Richard rangeu os dentes.— Sim, eu sabia.— Ó <strong>do</strong> convés! — gritou o vigia. — Avisto mais vel<strong>as</strong>. Três… Não, sãocinco, ou mais. Parecem galer<strong>as</strong>… Sim, estou certo disso.— Vem. — Thom<strong>as</strong> puxou pela manga <strong>do</strong> escudeiro e juntos subiramuma pequena escada para se juntar ao grupo de oficiais que rodeava DonGarcia.O capitão tinha deixa<strong>do</strong> a amurada e dirigia-se ao comandante da frota.— Corsários, senhor.— É pouco provável — protestou Fadrique. — Se o fossem, porquese aproximariam vin<strong>do</strong>s de norte? Os covis dess<strong>as</strong> ignóbeis criatur<strong>as</strong> situam-sena costa africana, a sul.— Estão <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> vento, senhor — explicou o capitão. Em tempos,Thom<strong>as</strong> falara espanhol com fluência, e agora estava a recuperar rapidamenteo uso da língua; apercebeu-se de que conseguia seguir a troca deargumentos sem dificuldade. O capitão prosseguia. — Estão em vantagemsobre nós. Muito provavelmente seguem-nos já há vários di<strong>as</strong>, e rumarama norte para ganhar essa vantagem <strong>do</strong> vento. — Deu atenção a Don Garcia.— Meu senhor, quais são <strong>as</strong> voss<strong>as</strong> ordens?O comandante espanhol p<strong>as</strong>sou a vista pel<strong>as</strong> embarcações que compunhama sua flotilha. As galer<strong>as</strong> formavam um cordão disperso em torno<strong>do</strong>s galeões, que seguiam ao centro. Os grandes navios estavam apinha<strong>do</strong>sde solda<strong>do</strong>s com <strong>as</strong> su<strong>as</strong> arm<strong>as</strong> e outro equipamento. Seriam presa fácilpara qualquer galera corsária que conseguisse p<strong>as</strong>sar por entre os naviosde escolta.— Temos de proteger os galeões a to<strong>do</strong> o custo — anunciou Don Garcia—, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> princípio de que são navios inimigos. Não quero correrquaisquer riscos. Capitão, dê ordens para que os homens ocupem os postosde combate, e transmita ess<strong>as</strong> ordens às outr<strong>as</strong> embarcações, por favor.— Sim, senhor.No instante seguinte o tambor que seguia no convés principal começoua fazer soar um ritmo frenético, e os solda<strong>do</strong>s apressaram-se a colocararmadur<strong>as</strong> e elmos e a preparar <strong>as</strong> arm<strong>as</strong>, enquanto os marinheiros trepavampelo cordame e se espalhavam pel<strong>as</strong> verg<strong>as</strong>, à espera da ordem pararecolher <strong>as</strong> vel<strong>as</strong>. Da coberta vinha o som <strong>do</strong> chicote a estalar e <strong>do</strong> gemerd<strong>as</strong> madeir<strong>as</strong> quan<strong>do</strong> os remos foram inseri<strong>do</strong>s n<strong>as</strong> su<strong>as</strong> abertur<strong>as</strong> e se projetaramnos flancos <strong>do</strong> navio de Don Garcia. Thom<strong>as</strong> sentiu o pulso a acelerarperante os sons e a movimentação, e até perante o o<strong>do</strong>r que vinha delá de baixo. Velh<strong>as</strong> memóri<strong>as</strong> e sensações foram despertad<strong>as</strong> no seu íntimo,enquanto a galera se preparava para a batalha. Virou-se para Richard.— Traz-me a couraça, o elmo e a espada. E equipa-te também. — Ri-106
chard <strong>as</strong>sentiu e apressou-se a descer ao porão, onde a bagagem tinha si<strong>do</strong>colocada durante a viagem.Entretanto fora iça<strong>do</strong> no m<strong>as</strong>tro um longo estandarte vermelho e <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>,que agora dançava ao vento. Pouco depois também <strong>as</strong> outr<strong>as</strong> galer<strong>as</strong>içavam <strong>as</strong> su<strong>as</strong> flâmul<strong>as</strong>, e o som de tambores espalhava-se sobre <strong>as</strong> vag<strong>as</strong>enquanto to<strong>do</strong>s se aprontavam para o combate.— Ó <strong>do</strong> convés!Os oficiais na ré olharam para cima ao escutarem o apelo, e notaramque agora o vigia apontava para o sul.— Mais vel<strong>as</strong>! Pelo menos um<strong>as</strong> cinco galer<strong>as</strong>.— Quantos navios a norte? — quis saber o capitão.O vigia ro<strong>do</strong>piou rapidamente e fixou o olhar antes de responder.— Seis, senhor! Já os avisto sem dificuldade. Vejo os c<strong>as</strong>cos.— Consegues distinguir que cores ostentam?— Ainda não, senhor.— Será que não são os nossos alia<strong>do</strong>s? — supôs Fadrique. — Genoveses,talvez?O pai abanou a cabeça.— Não aqui, tão a ocidente. O encontro está combina<strong>do</strong> na Sicília.Qu<strong>as</strong>e seguramente que se trata <strong>do</strong> inimigo. Corsários da costa da Barbária.— Concor<strong>do</strong> — disse Thom<strong>as</strong>. — É uma emboscada clássica, DonGarcia. Já vi este cenário muit<strong>as</strong> vezes.— Do ponto de vista <strong>do</strong> caça<strong>do</strong>r, calculo.— É verdade. Quan<strong>do</strong> <strong>as</strong> galer<strong>as</strong> da Ordem operavam em conjunto,era <strong>as</strong>sim que procediam. Suspeito que o inimigo aprendeu <strong>as</strong> noss<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong>.Aliás, os corsários e os homens da Ordem são semelhantes em muit<strong>as</strong>cois<strong>as</strong>.— Exceto pelo facto de a Ordem ser abençoada pela Igreja de Roma.— Tal como os pirat<strong>as</strong> muçulmanos são abençoa<strong>do</strong>s pelos imãs da suafé, senhor. No fim de cont<strong>as</strong>, ou somos to<strong>do</strong>s guerreiros sagra<strong>do</strong>s, ou to<strong>do</strong>ssomos simples pirat<strong>as</strong>.Don Garcia franziu o cenho.— Uma opinião profundamente perturba<strong>do</strong>ra, Sir Thom<strong>as</strong>. Não meapetece pensar no inimigo, no inimigo <strong>do</strong> único Deus verdadeiro, de talforma. Gostaria que não voltásseis a usar tais termos na minha presença.— Assim será, Don Garcia.— Aquilo de que quero ouvir-vos falar é da tática que empregam. Tendesalguma experiência quanto a isso, bem mais <strong>do</strong> que eu. Como irão elestentar derrotar-nos?Thom<strong>as</strong> fez uma pausa para pensar, projetan<strong>do</strong> mentalmente <strong>as</strong> posiçõesd<strong>as</strong> três forç<strong>as</strong> e toman<strong>do</strong> em conta a direção <strong>do</strong> vento.107
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— Sim, senhor — esclareceu Thom
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to, e ouviu-se um estalo quando uma
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Thomas anuiu.— Senhor, compreendo
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Alguns limitaram-se a tombar e chor
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sentado no convés. Thomas contempl
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Stokely espreitou para a escotilha.
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Uma mudança de ideias, ou outra ca
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desespero e angústia enquanto as t
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— Pergunto-me se será esse o cas
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— Como vos atreveis? — lançou
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leveza. Tinha já alguns traços de
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De tempos a tempos alguns amigos do
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