tês e vou direito ao <strong>as</strong>sunto. Tenho pouco tempo antes de zarpar para Malta.O que sabeis da situação?— Só aquilo que o cavaleiro que foi a Inglaterra levar-me a convocatóriame contou, senhor. Disse-me que o Grão-Mestre tinha informaçõessobre os planos <strong>do</strong> sultão, que eram de tomar Malta e erradicar a Ordem deS. João de uma vez por tod<strong>as</strong>.— Assim é — anuiu Don Garcia. — Para proteger <strong>as</strong> su<strong>as</strong> linh<strong>as</strong>, eletem de tomar Malta. E é lá que temos de o travar. Não tenho dúvid<strong>as</strong> sobrea estratégia de Solimão. Ele e os seus alia<strong>do</strong>s corsários têm vin<strong>do</strong> a estendera sua influência para o Mediterrâneo ocidental desde há muitos anos. Acada primavera temos vin<strong>do</strong> a observar o horizonte a leste, à espera <strong>do</strong> <strong>as</strong>salto,m<strong>as</strong> têm-se contenta<strong>do</strong> com breves ataques às cost<strong>as</strong> de Itália, Françae Espanha, apresan<strong>do</strong> navios, ou <strong>as</strong>saltan<strong>do</strong> povoações costeir<strong>as</strong> para conseguirescravos. E pouco temos podi<strong>do</strong> fazer para impedir essa atividade.Pela altura em que recebemos um relatório e despachamos uma força parao local <strong>do</strong> ataque, já o inimigo se escapuliu. Entretanto, tenho feito tu<strong>do</strong>o que posso para preparar <strong>as</strong> noss<strong>as</strong> defes<strong>as</strong> e ter tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> galer<strong>as</strong> a postospara quan<strong>do</strong> cheg<strong>as</strong>se o momento que considerava inevitável. E ele chegouagora. Não há qualquer dúvida. O nosso espião em Istambul viu com ospróprios olhos os preparativos <strong>do</strong> inimigo. Galer<strong>as</strong> e galeões têm si<strong>do</strong> reuni<strong>do</strong>sno Corno Doura<strong>do</strong>, e to<strong>do</strong>s os di<strong>as</strong> chegam à cidade caravan<strong>as</strong> devagões com pólvora, metralha, engenhos de cerco e rações. No exterior d<strong>as</strong>muralh<strong>as</strong>, dezen<strong>as</strong> de milhares de solda<strong>do</strong>s estão acampa<strong>do</strong>s à espera deordens para embarcar. — Recostou-se e colocou <strong>as</strong> mãos sobre os braços <strong>do</strong>cadeirão. — Não há dúvid<strong>as</strong>, os Turcos estão mesmo decidi<strong>do</strong>s a avançar.Chegou o momento que tanto temi. É este o ano em que a nossa fé terá detriunfar ou tombar sob a sombra <strong>do</strong> crescente.— Nesse c<strong>as</strong>o, lutaremos até ao fim — comentou Thom<strong>as</strong>, com firmeza.— E se a Ordem for varrida <strong>do</strong> mapa, a forma como enfrentarmos essadestruição terá de ser inspira<strong>do</strong>ra, para que o resto da Cristandade siga onosso exemplo de combate.— Peço a Deus que estejais certo, Sir Thom<strong>as</strong>. Se os governantes da Europanão se unirem e fizerem causa comum contra esta tremenda ameaça,estaremos perdi<strong>do</strong>s. O nosso povo será força<strong>do</strong> a ajoelhar-se e submeter-seà falsa religião. E pouco me consola saber que nenhum de nós senta<strong>do</strong>s aesta mesa viverá para ver esse dia. Juro-vos que morrerei de espada na mão,e com o abençoa<strong>do</strong> nome de Jesus nos meus lábios ensanguenta<strong>do</strong>s, antesde ser obriga<strong>do</strong> a beijar os pés a Solimão.— Assim o juramos to<strong>do</strong>s — replicou Thom<strong>as</strong>, enquanto se benzia.O silêncio imperou por momentos, até que Don Garcia prosseguiu.— Decidi concentrar <strong>as</strong> minh<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> na Sicília. Sua Majestade infor-102
