Número 8 - Janeiro 2006 - Faap
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No fim de 1971 iniciou-se a segunda etapa do plano de desestabilização,<br />
com a oposição organizando as “marchas das panelas vazias”, nas quais mulheres<br />
batiam em panelas em sinal de protesto. Já os trabalhadores começaram a tomar<br />
as empresas que sabotavam a produção, principalmente as de bens de consumo popular.<br />
Tais empresas iam se agregando à lista do governo, que decretava sua intervenção,<br />
mas depois a Justiça ordenava a sua devolução aos proprietários. A crise aumentava.<br />
A Democracia-Cristã detinha o controle do Parlamento (com Eduardo Frei<br />
presidente do Senado), e colocava-se como alternativa. O objetivo era isolar Allende,<br />
por meio da inviabilização da nacionalização das empresas e da constante denúncia<br />
de “ilegalidade” do governo. Com a situação do desabastecimento cada dia mais<br />
grave, o governo organizou Juntas de Abastecimento e Preços (JAP), pelas quais<br />
as famílias inscritas recebiam uma “cesta básica”, com preço tabelado. Essa situação<br />
pareceu um sinal ainda mais forte do rumo socialista que o país tomava.<br />
O Informe Church reconheceu o apoio à mídia chilena contra Allende e<br />
constatou que, em 1971, a CIA iniciou um processo de monitoramento dos<br />
oficiais que poderiam auxiliar em um golpe, e enviava listas com os nomes dos<br />
possíveis “candidatos” a Washington. Em novembro do mesmo ano foi entregue<br />
a Kissinger um informe intitulado “Planificação preliminar para uma eventual<br />
ação militar contra o governo chileno”, o qual afirmava haver um plano de altos<br />
oficiais do Exército, Marinha e Carabineiros para derrubar Allende durante a<br />
primavera de 1972 (Verdugo, 2003, p. 96).<br />
O Chile estava, assim, submerso em um clima tenso, com ações terroristas,<br />
bloqueios institucionais e a direita unida contra Allende, com desabastecimento<br />
e greves. A oposição que se iniciara no Congresso passara às ruas. Tais boicotes,<br />
aliados ao corte da ajuda das instituições financeiras internacionais, provocaram<br />
um resultado devastador. O auxílio bilateral dos EUA foi reduzido de US$ 35<br />
milhões, em 1969, para US$ 1,5 milhão em 1971. Os créditos do Eximbank<br />
passaram de US$ 234,6 milhões em 1967 para zero em 1971, além de ter<br />
relegado o país à mais baixa qualificação creditícia. Os empréstimos do Banco<br />
Interamericano de Desenvolvimento (BID), que chegaram a US$ 45,6 milhões<br />
em 1970, foram reduzidos para US$ 2,1 milhões. E o Banco Mundial<br />
simplesmente não concedeu novos empréstimos durante o mandato de Allende.<br />
O Departamento de Estado analisou a possibilidade de expulsar o Chile da<br />
Organização dos Estados Americanos, como feito em 1962 em relação a Cuba<br />
(Idem, ibidem, p. 94). Os EUA cortaram os créditos comerciais, causando<br />
outro foco de instabilidade. Enquanto isso, cresceram a ajuda e o treinamento<br />
militar no Panamá às forças armadas chilenas, com conteúdo altamente<br />
anticomunista e anti-subversivo.<br />
Além disso, o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), que não<br />
integrou a aliança da UP, também estava contra o governo, clamando por uma<br />
revolução. Durante as eleições parlamentares de 1973, a direita tentaria sua<br />
última alternativa legal, por meio da conquista de dois terços dos votos necessários<br />
para a aprovação de um impeachment. Se tal estratégia funcionasse, Eduardo<br />
Frei se tornaria presidente (já que ocupava a presidência do Senado, o primeiro<br />
posto na sucessão presidencial), e a Democracia Cristã assumiria. Apesar da<br />
120 Revista de Economia & Relações Internacionais, vol.5(8), jan.<strong>2006</strong>