A porta abria-se para um pequeno quarto com uma janela que davapara o pátio tr<strong>as</strong>eiro da c<strong>as</strong>a. Por baixo dessa abertura estavam uma mesa eum banco, ladea<strong>do</strong>s por baús repletos de <strong>do</strong>cumentos. O secretário adiantou-sea Thom<strong>as</strong> e bateu levemente a uma porta na outra extremidade <strong>do</strong>escritório. Depois de uma breve pausa, levou a mão ao ferrolho e abriu aporta, dan<strong>do</strong> um p<strong>as</strong>so para o interior.— Senhor, Sir Thom<strong>as</strong>.— Fá-lo entrar, por obséquio — respondeu uma voz profunda.O homem recuou e fez um gesto a Thom<strong>as</strong>, indican<strong>do</strong>-lhe que entr<strong>as</strong>se.O gabinete da c<strong>as</strong>a <strong>do</strong> secretário de Esta<strong>do</strong> era proporcional à importância<strong>do</strong> seu proprietário. A sala estendia-se <strong>do</strong> pátio d<strong>as</strong> tr<strong>as</strong>eir<strong>as</strong> até àrua principal, para onde davam uma série de janel<strong>as</strong> vidrad<strong>as</strong>. N<strong>as</strong> paredesalinhavam-se estantes replet<strong>as</strong>, mais livros <strong>do</strong> que Thom<strong>as</strong> alguma vezvira juntos. Calculou que deviam estar ali uns quatrocentos a quinhentosexemplares. Uma biblioteca privada verdadeiramente esplêndida, concluiucom inveja mal escondida. Havia du<strong>as</strong> lareir<strong>as</strong>, uma a cada ponta da sala, ecadeir<strong>as</strong> espalhad<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> estantes, <strong>as</strong> suficientes para acolher uns trinta aquarenta convida<strong>do</strong>s. Entre <strong>as</strong> du<strong>as</strong> lareir<strong>as</strong> estava posicionada uma grandesecretária, sobre a qual se via um tabuleiro de madeira que acolhia umapilha de <strong>do</strong>cumentos. Ao seu la<strong>do</strong>, cuida<strong>do</strong>samente dispostos, estavam <strong>do</strong>istinteiros e um punha<strong>do</strong> de pen<strong>as</strong>. Por trás da mesa sentava-se um homemencorpa<strong>do</strong>, com uma veste de seda. O cabelo era apara<strong>do</strong> de forma precisaem torno <strong>do</strong> escalpe, e a barba formava uma ponta declarada sobre umprincípio de duplo queixo. Aparentava ser alguns anos mais novo <strong>do</strong> queThom<strong>as</strong>. No compartimento só estava outra pessoa, um homem magro ede vestes negr<strong>as</strong> que chegavam qu<strong>as</strong>e ao chão. Estava de pé junto a um <strong>do</strong>sfogos, a aquecer <strong>as</strong> cost<strong>as</strong>. Os <strong>do</strong>is olharam para Thom<strong>as</strong> rapidamente, atéque o homem por trás da secretária lhe dirigiu um gesto impaciente.— Vinde, Sir Thom<strong>as</strong>, sentai-vos. Aqui. — Indicou uma d<strong>as</strong> cadeir<strong>as</strong>acolchoad<strong>as</strong> dispost<strong>as</strong> em arco <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> da secretária. — Vós também,meu bom Francis.Thom<strong>as</strong> fez o que lhe era indica<strong>do</strong> e escolheu para se sentar uma cadeirano meio da sala, de forma a que o outro tivesse de se sentar noutro ponto,longe da posição que implicitamente indicava maior importância. Depoisde se acomodarem, Sir Robert debruçou-se para a frente e fixou um olharimperturbável em Thom<strong>as</strong>. O semblante indicava alguma boa disposição, eo tom de voz era agradável.— Espero que a vossa jornada de hoje não vos tenha causa<strong>do</strong> incómo<strong>do</strong>?— Correu tu<strong>do</strong> bem, senhor. As estrad<strong>as</strong> são segur<strong>as</strong>, e a neve era ligeira.Andei bem e depressa.72