mou <strong>as</strong> outr<strong>as</strong> potênci<strong>as</strong> europei<strong>as</strong> de que, se querem aliar-se à nossa grandecausa, devem enviar os seus homens e navios para se reunirem a nósna Sicília. Se a fortuna estiver <strong>do</strong> nosso la<strong>do</strong>, terei suficientes navios paraenfrentar a frota de Solimão. E poderei zarpar para sul se ele resolver atacarMalta em primeiro lugar, ou para norte se ele se decidir pela Itália.— Um plano sábio, senhor — concor<strong>do</strong>u Thom<strong>as</strong>.— Sábio? Sim. — Don Garcia sorriu. — M<strong>as</strong>, se não receber tod<strong>as</strong> <strong>as</strong>forç<strong>as</strong> que me foram prometid<strong>as</strong>, pouc<strong>as</strong> esperanç<strong>as</strong> teremos de vitória.Fadrique pigarreou.— Por poucos que venhamos a ser, teremos Deus ao nosso la<strong>do</strong>. Nãopodemos ser derrota<strong>do</strong>s. O Nosso Senhor é omnipotente, e não o permitirá.O pai olhou-o com indulgência.— Claro, tens toda a razão. — Voltou-se de novo para Thom<strong>as</strong>. —Parto amanhã para a Sicília com seis galer<strong>as</strong> em escolta a quatro galeões,que levam os primeiros <strong>do</strong>is mil homens para estabelecer a minha b<strong>as</strong>ede operações. De lá seguirei para Malta, para conferenciar com La Valette.Tenho to<strong>do</strong> o prazer em vos oferecer, e ao vosso escudeiro, lugares no meunavio-almirante.— Senhor, aceitamos de bom gra<strong>do</strong> a vossa generosidade.— Nesse c<strong>as</strong>o, peço-vos para estardes a bor<strong>do</strong> pela alvorada. Partiremosde imediato. — Don Garcia levantou-se da cadeira, e os outros imitaram-no.— Por agora, tereis de me per<strong>do</strong>ar. Há ainda muitos detalhes a tratar.Fadrique tratará de vos arranjar aposentos adequa<strong>do</strong>s aqui na cidadela,e levará os vossos cavalos para os estábulos.— Não são meus, são propriedade real, foram-nos empresta<strong>do</strong>s pelocapitão <strong>do</strong> porto de Bilbau.— Nesse c<strong>as</strong>o, serão incorpora<strong>do</strong>s no meu exército. Por agora desejo-vosum bom dia, senhores. Façam-me o obséquio de concluir a vossarefeição e de descansarem. Fadrique, vem comigo!Apesar <strong>do</strong> seu volume, Don Garcia movia-se com grande energia, eaf<strong>as</strong>tou-se a p<strong>as</strong>sos largos, com o filho a apressar-se para o seguir. A portafechou-se n<strong>as</strong> cost<strong>as</strong> de ambos, e os p<strong>as</strong>sos desvaneceram-se à distância.Richard puxou o prato para si e recomeçou a comer imediatamente, antesde se interromper.— As noss<strong>as</strong> hipóteses não parecem propriamente agradáveis.Thom<strong>as</strong> encolheu os ombros.— Foi sempre <strong>as</strong>sim para a Ordem. Ao longo de toda a sua história.— O ideal heroico — considerou Richard. — Ou talvez apen<strong>as</strong> umaforma de adicionar uma <strong>do</strong>se de glória a uma compulsão suicida.— Cala a boca. Não sabes o que dizes. Os homens da Ordem juraram103
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— Sim, senhor — esclareceu Thom
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Um estrondo soou de repente, e Thom
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to, e ouviu-se um estalo quando uma
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Um movimento atraiu-lhe o olhar, pe
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equipagem de um dos canhões. Thoma
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avançou, atacando o pique e fazend
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tendão dos seus braços, continuou
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Thomas anuiu.— Senhor, compreendo
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Alguns limitaram-se a tombar e chor
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sentado no convés. Thomas contempl
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Stokely espreitou para a escotilha.
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Uma mudança de ideias, ou outra ca
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desespero e angústia enquanto as t
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— Pergunto-me se será esse o cas
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— Como vos atreveis? — lançou
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