— Os alvos deles serão os galeões. São <strong>as</strong> embarcações mais vulneráveis,senhor. Os corsários sabem perfeitamente que é lá que encontrarão acarga mais valiosa. Porém, depressa descobrirão que estão apinha<strong>do</strong>s detrop<strong>as</strong>. Logo, ou ficam a observar e tentam varrer o convés com metralhafina antes de ensaiarem a abordagem, ou tentam afundá-los, para matartantos <strong>do</strong>s nossos solda<strong>do</strong>s quantos conseguirem. O que lhes garantiriauma choruda recompensa <strong>do</strong> sultão.— Nesse c<strong>as</strong>o, como podemos agir de forma a fazer gorar esses planos?Será dem<strong>as</strong>ia<strong>do</strong> tarde para rumar de volta a Palma?— Deve ter si<strong>do</strong> isso que eles calcularam. Seguem rumos convergentes.Se for dada ordem para a nossa flotilha inverter o rumo, eles farão o mesmoe continuarão a aproximar-se de nós. Estaríamos envolvi<strong>do</strong>s em combatemuito antes de atingirmos a proteção <strong>do</strong>s canhões de Palma, senhor.— Nesse c<strong>as</strong>o, Sir Thom<strong>as</strong>, o que me aconselhais a fazer?— Manter <strong>as</strong> galer<strong>as</strong> o mais próximo possível <strong>do</strong>s galeões. Não podemospermitir que o inimigo quebre esse cordão protetor. Disponde umagalera à frente, uma atrás e du<strong>as</strong> de cada la<strong>do</strong> da formação. Os galeões terãode seguir a par, para <strong>as</strong>sistência mútua no c<strong>as</strong>o de o inimigo tentar abordá-los.O maior perigo virá quan<strong>do</strong> o inimigo tentar atrair <strong>as</strong> noss<strong>as</strong> galer<strong>as</strong>para longe d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> posições. Isso não poderá ser permiti<strong>do</strong>, senhor. Temosde manter a formação, aconteça o que acontecer. Da<strong>do</strong> que o número degaler<strong>as</strong> deles é o <strong>do</strong>bro <strong>do</strong> nosso, esta é a nossa única esperança.— Muito bem. — Don Garcia <strong>as</strong>sentiu. — Capitão, temos de nos aproximarde cada uma d<strong>as</strong> noss<strong>as</strong> embarcações à vez, para lhes darmos <strong>as</strong> ordens.Trate disso.— Sim, senhor — acedeu o capitão, antes de se chegar à amurada egritar ordens para que os remos fossem coloca<strong>do</strong>s na água.Richard regressou <strong>do</strong> porão carrega<strong>do</strong> com to<strong>do</strong> o equipamento e arm<strong>as</strong>de Thom<strong>as</strong>. Pousou o far<strong>do</strong> no convés e colocou-se por trás deste, parao ajudar na colocação d<strong>as</strong> plac<strong>as</strong> frontais e <strong>do</strong>rsais da armadura.À medida que a embarcação p<strong>as</strong>sava pelos outros navios na flotilha,o capitão usava um megafone para comunicar <strong>as</strong> ordens. Quan<strong>do</strong> por fimtod<strong>as</strong> <strong>as</strong> galer<strong>as</strong> tinham já recolhi<strong>do</strong> o pano, coloca<strong>do</strong> os remos na água eforma<strong>do</strong> um escu<strong>do</strong> de proteção, <strong>as</strong> vel<strong>as</strong> <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is grupos de navios corsáriosque se aproximavam vin<strong>do</strong>s de ambos os la<strong>do</strong>s já eram bem visíveis<strong>do</strong> convés. Pouco depois, o vigia confirmava sem margem para dúvid<strong>as</strong> aidentidade <strong>do</strong>s persegui<strong>do</strong>res.— Têm estandartes verdes.Richard aproximou-se de Thom<strong>as</strong> e murmurou uma pergunta:— Verdes?— A cor <strong>do</strong> Islão. — Thom<strong>as</strong> inspecionou o escudeiro, puxan<strong>do</strong> pelo108
elmo. Richard usava um modelo comum, com o visor levanta<strong>do</strong>, como faziaThom<strong>as</strong>. — Tens o elmo dem<strong>as</strong>ia<strong>do</strong> largo. Aperta a correia.— Se a aperto mais, acabo sufoca<strong>do</strong>.— E se o usares <strong>as</strong>sim largo, à primeira pancada ele roda na tua cabeçae deix<strong>as</strong> de ver. Tombarás às mãos <strong>do</strong> primeiro corsário suficientementerápi<strong>do</strong> para te apanhar pelo la<strong>do</strong> cego.A ranger os dentes, Richard desapertou a fivela e apertou mais a correia.