— Ao que vejo. Cheg<strong>as</strong>tes a Londres mais depressa <strong>do</strong> que eu esperava.Thom<strong>as</strong> sorriu levemente.— Alguém que é convoca<strong>do</strong> pelo secretário de Esta<strong>do</strong> não fica a desperdiçartempo com inutilidades, Sir Robert. E portanto cá estou, ao vossointeiro dispor.— De facto <strong>as</strong>sim é, e até me atrevo a dizer que a razão por que vosmandei chamar aqui ocupa o lugar principal <strong>do</strong>s vossos pensamentos.— Claro que sim.— Deixai-me então informar-vos de que a vossa presença neste localse deve ao caráter delica<strong>do</strong> da tarefa que tenho ideia de vos confiar. Apesarde a nossa abençoada soberana estar no trono há cinco anos, existem aindamuitos que veem a sua <strong>as</strong>censão ao trono com evidente má vontade, e nãoapen<strong>as</strong> devi<strong>do</strong> ao seu comprometimento com a religião protestante. Suponhoque o nome de John Knox vos seja familiar?— Já o ouvi, sim.— E sabeis sem dúvida como ele vocifera contra o próprio princípiode uma mulher poder <strong>as</strong>cender ao trono. Talvez tenhais até li<strong>do</strong> algum <strong>do</strong>spanfletos que ele lançou acerca disso.— Teria de ser muito tolo para o fazer, Sir Robert. Esses panfletos forambani<strong>do</strong>s. Se bem me lembro, ser encontra<strong>do</strong> na posse de um deles éuma ofensa capital.— Assim é. M<strong>as</strong> estais com certeza familiariza<strong>do</strong> com <strong>as</strong> su<strong>as</strong> teori<strong>as</strong>.— Já ouvi falar del<strong>as</strong>, sim — retorquiu Thom<strong>as</strong> com to<strong>do</strong> o cuida<strong>do</strong>,consciente de que o outro homem na sala o observava, sem dúvida parapoder testemunhar futuramente. — Embora não me recorde quem é que<strong>as</strong> mencionou, para falar com franqueza.— Naturalmente. — Sir Robert sorriu. — E de pouco serviria que euvos pression<strong>as</strong>se quanto a este <strong>as</strong>sunto, e ainda menos utilidade teria sujeitar-vosa algum sofrimento para reavivar essa memória quanto aos nomesenvolvi<strong>do</strong>s nessa conversa. — Gargalhou levemente, como que par<strong>as</strong>ublinhar a irrelevância <strong>do</strong> comentário, m<strong>as</strong> Thom<strong>as</strong> compreendeu perfeitamentea velada ameaça de o submeter a tortura. Estava completamenteà mercê daquele homem, fossem quais fossem <strong>as</strong> su<strong>as</strong> opiniões acerca deKnox ou de outro qualquer <strong>do</strong>s que se opunham à rainha Isabel. Comocatólico, enfrentava uma dupla ameaça. Devolveu o olhar de Sir Robert semdemonstrar qualquer emoção. Instalou-se um silêncio desconfortável, atéque Sir Robert se recostou levemente e ergueu <strong>as</strong> mãos, como se se lembr<strong>as</strong>sede alguma coisa.— Ah! Perdão, esqueço <strong>as</strong> minh<strong>as</strong> maneir<strong>as</strong>. Devia ter-vos apresenta<strong>do</strong>um ao outro. Sir Thom<strong>as</strong>, é com prazer que vos apresento Sir FrancisWalsingham, meu companheiro em muit<strong>as</strong> d<strong>as</strong> taref<strong>as</strong> que desempenho ao73
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da mente. Se La Valette tivesse sid
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ordens a serem transmitidas, e um g
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— Sim, senhor — esclareceu Thom
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Um estrondo soou de repente, e Thom
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