e,<br />

segundo Verdugo, os analistas dos EUA<br />

“Previram que a democracia chilena sobreviveria três anos no máximo, até<br />

1973, e logo cairia no comunismo. [...] se as condições de vida dos chilenos melhorassem<br />

no primeiro triênio, Allende disporia de maioria no Congresso. Assim poderia impor<br />

um Estado socialista de tipo marxista, por via pacífica” (Idem, ibidem).<br />

A forma de evitar tal cenário seria boicotar Allende, impedindo que possuísse<br />

maioria no Parlamento. De acordo com arquivos tornados públicos da época,<br />

Nixon disse ao seu gabinete, apenas dois dias após a posse de Allende: “fazer<br />

todo o possível para arruinar Allende e derrubá-lo” (Idem, ibidem, p. 69). No<br />

dia 9 de novembro de 1970, Kissinger distribuiu o Memorando de Decisão n.º<br />

93, assinado por ele, que tinha como tema a política para o Chile, classificado<br />

como top secret.<br />

Pouco depois, Kissinger elaborou um relatório para Nixon, no qual eram<br />

definidos os cinco pontos da guerra “encoberta”: “1. ação política para dividir<br />

e debilitar a coalizão de Allende; 2. manter e ampliar contatos com militares<br />

chilenos; 3. oferecer apoio a grupos e partidos políticos opositores não-marxistas;<br />

4. ajudar certos jornais e utilizar outros meios de comunicação no Chile, que<br />

pudessem criticar o governo de Allende; 5. utilizar meios de comunicação<br />

selecionados (na América Latina, Europa e outros lugares) para destacar a<br />

subversão do processo democrático por parte de Allende e a intervenção de<br />

Cuba e da URSS no Chile” (Idem, ibidem, p. 70, 71).<br />

Apesar disso, o primeiro ano do mandato de Allende foi caracterizado por<br />

um programa de reativação da economia, o qual se baseava na utilização da<br />

capacidade ociosa para atender o aumento da demanda, induzida pelo aumento<br />

dos salários. Um dos resultados foi a redistribuição de renda. A inflação mantevese<br />

controlada, e avançou-se na nacionalização das empresas da lista de<br />

monopólios, bem como na reforma agrária.<br />

Tais avanços refletiram-se nas eleições municipais (ocorridas cinco meses<br />

após a posse), nas quais a Unidade Popular aumentou de 34% para 50,2% sua<br />

participação política. Contudo, ainda no fim de 1971 era possível perceber os<br />

primeiros sinais de crise. A burguesia, prejudicada pelo processo de<br />

nacionalização, parou de investir, e quando a capacidade ociosa foi reabsorvida<br />

os desequilíbrios tornaram-se visíveis. A produção passou a se dirigir ao mercado<br />

negro, por conta dos congelamentos de preço, causando desabastecimento<br />

principalmente dos bens de consumo popular.<br />

As camadas médias, antes favoráveis ao governo devido ao aumento de seu<br />

poder aquisitivo, passaram a afastar-se dele. A oferta de produtos no mercado<br />

formal decresceu, causando descontentamento. A burguesia, depois de ter ficado<br />

na defensiva, retomava sua iniciativa, sabotando “o apoio ao governo, ao mesmo<br />

tempo em que aumentava seus rendimentos vendendo os produtos no mercado<br />

negro, desmoralizando o congelamento” (Sader, 1991, p. 57).<br />

O primeiro 11 de setembro..., Fernanda Junqueira Hadura Albano, p. 112-124.<br />

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