g<strong>as</strong>. Thom<strong>as</strong> tinha-se acostuma<strong>do</strong> ao hábito <strong>do</strong> capitão, de guardar par<strong>as</strong>i mesmo os seus planos, m<strong>as</strong> ainda <strong>as</strong>sim adivinhava-lhe <strong>as</strong> intenções. LaValette queria eliminar primeiro a mais próxima d<strong>as</strong> galer<strong>as</strong>. Mesmo que ogaleão conseguisse levantar âncora e deixar a baía antes de <strong>as</strong> du<strong>as</strong> galer<strong>as</strong>serem <strong>do</strong>minad<strong>as</strong>, seria fácil para a ágil embarcação de combate da Ordempersegui-lo e capturá-lo.A leste, a luz era já mais forte, e a silhueta da ponta rochosa <strong>do</strong> outrola<strong>do</strong> da baía recortava-se com nitidez contra o céu. O o<strong>do</strong>r pestilento vin<strong>do</strong>d<strong>as</strong> galer<strong>as</strong> inimig<strong>as</strong> chegou ao convés <strong>do</strong> Corça Veloz, juntan<strong>do</strong>-se ao nãomais agradável cheiro que <strong>do</strong>minava o navio cristão.A galera estava já a menos de meia milha <strong>do</strong> inimigo quan<strong>do</strong> soouum toque estridente, um claro sinal de alarme. Thom<strong>as</strong> sentiu na nuca umarrepio gela<strong>do</strong> de ansiedade, e agarrou com toda a força no pique que empunhava.Da ré da galera, a voz de La Valette soou com clareza, dirigin<strong>do</strong>-seaos homens.— Bate<strong>do</strong>r, velocidade de combate! Artilheiros, preparem os canhões!À medida que o tambor começava a marcar um ritmo persistente nacoberta, surgiu um brilho páli<strong>do</strong> na proa da galera: a luz de presença tinh<strong>as</strong>i<strong>do</strong> retirada <strong>do</strong> seu recipiente para fornecer lume aos mestres <strong>do</strong>s canhões,que logo se colocaram junto às su<strong>as</strong> arm<strong>as</strong>, à espera de ordem para fazer fogo.O coração de Thom<strong>as</strong> ia aceleran<strong>do</strong> em comp<strong>as</strong>so com o ritmo <strong>do</strong>tambor, e o convés estremecia debaixo <strong>do</strong>s seus pés a cada remada violenta.Olhan<strong>do</strong> para bombor<strong>do</strong>, avistava pequenos vultos a levantarem-se estremunha<strong>do</strong>sem re<strong>do</strong>r da fogueira na praia. Muitos ficavam atónitos a ver agalera avançar velozmente pela baía na sua direção. Outros apressavam-sea correr para a margem e a entrar na água, começan<strong>do</strong> a nadar na direção<strong>do</strong> galeão. Os que não sabiam nadar empurravam botes para <strong>as</strong> ond<strong>as</strong> eapinhavam-se a bor<strong>do</strong>. Na amurada da mais próxima d<strong>as</strong> galer<strong>as</strong> inimig<strong>as</strong>começavam a alinhar-se figur<strong>as</strong> escur<strong>as</strong>. Muit<strong>as</strong> usavam turbantes e gesticulavamcontra a ameaça que se aproximava, enquanto pegavam n<strong>as</strong> arm<strong>as</strong>.Os gritos corriam livremente pelo espaço que separava os <strong>do</strong>is navios.Entretanto, nem um homem na galera cristã desperdiçava tempo a falar;os únicos sons a bor<strong>do</strong> eram o <strong>do</strong> tambor, o marulhar da água ao longo<strong>do</strong> c<strong>as</strong>co desenha<strong>do</strong> para a velocidade, e os grunhi<strong>do</strong>s