— Assim está melhor — concor<strong>do</strong>u Thom<strong>as</strong>. Voltou a agarrar o elmoe a dar-lhe uma sacudidela. — E trata de usar manopl<strong>as</strong>, se queres manteros de<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s.— Sim, senhor. — Richard baixou a cabeça. — Como ordenais.Thom<strong>as</strong> virou-se para avaliar o progresso <strong>do</strong> inimigo. As du<strong>as</strong> formaçõesde galer<strong>as</strong> eram bem visíveis, a pouco mais de uma milha de ambosos la<strong>do</strong>s. Os seus estandartes verdes ondulavam como língu<strong>as</strong> de c<strong>obra</strong> aosabor <strong>do</strong> vento ligeiro que soprava sobre o oceano. Por entre os vultos distantesque ocupavam o convés d<strong>as</strong> galer<strong>as</strong>, cintilavam de vez em quan<strong>do</strong>reflexos da luz em metal poli<strong>do</strong>. Thom<strong>as</strong> sentiu algum alívio pela primeiravez desde que <strong>as</strong> embarcações tinham si<strong>do</strong> avistad<strong>as</strong>, já que notou que erammais pequen<strong>as</strong> que <strong>as</strong> galer<strong>as</strong> da flotilha de Don Garcia. Aqueles c<strong>as</strong>cos nãolevavam a bor<strong>do</strong> o mesmo poder de fogo, e não conseguiriam ímpeto suficientepara causar danos aos navios espanhóis em c<strong>as</strong>o de colisão. Ainda <strong>as</strong>sim,constituíam uma séria ameaça aos galeões, sobre os quais tinham umatremenda vantagem de velocidade e man<strong>obra</strong>bilidade. Seria uma competiçãoentre rapidez e poder puro, e Thom<strong>as</strong> lembrou-se <strong>do</strong>s combates deursos a que tinha <strong>as</strong>sisti<strong>do</strong> em Londres. Ali ao menos os ursos, emborapesa<strong>do</strong>s e lentos em comparação com os seus verdugos, não estavam acorrenta<strong>do</strong>s.— Aí vêm eles. — Anunciou o capitão.Uma nuvem de fumo surgiu e dispersou-se velozmente à proa da galeraque liderava o grupo a sul, e pouco depois o som de um disparo decanhão chegou aos ouvi<strong>do</strong>s de quem seguia na popa <strong>do</strong> navio-almirante. Ocorsário alterou o rumo, dirigin<strong>do</strong>-se diretamente para a flotilha espanhola,e <strong>as</strong> outr<strong>as</strong> galer<strong>as</strong> imitaram-no. Quan<strong>do</strong> o som <strong>do</strong> sinal alcançou <strong>as</strong> galer<strong>as</strong>a norte, também el<strong>as</strong> aproaram à força comandada por Don Garcia. Esteobservou <strong>as</strong> man<strong>obra</strong>s inimig<strong>as</strong> e lançou uma pergunta a Thom<strong>as</strong>, sem escondera ansiedade que sentia.— O que é que eles tencionam fazer? Como agiríeis no lugar deles?Thom<strong>as</strong> cerrou os lábios e virou-se para avaliar mais uma vez a aproximação<strong>do</strong> inimigo. Estariam em cima <strong>do</strong>s navios espanhóis em menos demeia hora. Não havia tempo a perder. Não gostava de ter si<strong>do</strong> coloca<strong>do</strong> na-109
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— Sim, senhor — esclareceu Thom
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Um estrondo soou de repente, e Thom
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to, e ouviu-se um estalo quando uma
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Um movimento atraiu-lhe o olhar, pe
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equipagem de um dos canhões. Thoma
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Thomas anuiu.— Senhor, compreendo
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Alguns limitaram-se a tombar e chor
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sentado no convés. Thomas contempl
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Stokely espreitou para a escotilha.
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Uma mudança de ideias, ou outra ca
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desespero e angústia enquanto as t
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— Pergunto-me se será esse o cas
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— Como vos atreveis? — lançou
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leveza. Tinha já alguns traços de
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De tempos a tempos alguns amigos do
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John resmungou, mas sabia perfeitam
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