abafa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s rema<strong>do</strong>res.Thom<strong>as</strong> voltou a olhar ao longo <strong>do</strong> convés, e conseguiu, à luz aindahesitante, divisar a expressão que preenchia o semblante <strong>do</strong> capitão. La Valettemantinha-se imóvel, a mão esquerda apoiada no punho da espada, orosto, envolto numa barba curta, sempre com ar sério e determina<strong>do</strong>. Er<strong>as</strong>eu costume conduzir os homens à batalha em silêncio, saben<strong>do</strong> perfeitamenteque essa atitude perturbava o inimigo. Só no último instante bradariamum formidável urro coletivo, antes de se lançarem sobre os oponentes.18
Um estron<strong>do</strong> soou de repente, e Thom<strong>as</strong> encolheu-se sem pensar, enquantoestilhaços saltavam pelo ar. Uma pequena nuvem de fumo sobre agalera inimiga denunciava o disparo de um arcabuz. O homem que atirarajá tinha entretanto apoia<strong>do</strong> a longa arma no convés e recarregava-a. Thom<strong>as</strong>olhou para os <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s, para verificar se alguém tinha nota<strong>do</strong> a suareação, m<strong>as</strong> os homens à sua volta mantinham o olhar fixo em frente, e oslábios de Stokely moviam-se em silêncio, enquanto ele rezava para si mesmo.O olhar <strong>do</strong> outro cavaleiro cruzou-se com o de Thom<strong>as</strong>, e ele parou derezar e desviou a vista quan<strong>do</strong> se apercebeu de que estava a ser observa<strong>do</strong>.Viram-se mais penachos de fumo, a que se seguiu o zunir d<strong>as</strong> bal<strong>as</strong> dechumbo por cima d<strong>as</strong> cabeç<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> só um outro disparo atingiu a proa dagalera. Thom<strong>as</strong> forçou-se a manter-se imóvel enquanto via outros disparosa serem efetua<strong>do</strong>s, cada um deles marca<strong>do</strong> por um rápi<strong>do</strong> clarão avermelha<strong>do</strong>e uma nuvem de fumo que se desvanecia em poucos segun<strong>do</strong>s.— Besteiros! — gritou La Valette. — Prepara<strong>do</strong>s!Os solda<strong>do</strong>s da Ordem ainda usavam aquela arma obsoleta. Não possuíao alcance e o poder d<strong>as</strong> arm<strong>as</strong> de fogo empregues pelos turcos, m<strong>as</strong>era mais fácil de manejar e capaz de infligir ferid<strong>as</strong> terríveis quan<strong>do</strong> bem<strong>as</strong>sestada. Um pequeno grupo de homens avançou e ocupou posições emambos os la<strong>do</strong>s da amurada à proa. Usan<strong>do</strong> a engrenagem localizada nab<strong>as</strong>e da arma, puxaram <strong>as</strong> cord<strong>as</strong> atrás antes de colocarem os projéteis nosulco que corria ao longo da sua parte superior.— Disparem à vontade! — veio a clara ordem da popa da galera. Osestalos <strong>do</strong>s arcabuzes inimigos foram respondi<strong>do</strong>s com os sur<strong>do</strong>s baquesd<strong>as</strong> cord<strong>as</strong> libertad<strong>as</strong> de repente da tensão acumulada, levan<strong>do</strong> os dar<strong>do</strong>s adescreverem arcos pouco pronuncia<strong>do</strong>s sobre <strong>as</strong> águ<strong>as</strong> até desaparecerempelo meio <strong>do</strong>s homens que ocupavam o convés <strong>do</strong> navio corsário.Já não havia mais <strong>do</strong> que uma centena de p<strong>as</strong>sos a separar <strong>as</strong> du<strong>as</strong> naves,calculou Thom<strong>as</strong>. Na amurada inimiga estavam dezen<strong>as</strong> de homens deturbante, soltan<strong>do</strong> desafios aos cristãos e brandin<strong>do</strong> cimitarr<strong>as</strong> e piques. Ameio <strong>do</strong> c<strong>as</strong>co já começavam a sair os primeiros remos, enquanto a tripulaçãotentava desesperadamente colocar o navio em movimento. Thom<strong>as</strong>preparou-se para a ordem de dar fogo aos canhões da galera, e viu um <strong>do</strong>smestres a olhar sobre o ombro.— Vá lá, vá lá — resmungava o homem.La Valette aguar<strong>do</strong>u ainda mais um momento, e só então levou <strong>as</strong> mãosem concha à boca e soltou a ordem.— Fogo!19
- Page 1: A presente obra respeita as regrasd
- Page 5 and 6: da mente. Se La Valette tivesse sid
- Page 7 and 8: ordens a serem transmitidas, e um g
- Page 9: — Sim, senhor — esclareceu Thom
- Page 13 and 14: to, e ouviu-se um estalo quando uma
- Page 15 and 16: Um movimento atraiu-lhe o olhar, pe
- Page 17 and 18: equipagem de um dos canhões. Thoma
- Page 19 and 20: avançou, atacando o pique e fazend
- Page 21 and 22: tendão dos seus braços, continuou
- Page 23 and 24: Thomas anuiu.— Senhor, compreendo
- Page 25 and 26: Alguns limitaram-se a tombar e chor
- Page 27 and 28: sentado no convés. Thomas contempl
- Page 29 and 30: Stokely espreitou para a escotilha.
- Page 31 and 32: 5Malta, dois meses depoisOcrescente
- Page 33 and 34: e a pele esticada ao canto da boca
- Page 35 and 36: Uma mudança de ideias, ou outra ca
- Page 37 and 38: desespero e angústia enquanto as t
- Page 39 and 40: — Pergunto-me se será esse o cas
- Page 41 and 42: — Como vos atreveis? — lançou
- Page 43 and 44: leveza. Tinha já alguns traços de
- Page 45 and 46: De tempos a tempos alguns amigos do
- Page 47 and 48: John resmungou, mas sabia perfeitam
- Page 49 and 50: abrir o fecho. Procurou no interior
- Page 51 and 52: citar-lhe detalhes que a prudência
- Page 53 and 54: tre ouviram-no dos lábios do próp
- Page 55 and 56: para o silenciar, e depois de uma b
- Page 57 and 58: — Homem, o teu senhor está? Avis
- Page 59 and 60: 9LondresAescuridão crescia à medi
- Page 61 and 62:
a percorrer. A coluna desordenada d
- Page 63 and 64:
— Hidromel? — As sobrancelhas d
- Page 65 and 66:
— Ao que vejo. Chegastes a Londre
- Page 67 and 68:
10Portanto, e tal como suspeitara j
- Page 69 and 70:
mundo está repleto de pecadores qu
- Page 71 and 72:
haveis criticado Sir Robert e a mim
- Page 73 and 74:
— Sim — admitiu Cecil, sem hesi
- Page 75 and 76:
terá de se tornar a tua segunda na
- Page 77 and 78:
vento que se levantava em rajadas.
- Page 79 and 80:
esponder não apenas ao seu rei, ma
- Page 81 and 82:
— Não. Do que sei de vós, Sir T
- Page 83 and 84:
nhecer melhor o jovem. Sabia bem, p
- Page 85 and 86:
12Ocaminho pelo Norte de Espanha pa
- Page 87 and 88:
coluna e chegar antes dela ao port
- Page 89 and 90:
de gaivotas, pontos negros contra o
- Page 91 and 92:
— Glória, pois, é para isso que
- Page 93 and 94:
quenta e muitos anos. O cabelo era
- Page 95 and 96:
mou as outras potências europeias
- Page 97 and 98:
13Aflotilha tinha deixado o porto d
- Page 99 and 100:
chard assentiu e apressou-se a desc
- Page 101 and 102:
elmo. Richard usava um modelo comum
- Page 103 and 104:
ferro penetrou no casco da galera e